Eclético Parte II

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Por mais que os passos dados fossem firmes, Hinata sentia algo trincar dentro de si. Mesmo que tudo começasse bem, acabava mal. Ela fazia acabar mal. A acusação de Sakura havia contribuído, de fato, mas o compromisso de Hinata para consigo mesma deveria ser mais persistente. Por um momento, arrependeu-se de ter saído de casa. Desde que cruzou a porta, Hinata não parava de sentir culpa por estar falhando tantas vezes em tão pouco tempo. 

― Calma, Hinata. Respira. ― ela disse para si, apesar do tremor que se alastrava por todos os membros. ― Encontre o Sasuke e faça essa noite valer a pena. Faça com que uma pessoa, pelo menos, não te veja como uma antipática do caralho. Tenta ficar de boa pelo menos uma vez na vida. 

Com uma lenta e dolorosa tragada de ar, Hinata forjou um sorriso e se aproximou dos amigos no bar. Shino e Kiba mantinham um diálogo como pessoas normais. Sasuke, no entanto, se concentrava no rosto do barman enquanto lambia o gargalo da long neck. Se o tirasse para dançar, o Uchiha acabaria perdendo a oportunidade de continuar o flerte, mas terminaria agradecendo-a por interromper tal pagação de mico. 

― Quer uma bebida, Hina? ― Kiba ofereceu, risonho. ― Hoje a gente tá pagando tudo. 

― Eita! O consultório tá bom, hein? 

― Comemorando a chegada do bebê. ― justificou Shino. 

― E o Sasuke paquerando o barman?

― Tá com defeito no gaydar. ― Kiba deu de ombros. ― Esse barman é hétero. 

― Misericórdia. ― murmurou a Hyuuga. ― Ei, Sasuke! Vamos dançar? 

Finalizando o flerte com uma piscadinha, Sasuke deixou a garrafa de cerveja no balcão com o número de telefone anotado num guardanapo. Projetou um telefone com o polegar e o dedo mínimo, encostou na orelha e moveu os lábios com os dizeres "Me liga, gostoso". Com o peito cheio de vergonha alheia, Hinata teve os ombros abraçados por Sasuke, que depositou um beijo na bochecha pálida e a guiou para a animada pista de dança, que sacudia ao som de Raça Negra. 

― Pensei que tivesse desistido de vir. ― ele fez um bico ofendido, mas Hinata apenas sacudiu a cabeça. Sasuke era o especialista na arte de fazer drama. 

― Ah, tá. Você acha que é fácil entrar nesse vestido? 

― Mas tá cheia de glamour. ― elogiou. O sorriso de Hinata, porém, logo se desfez com a pergunta que seguiu. ― E o Neji? 

― Sério que você tá me perguntando dele?

― Ué ― disse o Uchiha ao dar de ombros. ― Perguntar não ofende. 

― Pergunte a outro. ― respondeu ela, ríspida. Sem muita delicadeza, tirou o braço do Uchiha de si e o deixou à própria sorte. 

― Ah, não, Hina! ― choramingou o moreno. ― Você sabe que eu tenho a necessidade de tentar juntar vocês dois. 

Por um momento, a declaração de Sasuke soou terrivelmente estranha, causando um arrepio mórbido. Hinata sentiu a pele gelar, como se estivesse vulnerável demais a um ataque de predador. Abraçou a si mesma na tentativa de se proteger. O lance com o Senhor Uchiha, que tanto bem a fez em noites difíceis, tinha se transformado em um segredinho sujo e incestuoso. E mesmo que as coisas já não estivessem tão ruins quanto antes, visto que a moça havia tomado uma decisão sobre o que faria a respeito, ainda cultivava sensações ruins quando recordava de algumas noites na web cam; como Hinata não havia percebido que era Neji ao invés de um gostosão boa pinta? O Senhor Uchiha, vira e mexe, usava uma camiseta ridícula dos Ramones. Além de Neji, quem ainda usa camiseta dos Ramones em Konoha? Definitivamente ela tinha dormido no ponto. Talvez a carência tivesse falado tão alto que acabou ofuscando os outros sentidos. 

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