Eclético Parte I

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Com todas as passageiras no banco de trás, Ino respirou fundo e fez uma prece:

― Senhor, meu Deus e meu pai. Diante da tua presença, peço que nos leve e nos traga em segurança. Que as meninas nesse carro não me venham dando PT no final da noite, pois, se isso acontecer, vou fazer a sobriedade bater com o azeite ungido que está guardado no porta-luvas. ― ouvindo o ruído de risinhos, completou. ― Se elas estão duvidando, ó pai, que toda a justiça caía por terra e as ensine que ninguém pode com o azeite ungido pela tua graça, nem mesmo a cachaça. Amém! 

― Precisa disso toda vez? ― o sorrisinho debochado de Hinata dava indícios a Ino que essa, provavelmente, seria uma das que provaria do azeite no final do rolê. 

― Se tá achando ruim, pega carona na minivan do Shino que tem cheiro de consultório de dentista ― rebateu a loira.

― Oxe, mulher! O Shino é dentista. ― Sakura lembrou.

― Eu nunca vi dentista ter carro cheirando a consultório de dentista. ― Karin observou.

― É um fenômeno que ninguém sabe explicar. ― Ino deu de ombros. 

Depois de conferir se as passageiras estavam usando cinto de segurança, Ino engatou a primeira marcha e suspendeu o freio de mão. Respirando fundo, acelerou e moveu o câmbio manual mais uma vez. Cada detalhe recebia a atenção merecida, e os ouvidos da loira ignoravam sem dificuldade a conversa paralela das garotas no banco de trás; por isso havia solicitado que o assento dianteiro ficasse livre de passageiros. Aquela não era uma das primeiras vezes que Ino dirigia; poderia ser considerada uma condutora experiente, inclusive. Mas ter visto de perto o que um acidente de trânsito pode fazer com a vida de alguém se tornou motivo suficiente para não querer correr o risco de provocar um. Sendo assim, além de dirigir com total responsabilidade, Ino se oferecia como motorista nas noites de bebedeira das amigas, pois não queria que nada de ruim acontecesse com elas como um dia já havia acontecido. 

Quando parou num semáforo, Ino olhou para as garotas pelo retrovisor. Por mais que Sakura e Karin falassem pelos cotovelos, Hinata permanecia em silêncio. Os braços cruzados e a cara de bunda não pareciam ser bom sinal, visto que a morena aceitou o convite de bom grado e ainda pareceu bem animada para curtir a noite com os amigos no Eclético, a boate LGBT mais legal de Konoha. Apesar do mal pressentimento, entregou nas mãos de Deus e seguiu o trajeto. 

Os sussurros e risinhos progrediram, assim como o semblante antipático de Hinata. Vizinho ao seu, o corpo de Sakura tremia com a gargalhada que tinha como origem um chamego no pescoço e algo bobo dito ao pé do ouvido. Então Hinata endireitou o corpo; se olhar pela janela e fazer cara feia não estava oferecendo a dosagem de simancol que o casalzinho meloso precisava, parou com a abordagem sutil e deu uma longa encarada nas duas. O priminho Neji poderia ser um bom confeiteiro, mas produzir uma perfeita Torta de Climão era uma especialidade única de Hinata. 

― Do que vocês riem tanto? 

Notando o nítido clima de peido em elevador, Ino respirou fundo e cantarolou baixinho "Segura na mão de Deus e vai". 

― Nada, não ― respondeu Sakura com um visível rubor no rosto, mas um humor persistente nos lábios. 

― Seu cabelo tá um arraso! ― Karin comentou com um sorrisinho amarelo, dividindo o olhar constrangido entre Hinata e a namorada. 

― Obrigada, amor! 

Com a cabeça voltada para a janela, revirou os olhos e apertou os dentes. Ao invés de fazer mistério, Ino deveria ter dito de uma vez que Sakura estava namorando uma das garotas mais babacas de Konoha. Se soubesse a verdade de antemão, teria sido poupada de dividir o mesmo ar com uma criatura tão ridícula. De cabeça quente, Hinata sentiu a exata indignação frente a um absurdo que o Chef Jacquin sentiu em seu programa de TV. Bateu uma súbita vontade de virar para as três e dizer "Vocês estão brincando comigo? É uma pegadinha?". Apesar disso, resolveu se deter; o que não era muito típico dela, mas tinha feito um acordo consigo mesma há um tempo; Hinata queria mudar, e para melhor. Respirou fundo e tentou aquietar os ânimos. 

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