Capítulo 4- Primeiro dia.

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-aluno novo?
Viro para trás e vejo um menino um pouco mais alto que eu sorrindo para mim. O menino tinha seus cabelos loiros que acabavam em uma cor azul bem clarinho.
-Sim, cheguei hoje- respondo demonstrando dúvida
- Bom, posso ver seu horário? Ali ficam as salas das suas aulas- diz ele enquanto eu entrego meu cronograma para ele- bom, sua sala é nesse corredor mas é no início dele, a gente está no final- indaga ele soltando um risinho leve.
Ele me leva até a minha sala e se apoia na porta- chegamos - agradeço com a cabeça e entro na sala, antes de abrir a porta ele põe o braço na minha frente- posso ao menos saber seu nome?
-Meu nome é Matheus- digo ficando um pouco envergonhado- e eu posso saber o seu?
- Me chamo Bruno - ele diz e se vira em direção ao corredor.
Entro na sala depois desse leve momento de vergonha e de repente todos os olhares das pessoas naquele lugar se viram para mim, algumas pessoas com o olhar de nojo e outras de confusão.
Era uma sala enorme com mesas grandes. Cada mesa era usada por duas pessoas, e todas estava, cheias menos uma, do lado de uma menina de fones de ouvido. Vou andando até a cadeira e pergunto se tem alguém sentado do lado dela. A menina me responde que não, retirando seus fones e perguntando meu nome logo em seguida.
- Eu sou Matheus, e você?- digo olhando a garota que parecia estar animada em conversar comigo.
- Meu nome é Manuela, mas pode me chamar de Manu.
Sorrio de canto e vejo a professora da primeira aula chegando. Uma mulher alta que entra com seus saltos barulhentos é um uniforme impecável, o cheiro do perfume dessa mulher até me enjoa de tão forte que é. Mas ela parece ser amigável.
-Bom alunos, como está no cronograma de vocês agora é a minha aula, filosofia.- ela diz com um tom de animação bem grande- percebo que temos um aluno novo - travo quando ela diz aquilo, o que eu menos queria fazer nessa escola era chamar atenção- poderia se apresentar para nós?
Me levanto lentamente e digo o meu nome em voz alta, percebo certos cochichos na sala e novamente todos os olharem se viram a mim. Me volto a sentar enquanto tento fazer o mínimo de contato visual com qualquer pessoa daquela sala.
Penso em todas as vezes que eu e as meninas passávamos horas e horas conversando em sala de aula e rindo um do outro, todas as gargalhadas que estavam em minha cabeça no momento me fazem sorrir. Percebo que estou a muito tempo nesses pensamentos quando eu ouço uma pergunta voltada a mim, não entendo nada.
-Responda, Matheus - diz a professora.
- Desculpa, professora, eu não escutei a pergunta- depois de dizer isso todos da sala riem e voltam a prestar atenção na professora.
Esse ano vai ser difícil, só espero passar por ele. Não aguento todas essas mudanças acontecendo tão rápido. De repente minha respiração acelera e percebo que começo a suar. Meu corpo parece que queria sair correndo daquele lugar, parece que tá tudo fechando em volta de mim, eu não estou aguentando. Preciso sair dessa sala agora. Começo a chorar sem parar e sem entender o motivo.
Pego algumas coisas e saio correndo da sala, sem ligar para todos os olhares e preocupações falsas que são direcionadas a mim. Escuto a professora chamando meu nome ao fundo mas meu corpo decide ignorar. Eu sei que estou tento uma crise de pânico e corro até a primeira sala vazia que vejo na frente. Percebo que entrei em uma sala de aula estava vazia e toda escura. Sento atrás de uma das cadeiras e deixo as lágrimas caírem. Essas mudanças não estão me fazendo bem, eu não tive um tempo nem de respirar em calma depois que descobri o coma da minha mãe, eu tenho que começar a aceitar que ela não vai voltar e que eu estou sozinho nesse mundo. Meus amigos estão longe e eu só tenho a mim mesmo. Não queria existir nesse momento, só queria estar com a minha mãe. Choro a ponto de doer em meu peito.
