Capitulo 5- A surpresa.

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Depois de ler aquele bilhete percebo que Bruno já havia sumido no meio da multidão de alunos. Continuo o meu caminho até a rua em frente a escola, e tento lembrar o caminho que Danilo fez de manhã até chegarmos a escola de carro. A casa dele não era lá assim tão longe, e realmente no momento eu não me importaria em andar um pouco. Andar sozinho e com meus fones de ouvido me acalmavam, principalmente pois estava passando um vento tão refrescante e calmo. Era como se esse vento passasse por dentro do meu corpo e levasse todas essas preocupações com ele. Eu só conseguia pensar em como aquela brisa batia no meu corpo e gelava minha pele. A sensação de frescor me fazia dar um sorriso.
Avisto a casa no fundo da rua que estávamos e não percebo que passei tanto tempo andando, aquele era talvez o melhor momento do meu dia até agora. Um momento meu comigo mesmo.
Abro a porta da casa com as chaves que Danilo tinha me dado quando cheguei aqui a primeira vez e subo até o meu quarto. Decido anotar tudo que aconteceu hoje no meu caderno de memórias.
Depois de passar um tempinho anotando todas as minhas emoções diárias eu pego meu celular para ver como estão as notícias no mundo, tento o máximo possível distrair a minha cabeça. Minha mente me dá um susto quando lembra do bilhete de Bruno. Abro o aplicativo de mensagens e digito o número do papel.
Estou aqui para te ouvir, Theo.
Bruno escreveu meu nome como minha mãe me chamava. Meu corpo lembra da sensação de saudade.
-Bruno?- digito
-Theo?- recebo logo em seguida.- achei que você nunca ia mandar mensagem.
-Desculpa ter saído às pressas hoje, eu tive uma recaída no meio da aula com todas essas mudanças na minha vi...- antes de eu terminar recebo uma foto dele sorrindo.
- O que acha de nos encontrarmos e você me conta toda essa historia pessoalmente?- digita ele.
- Eu realmente não conheço nada aqui em São Paulo ainda
-Ótimo, me manda sua localização que eu vejo se tem alguma coisa perto de você para fazermos- digita ele e recebo em seguida uma carinha de felicidade.
Mando minha localização a ele e ele me manda uma foto de uma praça bem bonita.
-Essa praça é pertinho da sua casa, põe no mapa e vai até lá. Estarei te esperando lá.
Antes que eu diga qualquer coisa vejo que o garoto não está mais on-line. Faço uma ligação a Danilo e pergunto a ele se posso encontrar com um amigo na praça aqui perto.
Danilo apenas diz que sim e pede para que eu volte cedo que ele tem que conversar comigo.
Desligo a ligação e ponho um short branco com uma blusa azul claro, confesso que quando eu boto essa blusa meus olhos realçam. Consigo vê-los brilharem no espelho. Eu sei que eu tenho os olhos azuis do meu pai, minha mãe já mostrou uma foto dele uma vez quando eu era bem pequeno. Essa cena nunca saiu da minha cabeça, eu tinha seus cabelos negros e os olhos dele. Uma perfeita mistura entre Verônica e meu pai, que nunca soube nem o nome.
Decido não arrumar muito meu cabelo, pelo contrário, os bagunço. Pego minhas coisas e um dinheiro que Danilo deixava para mim na cômoda do meu quarto.
Sigo pelo mapa andando por uns 10 minutos de fone de ouvido. Até que sinto duas mãos tocarem minhas costas, olho para trás e lá estava ele, sem toda aquela roupa de uniforme e com seu cabelo loiro puxado para trás preso com um elástico. Uma blusa de mangas longas e uns botões pretos caia pelo corpo dele junto de uma bermuda cinza. Me assusto com o toque, retiro meus fones e dou um soco leve em seu braço.
- Eu já tenho a pressão baixa e você ainda faz isso comigo, estou começando a achar que você quer me matar e não me escutar- solto uma risada e Bruno ri comigo.
- Desculpa se te assustei, Theo- Toda vez que ele me chamava assim meu coração palpitava lembrando da minha mãe.
- Tá tudo bem, estou acostumado a me assustar fácil.
Finalmente chegamos na praça e Bruno diz para sentarmos em uns bancos perto de um lago. O lugar era bem bonito, tinham uma crianças brincando em um pequeno parque com brinquedos do lado e pessoas andando com seus animais de estimação. O cheiro de grama molhada me encantava, como se alguém tivesse acabado de regar aquele parque inteiro.
-Então vai, me conta, como que Matheus veio parar em São Paulo? Esse sotaque do Rio não tem como esconder - diz ele enquanto solta um sorriso no canto de sua boca.
- Esse ano não começou bem para mim, Bruno. - respiro fundo e começo a contar toda a história- eu morava no Rio de Janeiro com a minha mãe, e, no meu primeiro dia de aula, estava com minhas amigas na aula. Recebi uma ligação dizendo que minha mãe estava em coma, tinha sofrido um acidente de carro. Fui correndo para o hospital e lá fiquei a tarde toda, até que eu descubro que tenho um tio, chamado Danilo. Minha mãe nunca havia me falado dele. Os médicos me disseram que eu não podia ir para casa sozinho porque eu estava sem nenhum responsável então, tive que vir para São Paulo para morar com meu Tio que eu havia acabado de conhecer e seus dois filhos. Deve conhecer um deles, Lucas. O capitão do time de basquete da escola.
- Então deixa eu entender uma coisa, você está morando com o Lucas, e seu tio é o pai dele? O dono da nossa escolar? - pergunta Bruno.
