Em um susto, viro para o garoto que se encontra sentado em baixo da água que caía do chuveiro. Estava mais uma vez tentando ser amigável comigo? Ou apenas tentando me fazer menos mal para depois me machucar de novo? Talvez me arrependa disso depois mas encostando as minhas costas na parede contrária ao box.
O garoto não para de me observar, e de repente seus olhos ficam muito vermelhos e ele cai em choro. Fazendo com que seus braços escondam seu rosto. Isso quebra meu coração, qualquer pessoa chorando me machuca. Chego um pouco mais para frente e pergunto o que está havendo com ele? Por que ele não consegue ser feliz?
- Matheus, desde o acidente da sua mãe. Até mesmo um pouco antes, meu pai já sabia da sua existência. Só que sua mãe decidiu sumir do mapa para que ele não a encontrasse. Nunca entendi a briga dele, mas ele sempre tentou ter contato com você, dizia que iríamos ser muito amigos e que você iria amar a Sophia. Mas isso acabou fazendo com que toda atenção que ele tinha em mim e na minha irmã se voltasse completamente para você. Meu corpo não aguentou isso e eu fiquei com muita raiva do meu pai, então, resolvi descontar em você- ele diz com um tom de arrependimento, mesmo que eu não acreditasse muito nele, eu percebia seu desespero para chamar a atenção de Danilo a qualquer custo- sabe, Matheus, no dia que ele foi te buscar no hospital. Aquele dia era meu campeonato de basquete, ele não foi, e eu chorei o dia inteiro em casa enquanto você não chegava. E choro até hoje.
O garoto que antes chorava agora desligava a água e voltava a se sentar no chão, tirando sua blusa e calça, ficando apenas de cueca. Ele tremia de frio então eu entrego a ele uma toalha que estava em cima da pia. O garoto se enrola nela e continua a me olhar. A única coisa que meu corpo consegue expressar é tristeza. Eu não queria que ele se sentisse assim.
- Lucas, eu não sabia que isso tinha acontecido, e juro, que se eu pudesse mudar alguma coisa sobre eu mudaria. Mas não foi minha culpa, eu não queria que nada disso tivesse acontecido. Eu só queria poder ter conhecido vocês de outra forma. Mas sabe, eu tenho que começar a olhar as coisas por um olhar positivo. Seu pai me salvou, sem ele, eu não teria onde ficar, dinheiro para me sustentar e provavelmente acabaria em algum orfanato. E sabe, conheci pessoas muito legais nesse tempo que estive aqui. Sua irmã é a garotinha mais doce e incrível que eu conheço, amaria que ela fosse minha irmã. E ela sente sua falta, ela disse pra mim. - digo isso enquanto abaixo minha cabeça. Pensando. - sabe, Lucas, eu não vejo mais por que ficar aqui, eu só quero estar em paz, ficar feliz, por que tá tudo acontecendo de ruim. Eu vou ver com seu pai se entramos em um acordo para que eu more sozinho- levanto do chão e ando até a porta do banheiro- eu queria muito que fosse diferente.
O garoto nitidamente não esperava essa reação minha. Bato a porta do banheiro e sigo para o meu quarto, lá, vou até o meu chuveiro e tomo um longo banho. Pensando em tudo que havia acontecido no dia e deixo tudo de ruim ser levado pela água. Ensaboo meu corpo e penso em Bruno, no quão aquele beijo no teatro foi incrível. E aquele sorriso dele me encanta. Queria ter ficado com ele o dia inteiro, talvez eu tivesse me poupado de muita coisa.
Acabo o banho e ponho um pijama bem confortável. Deito na minha cama, pegando o computador e abrindo em uma série de médicos que eu adorava ver. Não se passam nem vinte minutos quando eu caio no sono.
Alguns sonhos me assustam mas esse é rotineiro. Desde a briga eu devo ter tido esse sonho todo mês. E ele sempre me assusta, sempre me dá calafrios.
