Capitulo 8- Ajuda.

38 5 1
                                    

Quais são as chances de eu encontrar Guilherme aqui? Até que todos os pontos se ligam em minha cabeça e finalmente entendo, Rana é sua irmã. Eu simplesmente vim fazer o projeto na casa do garoto que está a fim de mim. O que respondo a ele? Não quero parecer interessado nem nada então apenas digo a verdade.
- Vim apenas fazer o projeto com a sua irmã. O professor nos escolheu como dupla - digo enquanto dou um gole da água que havia acabado de pegar.
- Esse destino está andando ao meu lado esses dias, primeiro você chega na casa do meu melhor amigo encantando meus olhos, então, você está na minha escola e de repente aparece em minha casa. Depois me diz a quem devo agradecer, por enquanto, o que acha de beber alguma coisa e curtir a festa? - Diz ele com um sorriso que, eu tinha que admitir, era bem bonito, seus cabelos ruivos eram presos por um elástico. Sua barba para fazer da um ar de adulto nele.
- Eu tenho que ir para casa, Gui. Eu to meio cansado- quando eu digo isso ele me puxa para perdi do som e começa a dançar comigo. Ele dança bem. Seu corpo tem movimento e as roupas ajudavam na dança. O garoto usava uma camisa social de mangas curtas e uma calça jeans preta.
Depois e ter cedido aos encantos do garoto e ter começado a dançar com ele percebo meu corpo completamente imerso na música. E pelo visto o ruivo também. Dançávamos juntos e eu percebia os olhares do garoto para mim, ele tentava esconder. Sem nenhum êxito. Estávamos em um momento tão alegre que me esqueci completamente dos meus problemas, até o momento que um problema chegou.
O garoto de cabelos pretos para na frente da gente e começa a soltar uma falsa gargalhada.
- Me diz que eu to tendo alucinações. Então quer dizer que além de você gostar de garotos, está dançando com a aberração?- diz Lucas enquanto bebia um gole de sua bebida que no momento parecia ser o combustível de sua raiva
Vejo Guilherme ficando vermelho com cada palavra que saia da boca de Lucas. E eu, completamente paralisado com o que estava acontecendo. Outro dia na piscina parecia que Lucas tentava ser um pouco mais amigável comigo mas isso tudo se destrói com as frases exaladas no momento.
- Cala a sua boca, Lucas! Qual é o seu problema? Desde o primeiro dia que esse garoto chegou na sua casa você trata ele que nem um lixo. Ninguém mais aguenta você com esse amor enrustido- grita Guilherme com ele. Quando ele termina essa frase eu gelo. O que ele estava falando? Amor enrustido? Tudo isso está tão confuso na minha cabeça, só quero sumir.
As feições de Lucas vão de raiva para vergonha em segundos, depois voltam para raiva.
- Se você quer saber, Matheus é um garoto divertido, doce e incrível. Você vê isso só não aceita para você mesmo. A única aberração aqui é você!- assim que Guilherme termina de falar Lucas enlouquece e solta um soco bem forte na cara de Guilherme, que cai no chão na hora.
Todos começam a se juntar para ver a briga e se amontoam perto dos garotos que agora estão trocando socos. Vejo os lábios de Lucas sangrarem, assim como a bochecha do ruivo. Nesse momento lembro do que aconteceu na minha antiga escola. Eu não queria lembrar disso, prometi a mim mesmo que não ia deixar aqueles pensamentos voltarem.
-PAREM POR FAVOR- eu grito enquanto vejo os dois garotos assustados olhando para mim e provavelmente preocupados pois no momento eu estou chorando de soluçar.
Saio correndo daquele lugar, passando por aquela multidão de pessoas e vou em direção a rua. Meus passos são rápidos porém curtos. Eu só queria entender o motivo disso tudo acontecer comigo. Eu não aguento mais essas coisas ruins acontecendo do meu lado. Ando por ruas vazias, assim como meu coração está no momento. Odeio ver pessoas brigando e odeio ser o motivo da briga. Será que a vida de Lucas mudou tanto assim desde quando eu cheguei? Será que mereço estar onde estou? Será que tudo isso um dia vai passar? São perguntas sem resposta agora, na verdade, uma resposta está bem na minha frente.
Enquanto andava até chegar em minha casa, passo pela mesma praça na qual encontrei Bruno outro dia. E o garoto está lá, sentando lendo um papel, parece ser o mesmo papel que ele lia na aula de teatro.
Por um momento lembro que meu rosto se encontra vermelho e inchado de tanto chorar, meus olhos ainda marejados, então, passo direto por ele para que o garoto loiro não me note. O que não teve muito sucesso. Escuto o garoto me chamar ao fundo da minha audição. Resisto ao primeiro chamado, mas não ao segundo.
Me viro e vou de encontro aos olhos do garoto, que pareciam calmos... até me olhar, levantar do banco onde estava sentado e entrar em prantos.
- Meu Deus, Theo. O que aconteceu?- diz ele pondo as mãos geladas em meu rosto e deixando o corpo dele bem próximo ao meu.
No momento em que ele pergunta eu não me seguro e começo a chorar do lado dele, deixo todas as minhas lágrimas saírem enquanto o garoto mais velho me põe sentado no banco do lado dele. Minha cabeça apoiada em seu ombro e meu olhos completamente fechados.