- Sim, Bruno. Eu moro com eles agora, e sério, é muito doloroso, eu acabei de perder minha mãe e tive que mudar minha vida toda- começo a sentir meu rosto esquentar e meus olhos marejarem- eu perdi minha mãe, meus amigos estão longe de mim e eu não sei o que fazer, eu to sozinho aqui e meu emocional está igual a de um bebê. Eu só queria que tudo passasse logo.
Antes que eu pudesse perceber, os braços de Bruno me enlaçam e eu consigo sentir sua respiração, era um abraço muito bom, de quem realmente estava tentando me entender. Eu realmente não queria sair daquele abraço nunca.
Ficamos uns dois minutos inteiros abraçados até que ele me larga.
-Matheus, eu não sei o que você está passando, mas eu quero que saiba que não está sozinho, você tem a mim agora. Confia em mim que vou tentar fazer com que você esqueça um pouco desses problemas.
Eu agradeço com a cabeça e ele limpa meus olhos com as mangas de sua blusa.
- Bom, você está preparado para ter uma noite muito boa?
Fiquei confuso com a pergunta mas assenti com a cabeça.
- A festa de início de ano na escola é hoje e você vai ser meu convidado- diz Bruno sorrindo.
Eu nego e a feição do garoto muda instantaneamente. Não sei se estou com psicológico para ir a uma festa agora, só queria ficar mais um tempo nesse parque com ele. Tudo aqui estava tão incrível.
-Vai, Theo. Eu te prometo que vai ser incrível. Não deixa de ir não, vai estar todo mundo lá.
Penso que talvez Manuela e Helena estarão lá e eu queria muito me redimir por ter saído correndo da mesa hoje no intervalo então com muita insistência eu aceito o convite.
- Antes preciso passar em casa para botar uma roupa mais agradável- digo levantando do banco.
- Tudo bem, eu te encontro na frente da sua casa as 18:30 e a gente vai junto. Mas só para você saber, você está lindo assim. - ele diz isso e me deixa no parque, meu rosto completamente vermelho e envergonhado. Bruno segue em direção a uma rua que não conhecia, deve ser onde ele mora.
Volto a minha casa e vou tomar um banho, deixo a água cair em meu corpo enquanto parece que todas as minhas energias retornam com esse banho revigorante. Saio do banho, dessa vez lembrei de pegar a toalha para não causar outra cena de vergonha alheia.
Escolho uma blusa de manga azul com uma calça jeans skinny preta, meu tênis branco que minha mãe tinha me dado no meu aniversário passado. Quando vou ver no meu celular já são 18:40 e tem seis mensagens de Bruno. Desço as escadas da casa correndo sem alarmar ninguém e encontro com Bruno no portão de casa.
O garoto nos guia até uma casa enorme que ficava a uns 20 minutos andando. Até lá não trocamos muitas palavras mas conseguíamos arrancar umas risadas um do outro algumas vezes. Chegando na festa percebo o alto volume da música e as luzes da casa todas roxas.
Bruno entra primeiro cumprimentando todo mundo e eu atrás apenas acenando para alguns com a cabeça. Logo de cara avisto o grupinho do basquete, e junto deles obviamente estava Lucas. Passo longe deles e recebo um abraço por trás.
-Mateus! Você nos deixou preocupada hoje no intervalo, você está melhor agora?- quando finalmente percebo quem é. Manuela e Mariana estavam lá com seus copos na mão e dançando ao som da música.
-Oi, meninas - falo um pouco gritando por conta da música que estava bela alta- estou melhor sim.
- Vi que você veio com um acompanhante - Manu me dirige um olhar malicioso.
- Não é nada disso - fico vermelho na hora e solto um sorriso.
- Não? Então por que ele tá te olhando tanto e te chamando pra dançar? - não entendo o que ela diz mas quando olho para Bruno o mesmo faz sinal para que eu vá até ele na pista de dança. - toma esse copo aqui e vai até ele. - diz Mariana me entregando um copo que ela diz ter vodka com limão e me empurrando até onde Bruno estava.
- Estava esperando quando que você viria dançar comigo - ele diz sorrindo para mim, enquanto me puxa para dançar.
Eu não sei o que responder e apenas começo a dançar com ele, bebo um gole da banida que Mariana tinha me dado e reagindo ao álcool apertando os olhos.
Bruno solta uma gargalhada e pergunta se está forte. Sem deixar eu responder ele segura meu pulso fazendo com que eu botasse o copo na boca dele para ele beber. Confesso que esse flerte que ele está fazendo comigo está dando certo.
- O que acha de...- antes que ele pudesse terminar a frase eu recebo uma mensagem no celular.
Era Danilo, me perguntando onde eu tava, e dizendo que eu tinha que voltar para casa que ele queria conversar comigo. Como eu podia ter esquecido dele? Não queria causar problemas para Danilo.
- Desculpa, Bruno. Eu tenho que ir- deixo meu copo com ele e saio correndo da festa em direção a casa de Danilo. Chegando lá, um dos mordomos da casa me diz que Danilo me espera no seu escritório.
Tento disfarçar o cheiro de bebida que estava em minha roupa mas não dá certo. Abro a porta do seu escritório e o Danilo está sentado em sua cadeira.
- Que bom que você chegou, Matheus.
- O que você quer conversar comigo, Danilo? Eu fiz algo errado?
- Não, sobrinho. Eu recebi uma ligação do hospital mais cedo e aconteceu uma coisa inesperada.
- É algo da minha mãe?
- Não, infelizmente não. Mas um homem apareceu lá procurando por sua mãe
Ele diz ser seu pai.

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