Retorno

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Quando se acomodou na sala indicada pela recepcionista, Sakura estendeu no colo o casaco verde limão. Aquela era a primeira manutenção, antecedida de dois inconvenientes adiamentos, desde que a prótese fora acoplada ao membro amputado da moça. De fato, tinha-se a Robotic Body como uma empresa séria, que mandaria uma notificação dispensando os testadores do projeto se esse fosse o caso, mas Sakura não conseguiu manter a calma sobre tal assunto. Por mais que o aparelho estivesse em sua vida há tão pouco tempo, já estava habituada às facilidades oferecidas por este e não queria ter de renunciar esse serviço.

Como a Haruno poderia perguntar ao técnico se estava sendo chutada sem parecer dramática? Afinal, era uma empresa adiando uma manutenção, e não um contatinho que visualiza a mensagem e não responde.

Tamanho era o nervoso sobre a possibilidade de ruptura com a Robotic Body que a questão de Karin havia sido esquecida no churrasco. Se parasse para analisar, arrancar os cabelos por causa do braço mecânico, ao invés de perder tempo chorando pela Uzumaki, era uma benção. Por que deveria se dar ao trabalho de lembrar daquela fuça escrota, afinal?

Apesar de não ter ocupado o tempo com um soluço sequer, a Haruno meditou a respeito da noite no Eclético e da agressão por parte da ex-namorada. O hematoma resultante do puxão já havia desaparecido. E o trabalho do técnico era justamente avaliar a situação da máquina em seu antebraço. Isto é, Sakura tinha zero motivos para narrar uma situação tão degradante para uma pessoa que mal conhecia — mesmo que pudesse facilitar o trabalho alheio.

― Só preciso manter a cabeça no lugar. ― ela cochichou para si mesma.

O técnico não demorou a aparecer. Alto, sobrancelhas grossas, tinha o corpo envolto do jaleco da Robotic Body e as rédeas de uma maleta com rodinhas em uma das mãos. Sakura o encarou bem, de cima a baixo. O moço mais parecia uma geladeira frost free com duas portas e painel digital, tão robusto que os botões da camisa social branca estavam começando a pedir arrego.

― Boa tarde. ― o técnico a cumprimentou com um sorriso de orelha a orelha.

― Boa tarde, moço...

Ciente de que estava transparecendo medo, Sakura tentou se organizar mais uma vez.

― Meu nome é Rock Lee, muito prazer.

Ele ofereceu a mão recém-liberta da maleta, e Sakura aceitou o cumprimento, involuntariamente moveu para frente o braço sintético.

― Igualmente.

O breve contato visual se desmanchou quando Lee voltou a vista para o tablet e Sakura voltou o olhar para uma pequena mesa de centro cujo único objetivo parecia ser abrigar uma logomarca em formato de escultura. Se fosse resistente e pesasse pelo menos um quilo, já serviria como instrumento de defesa ― Sakura nunca ficava sozinha com um homem sem antes ter um plano de como matá-lo, caso fosse necessário.

― Senhora Haruno, 15 horas. ― ele leu a informação que constava em sua tela. ― Confere?

― Isso mesmo. ― ela confirmou nervosa, apesar de ainda empenhar esforços para soar descontraída. ― Mas me chama de Sakura. Não acho que tenho idade pra ser chamada de senhora ainda.

― Parece a nova supervisora da gente. ― ele riu. ― Mas ela vai mais longe e diz que "senhora tá no céu".

A Haruno retribuiu o bom humor do técnico com um risinho social; nem muito falso e nem muito adorável. Com a experiência que tinha, a moça sabia que ser muito simpática com estranhos não era a melhor das ideias.

― Ah, sim. Essa supervisora vai falar com você daqui a pouco. ― o rapaz acrescentou assim que depositou o tablet na bancada, movendo a maleta, logo em seguida, para cima dessa. ― A gente pode adiantar o processo e ir desmontando a prótese?

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