Estou na escola, caído no chão, muitas pessoas em volta de mim rindo e algumas nem tanto. Talvez a preocupação delas seja maior, mas, em nenhum momento expressam algum sinal de ajuda. Apenas pena.
Meu corpo dói, não sinto minhas pernas e vejo todo material na minha frente jogado no chão. E lá estava ele. Nicolas. Pronto para acertar mais um chute em meu estômago, só que esse foi mais forte, eu sinto cada parte do meu corpo reagir a tamanha dor que o pé dele causa quando encontra minha barriga. O que todos não esperavam é que o sangue começaria a correr pela minha boca e sair como um jato no chão. Minha visão fica turva e a última coisa que consigo ver é o sorriso estampado no rosto de Nicolas Fernandes.
Acordo em um pulo com o barulho do meu celular tocando bem alto. Antes que eu atenda coço meus olhos com o pulso e espero meus olhos se acostumarem com a claridade da manhã. Vou em direção ao aparelho para desligar o despertador. Porém quando vou ver o horário, está trinta minutos mais adiantado que o normal. Então percebo que não era meu despertador tocando, e sim Bruno me ligando. Atendo tentando não expressar tanto sono mas minha voz me entrega.
- Te acordei, bela adormecida?- diz o garoto do outro lado da linha.
- Não, estou acordadíssimo como pode perceber pelo tom da minha voz- escuto o garoto rir do outro lado da linha. - vai, Bruno, me diz o motivo de eu estar sendo acordado essa hora da manhã - minha voz sai bem mais manhosa que o normal.
- Liguei para te dizer que em cinco minutos estou chegando aí, para o senhorzinho colocar o uniforme que eu vou te dar uma carona para a escola. - me assusto com a resposta do garoto.
- Que? Porque? - nessa hora eu confesso que fiquei bem feliz mas não quis expressar.
- Anda, Theo. Para de ser bobo e põe o uniforme. E nem precisa se preocupar com o café da manhã, eu comprei um lanchinho para você na cafeteria aqui perto, beijinhos. - o garoto desliga a ligação.
Eu fico com um sorriso bobo no rosto e percebo que tenho pouco tempo para me arrumar. Como tomei banho ontem antes de dormir não preciso me preocupar muito com isso agora, então, apenas corro com as roupas e um perfume.
Pego minha bolsa e antes que eu possa sair do quarto percebo que tem um post-it colado em minha porta.
"Eu não quero que você vá, e acho que Sophia e Danilo também não. Então, podemos ser amigos?" -L
Sorrio com o bilhete e vejo Lucas em na porta do seu quarto apenas com sua calça de pijama esperando que eu lesse aquele bilhete, sorrio para ele e assinto com a cabeça. Ele solta um leve sorriso de canto e volta para o seu quarto.
Desço as escadas e peço para que o mordomo avise a Danilo que eu fui para a escola com um amigo. Quando abro a porta da casa vejo o carro de Bruno no portão, vou até ele e o garoto vai abaixando o vidro enquanto eu vou na direção dele. Abro a porta e jogo minha mochila no banco de trás. Olho para o garoto que me fita com seus grandes olhos verdes e fico vermelho na hora.
- Sabia que não estava tendo um dia bom ontem então queria começar o seu dia hoje com algo que te faria feliz. -diz ele entregando uma bolsinha de papel com o logo de uma lanchonete na frente. Sorrio para ele e agradeço, abrindo a sacola encontro um sanduíche de queijo e um chá verde. Minha alegria vem na hora.
- Como sabe que gosto de chá? - sorrio para ele e ele passa a mão em minhas bochechas.
- Fiz uma leve pesquisa com um passarinho aí. - ele ri para mim e eu já entendo o que ele quer dizer.
- Foi Mariana né? - digo para ele e o garoto solta uma gargalhada, fazendo um sim com a cabeça.
- Obrigado, Bruno. Eu amei - deixo um beijo na bochecha e percebo sua pele esquentar com a minha aproximação.
- De nada, pequeno. Agora vamos se não vamos nos atrasar para a primeira aula. - ele liga o carro e segue em direção a escola.