Fico naquela sala até dar o horário do intervalo que estava no cronograma, só percebo que tenho que sair para comer algo depois de muito insistir em nem descer as escadas para comer.
Desço até o pátio onde estão simplesmente todos os alunos da escola, meus passos são lentos e a cabeça sempre baixa, o mínimo de contato visual era o melhor que eu podia oferecer agora. Não queria que ninguém visse meus olhos inchados.
Escuto meu nome sendo chamado e me viro. Sigo com o olhar a voz feminina e encontro com Manuela e mais algumas pessoas em sua mesa, vou até ela e a mesma me convida a sentar do seu lado.
-Estava preocupada que você não iria aparecer para o lanche- ela me diz com um sorriso no rosto e tentando ser amigável, eu sento do seu lado- o que aconteceu com você?
-Eu realmente não quero falar sobre isso agora, Manu, me desculpa, mas fica tranquila, já to melhor agora.- tento dar um sorriso mas simplesmente não sai.
-Bom, vou te apresentar as pessoas aqui. Esses são Samu e Mariana - ela aponta para um casal sentado à direita dela- e essa é minha irmã Helena- novamente aponta só que agora para uma garota de cabelos longos e cacheados- Meninos e meninas esse é o Matheus.
Todos eles me cumprimentam e eu tento ser o máximo educado possível.
-Matheus, como você veio parar nessa escola? Você tem sotaque do Rio de Janeiro, deve ser de lá né?- Pergunta Helena.
-Sim, eu sou do... - sou interrompido por um garoto que chega sentando em nossa mesa.
- Então esse é o garoto que saiu chorando que nem uma garotinha da sala?- Ele diz rindo. esse garoto era familiar- o mais novo "adotado" do dono.
- Sai daqui André. Ninguém aqui gosta de você então pode se retirar- Diz Manu com seu alto tom de voz. Quase gritava.
Dito e feito o garoto saiu da mesa e foi andando até um grupo de garotos, e, bem no meio desse grupo consigo avistar um garoto conhecido. Lucas. Já imaginava que esse garoto não iria me deixar em paz aqui também. Ele chega lá contando toda a história para eles e todos riem, menos um, o mesmo ruivo que estava lá em casa ontem.
- Esses são os acéfalos do time de basquete da escola - Explica Mariana- não liga para eles, apenas estão tentando zoar com a sua cara. Ali no meio estão: André, que já teve o desprazer de conhecer. Lucas, o capitão do time do lado dele de cabelos negros e alto. Guilherme, aquele ruivo que está sério mexendo no celular e Igor o menor deles.
- Mas é tudo verdade - exclamo- sim, eu sou o "adotado" do dono da escola. Minha mãe acabou de entrar em um coma e os médicos disseram que é irreversível e meu pai deve morrido em algum lugar - Uma raiva sobe em meu corpo e eu só consigo sair daquela mesa correndo, e sigo em direção a saída da escola. No meio do caminho até o portão da escola esbarro com o Bruno.
-Calma, pequeno. Onde vai com essa correria toda? - ele vira com meu esbarrão e nossos olhos se encontram- ei, você estava chorando?
- Sim, Bruno. Sim. Eu estava chorando, eu nunca quis vir para essa merda de escola com pessoas que eu não conheço e nunca quis que meus pais tivessem morrido, tá satisfeito? - volto a chorar como um bebê e sinto o garoto mais alto me abraçar e tentar me acalmar. Mesmo depois de eu ter sido completamente grosseiro com ele, o mesmo ainda tenta me acalmar.
- Eu não sei o que você está passando mas, se precisar conversar - Ele tira um pedaço de papel da mochila e começa a anotar algo no papel, depois de escrever me entrega ele dobrado no meio. Ele se afasta de mim seguindo para dentro da escola.
Abro o papel e vejo que está escrito um número de telefone e uma mensagem.
Estou aqui para te ouvir, Theo.

Até quando?Onde histórias criam vida. Descubra agora