Sempre gostei muito de escrever sobre alguns medos da minha vida mas nunca entendi o porque desses medos existirem. Minha cabeça é muito complicada mas entendo que tudo isso um dia irá passar.
Será se realmente vai?
-Matheus, vai se atrasar para a escola - Grita minha mãe do outro lado do corredor. Seu quarto era no final do mesmo, porém a acústica dessa casa era tão peculiar que eu escutava ela gritando no pé do meu ouvido.
Olho fixamente para o despertador do lado da minha cama e percebo o meu atraso rotineiro quando se trata de escola. O relógio marcava 7:02 da manhã e minha primeira aula do último ano do colégio começava em exatos 28 minutos. Isso me preocupava? Não mesmo, esse ano é só mais um como outro qualquer, porém preocupava a dona Verônica, que no caso é a minha mãe mesmo.
-Matheus, vamos logo que vou te dar carona até a escola- Respondo com a minha cabeça fazendo um gesto de aceitação e sigo até o banheiro, onde começo toda a arrumação matinal. A mesma coisa de sempre, banho, roupa, escova de dentes, pasta e, por fim, a roupa. Pego minha mochila e desço as escadas como se fosse um zumbi. Decido não comer nada pelo horário e vou direto para o carro, onde minha mãe já está me esperando para simplesmente quando eu fechar aquela porta ela me dar um peteleco na orelha e arrancar com o carro.
No caminho para a escola eu sempre observo as pessoas andando na rua com seus fones de ouvido e fico tentando imaginar qual música eles estão escutando, e discuto isso com a minha mãe. De repente paramos em um sinal vermelho.
- Mãe, vamos lá, olha aquela mulher andando com seu cachorro na calçada, qual música você acha que ela está escutando?- digo enquanto minha expressão de calma muda para uma de confusão.
- Com certeza ela está escutando Elvis, Theo - Toda vez que minha mãe me chama por esse apelido eu me sentia um bebê de novo, por isso acabo deixando escapar uma risada.
- Mãe, Elvis é tão antigo que se bobear nem tem nas plataformas digitais, eu por outro lado acho que ela está escutando Lady Gaga
- Só tem uma forma de descobrirmos - ela solta uma gargalhada, abaixa o vidro e grita para a mulher que estava na calçada- Garota, qual música você tá ouvindo aí?
A garota completamente envergonhada e confusa grita de volta- To escutando Elvis, minha senhora- e corre com seu cachorro para uma rua contrária onde estava indo.
- Rá, viu o que eu disse? Leio muito bem as pessoas- ela faz uns movimentos com a mão como se tivesse poderes psíquicos.
Eu respondo, rindo - Mãe, você percebeu que ela te chamou de senhora né?
- Senhora é a cachorra dela, eu sou muito nova - E depois de dizer isso joga seus cabelos como uma modelo.
Minha mãe é linda mesmo.
- Bom, Theo. Chegamos, meu filho. Tenha um dia incrível na escola- agradeço com o olhar e deixo um beijo na bochecha da minha mãe.
Deixo o carro rapidamente e ando até os corredores da enorme escola que estudo desde que me entendo por gente, armário igual, 240, deixo meu material desnecessário dentro dele e sigo até a sala 302 que é onde meu último ano letivo começa.
Entrando na sala já de cara vejo Alice, minha melhor amiga, essa garota me conhece como ninguém.
-MATHEUS FINALMENTE, SENTA AQUI LOGO- Diz ela gritando e me puxando para a cadeira ao lado dela- Obrigado por chegar não aguentava mais olhar pra essa gente nova que eu não faço ideia de como começar um diálogo e talvez nem queira.
- Calma, meu amor, cheguei para salvar seu dia- Disse já com um sorriso no rosto.
-Que salvar o que eu só queria que tu chegasse logo pra gente contar as fofocas das férias, nem te conto quem pegou o Cláudio semana passada. Simplesmente a Sara. Ele me trocou pela Sara. - Quando essa garota abre a boca é pra contar as coisas e eu sempre acabo gargalhando com cada palavra.
- Ai, Alice só você mesmo para já começar esse ano me atualizando de todas as fofocas - Quando vejo minhas outras amigas, Isa e Paula.
- Hi pessoal- Chega Isa com suas novas tranças que ela tinha acabado de colocar.
- Nossa que linda- Eu e Alice dizemos em uníssono e de repente o professor entra na sala e pede para já começarmos as anotações, ano de vestibular é foda.
Entre aulas e aulas o intervalo finalmente chega e como de costume esqueci de trazer algo para comer, sorte minha que sempre trago dinheiro de emergência para comprar alguma coisa na cantina. Sento na mesa com as meninas e botamos todos os papos em dia sobre as férias.
Depois de ficarmos o intervalo todo conversando e até um tempinho a mais que decidimos pular de química que era a matéria seguinte, fomos para a aula e eu percebo que tinha deixado meu celular dentro da mochila. Começo algumas anotações de química, mesmo sabendo que nada daquilo iria entrar na minha cabeça. Então, recebo um papel da Isa falando para a gente jogar jogo da velha.
-No meio da aula, garota?- Eu tento dizer baixo sem rir e ela começa a gargalhar quando vê que a Alice tinha dormido na mesa da frente. Quando finalmente o tempo da professora Raissa está acabando eu pego meu celular na mochila.
-Nossa gente um número desconhecido me ligou dezesseis vezes em menos de 10 minutos- digo com um ar preocupado.
- Nossa, gay. Essas férias renderam contatinhos?- Disse Isa.
Queria que fosse, quando o número ligou de novo eu atendi.
Matheus? É o Matheus que tá falando?
-Sim quem é? -digo confuso
Aqui é do hospital Santa Marta e precisamos de você aqui pois sua mãe se acidentou hoje de tarde e sinto lhe informar que ela está em um coma.
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Até quando?
RomanceMatheus se acostumou com sua rotina, seus amigos e sua casa. Porém, o que o mesmo não sabe é que de repente, tudo vira do avesso e o medo do amanhã passa a ser recorrente. O garoto, de apenas 17 anos terá que entender como é viver em um mundo comple...