No meio do caminho ele põe uma música no rádio e começa a dançar e cantar. Aquela visão era tão fofa e engraçada ao mesmo tempo. Bruno não tinha medo de ser quem ele é, menos ainda perto de mim. Isso me encanta muito. Já que conheço a música, canto junto com ele.
- Você conhece Harry Styles? - ele me olha espantado comigo cantando cada palavrinha da música.
- Eu fui no show dele no Rio de Janeiro. Amo demais! - digo isso é o garoto me dá um selinho- cada dia mais me surpreendendo, Theo.
Meu corpo responde ao selinho com um sorriso bobo e, sem perceber, chegamos a escola. Bruno estaciona seu carro e andamos até o corredor, todos olhando para a gente. Na verdade, todos olhando para mim. Todos devem saber da briga que aconteceu, e ainda mais por que foi por minha causa.
Bruno percebe tudo que está acontecendo e passa seu braço pelo meu ombro, isso me traz uma sensação de proteção absurda. Chegamos na divisão de corredores e eu me despeço do garoto dando um abraço nele, ficando na ponta dos pés para poder alcançar seu pescoço.
Bruno segue em direção a sala do médio artístico e eu ao comum. Quando chego na sala Manuela já está em nossa mesa. Ela sorri em minha direção e parece muito animada, mais do que o normal.
- Então quer dizer que tem dois garotos disputando a atenção do nosso Matheusinho aqui? - ela diz enquanto da uns tapinhas fracos em mim. Eu sorrio e faço que não com a cabeça, não querendo comentar sobre isso.
- Está sabendo o que estão falando de Lucas né? - quando ela diz isso eu fico confuso e curioso ao mesmo tempo- que ele está apaixonado pelo priminho dele. Que também é você. - eu me assusto e digo que eu e Lucas estamos apenas nos resolvendo como amigos.
- Acho que nós dois passamos por situações complicadas, Manu. Eu e ele. Mas eu sei que ele não é uma pessoa tão boa assim, ele me tratou muito mal e eu não sei quando vou poder perdoar ele cem por cento mas até lá não quero que fique um clima ruim na casa dele - digo enquanto percebo que todos estão prestando atenção na aula de Química.
O dia passa e quando percebo a aula não me anima mais. Meu corpo já me impediu de dormir umas três vezes. Peço para ir ao banheiro, quando sou permitido me levando da cadeira e sigo até a porta à esquerda da escada. O lugar é bem limpo e agradável, percebo que está vazio. Pego meu celular e começo a mandar mensagem para Bruno.
- Como está a aula? - pergunto a ele pelo aplicativo.
- Está legal, estamos repassando as falar da peça enquanto a professora de Literatura põe a matéria no quadro, e a sua? - ele termina sua mensagem com uma carinha animada.
- Chata, química. Não suporto ver tantas reações e não entender nada que acontece naquele quadro. É hidrólise, quebra, água que vira outra coisa que não entendi. Aí tem um negocinho que parece um hexágono só que tem tracinhos dentro. Aquilo é mais confuso que minha vida atual, então estou no banheiro pra me distrair um pouco. - eu já término com uma carinha de choro. No momento, Bruno começa a me mandar várias fotos dele com seus amigos no meio da aula.
Sorrio com cada foto que o garoto loiro me manda e eu mando uma minha em frente ao espelho do banheiro.
- Sabia que você é lindo até com esse uniforme feio dessa escola? - digita o garoto.
- Eu acho esse uniforme lindo, essas cores são tão... - antes que eu pudesse terminar de digitar eu escuto o barulho da porta do banheiro abrindo. Uma figura familiar entra e para em minha frente.
- Então quer dizer que você tem um namoradinho agora?
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Até quando?
Storie d'amoreMatheus se acostumou com sua rotina, seus amigos e sua casa. Porém, o que o mesmo não sabe é que de repente, tudo vira do avesso e o medo do amanhã passa a ser recorrente. O garoto, de apenas 17 anos terá que entender como é viver em um mundo comple...