II - Primeiro olhar

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Acordei às 07:00. Sou professora de biologia em uma escola perto da minha casa, então posso me dar ao luxo de acordar um pouco mais tarde que os meus colegas. Nesse dia, a minha primeira aula era só às 08:00. Levantei da cama, tomei banho, terminei de me arrumar e fui andando até a escola. Eu morava em um lugar bem tranquilo e conhecia várias pessoas, então era seguro caminhar 15 minutos até o meu local de trabalho. Eu não tinha tanto tempo para praticar exercícios físicos, então considerava aquela caminhada bem importante.

Enfim, nesse caminho, tudo era sempre igual. Eu comprava um café e um bolinho na padaria e continuava o meu trajeto até a escola. Porém, em um certo dia, tudo mudou.

Eu estava andando com os olhos na rua, observando os carros, ouvindo música e, de repente, eu vi ela. Lauren caminhava na minha direção e parecia distraída com tudo ao seu redor, assim como eu estava há segundos atrás antes de colocar os meus olhos nela. De primeira, já achei ela muito bonita. Seus cabelos estavam soltos e ela os ajeitava quando caiam sobre o seu rosto. Ela usava uma blusa de moletom e uma calça jeans rasgada. Para completar o look, usava um all star preto. Não sei como explicar, mas fiquei encantada por aquela mulher. Eu já tinha feito aquele caminho várias vezes e nunca tinha a visto. Queria ficar observando ela por mais tempo, mas desviei o olhar para não parecer que eu estava olhando demais, como se eu estivesse a perseguindo ou algo do tipo.

Porém, quando ela estava perto de mim, não pude evitar e a olhei outra vez. Ela também me olhou rapidamente e o meu coração disparou. Os olhos dela eram lindos demais e eu queria ver de mais perto. Loucura, eu sei. Nem eu entendia aqueles desejos repentinos com uma desconhecida. Eu queria pará-la e perguntar o seu nome, mas algo de racional dentro de mim resolveu tomar conta e me impediu de prosseguir com os meus instintos. Então, eu a vi passar por mim. O perfume dela deixou um rastro no caminho e eu até respirei fundo para senti-lo por mais tempo. Sério, eu amei aquele cheiro.

Pensei que seria a última vez que eu a veria, então olhei para trás para captar o máximo de movimentos daquela mulher para guardar na minha memória. O jeito que ela andava era tão... não sei nem como definir. Sortuda do jeito que sou, fiquei com medo que ela olhasse para trás e me visse naquela situação de deslumbramento. Então, olhei para frente e me obriguei a controlar aquela vontade de virar outra vez. Eu não podia nutrir algo tão impossível daquele jeito, certo? Então, tentei seguir a minha vida e a minha rotina.

Cheguei na escola, cumprimentei os meus colegas e fui até a minha sala. Minha primeira turma era uma do ensino médio. Os alunos eram incríveis. Era tão bom quando eles queriam conversar comigo, sobre biologia ou sobre qualquer coisa da vida. Mais do que professora, eu também queria ser uma amiga para eles. Posso dizer que consegui.

Dei as minhas cinco aulas da manhã e fui para o horário de almoço com Chloe, a professora de história. Nós éramos grandes amigas desde o dia em que pisei naquela escola. Entrei um ano depois dela e, desde então, não nos desgrudamos. Enfim, fomos em um restaurante, almoçamos, conversamos. Ela me contou sobre como estava a sua vida amorosa e parecia estar tudo maravilhoso para ela. Eu ouvia tudo tentando não desanimar a minha amiga, já que eu não acreditava tanto no amor e em todo aquele sentimento. Isso tudo por conta de uma característica comum em todos os relacionamentos que eu tive: o fracasso. Já fui traída, já me disseram que eu não era suficiente e tudo de pior que você possa imaginar. Talvez todo esse fracasso fosse culpa minha. Talvez eu só estivesse focada demais no meu trabalho, no meu crescimento profissional e as pessoas com quem eu me relacionei não me apoiavam o suficiente. Então, decidi me fechar para o amor e seguir a vida sozinha. Eu estava tão bem daquele jeito.

Terminamos os nossos pratos e voltamos para a escola. Minha rotina seguiu normal, como sempre. Dei mais seis aulas e voltei para casa, naquele mesmo caminho de sempre.

Durante todo o trajeto, não pude evitar de pensar naquela mulher que cruzou o meu caminho. Ela passou super rápido por mim, mas o que eu senti foi algo que até hoje eu não entendo e não sei explicar. Só sabia que queria e precisava vê-la mais vezes. "Como?", pensei. Eu nunca tinha visto ela em lugar algum. Balancei a cabeça para tentar afastar esse pensamento. Eu não podia ficar pensando tanto em alguém que provavelmente eu nunca mais veria de novo, não é? Bom, ainda bem que o impossível aconteceu.

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