-Não me pergunta nada, eu só preciso chorar ok? - digo com uma voz manhosa e ele aceita meu pedido, passa o braço por mim e ficamos ali abraçados por um bom tempo.
Eu percebo o quão tarde está e deixo Bruno sentado no banco da praça, disse a ele que precisava ficar um pouco sozinho e que depois explicava a ele o que tinha acontecido. Vou andando até o portão de casa, abro a porta e não percebo ninguém em casa, então, subo até o meu quarto, sem nem querer olhar para ver se Lucas está em seu.
Para minha surpresa, Sophia se encontra na minha cama, dormindo. Ou ao menos eu achava que estava dormindo, moto que ela solta uma risadinha e eu noto que ela está fingindo. Então, ponho toda a tristeza de lado.
- Nossa, me deu um sono, vou me deitar do lado dessa menina dorminhoca - digo em voz alta para que ela ache que cai na brincadeira dela, até que chego perto dela e começo um ataque de cócegas na menina- enganei você, princesa! - ela solta uma gargalhada e tenta fugir das minhas cócegas.
Ela faz um biquinho e eu pergunto como foi o dia dela.
-Foi ótimo, lá na escola brincamos de pega pega. Eu ganhei! -diz a menina enquanto subia na minha cama. Ela levanta os braços para cima- eu acabei com os meninos
- Meu orgulho, já que ganhou o pega pega, o que acha de irmos lá em baixo fazer um bolo? - quando eu digo isso os olhos da menina brilham, me viro de costas para ela e ela entende o que quero que faça. Ela da um impulso na cama e sobe em mim. Eu, imito um aviãozinho até chegarmos na cozinha.
Chegando lá, ponho ela sentada na bancada da cozinha me certificando de que ela estava segura ali. Começo a pegar algumas coisas para fazer um bolo na geladeira e nos armários. Eu sempre gostei muito de cozinhar e ainda mais quando fazia para mamãe.
- Chocolate ou Morango? - pergunto a menininha e ela grita morango de volta.
Sorrio com a cena e começo a misturar os ingredientes. Depois de uns quinze minutos misturando tudo eu finalmente olho no forno. Começo a contar 35 minutos.
- Vamos assistir alguma coisa enquanto esperamos? - digo para a Sophia.
- Vamos, Mat- ela sobe de volta em minhas costas e ficamos sentado no sofá vendo um desenho que ela escolheu. Escuto o alarme do meu celular tocar, o que significava que o bolo estava pronto. Tiro do forno e deixo para esfriar em cima da bancada.
De repente escuto um barulho enorme vindo da porta, era ele. Lucas estava completamente machucado, seu rosto pingava sangue e nitidamente sua boca estava toda cortada.
-Mat, tá tudo bem? O que foi?- grita a menininha da sala.
Eu não podia deixar que Sophia visse o irmão assim, ele estava horrível. Corro até a porta e vou de encontro ao garoto, botando a mão em seu peito.
- Espera aqui que eu vou distrair a Sophia, depois você sobe. Ela não pode te ver assim, vai ficar com medo do próprio irmão. E antes que você grite comigo eu estou fazendo isso por ela.
Ele assente com a cabeça e eu digo para a Sophia ir até a cozinha que tem um morango com chocolate esperando ela, vou até a geladeira e tiro um dos morangos que havia separado para o bolo, a menina vem correndo até mim sorrindo. Vejo, enquanto a menina está virada para mim, Lucas subindo as escadas cambaleando.
- Princesa, acho que só iremos comer o bolo amanhã, ele está muito quente, e eu to muito cansado. Tem problema? -a garotinha ri com seu morango na mão e faz que sim com a cabeça, já que a boca estava cheia de morango.
Dou um beijinho na testa dela e chamo a Tânia, que era a sua babá para botar ela para dormir.
Ando rápido até o quarto de Lucas e vejo o garoto caído no chão dele. Meu coração dispara e eu levanto o garoto. Droga! Ele é maior que eu e bem mais pesado.
- Vamos lá, Lucas. Preciso da sua ajuda para te levantar- peço ao garoto e ele resmunga, mas faz uma força em suas pernas e com ajuda minha consigo colocar ele sentado em sua cama.
Quando Danilo me mostrou a casa uma vez me disse que tinha um kit de primeiros socorros dentro do armário do corredor. Vou até ele e pego a caixinha vermelha e branca.
Ando até, Lucas e me sento frente dele, pegando uma gaze é um desinfetante para poder passar em seus machucados, primeiro em seus braço, depois eu seu queixo e olhos.
- Isso dói demais, Matheus. Para!- diz o garoto enquanto tenta me afastar. Se eles não estivesse machucado conseguiria mas por enquanto eu sou mais forte.
Por fim passo um pouco do creme cicatrizante em seu lábio. Quando faço isso percebo os olhos do garoto em mim.
- Pronto, agora você só precisa de um banho para tirar esse cheiro de bebida e cigarro do seu corpo.
- Por que você está me ajudando? - diz o garoto com os olhos cheios de lagrimas- tudo que eu fiz foi te maltratar e mesmo assim você está aqui.
- Eu não sei o motivo mas sei que sempre quero ajudar as pessoas, e ver você no seu estado me assustou muito.- abaixo a cabeça e percebo que eu estava ajudando o garoto que mais me tratou mal nessa vida toda e em tão pouco tempo.
Essa é a primeira vez que venho no quarto de Lucas e preciso dizer que ele tem um gosto incrível. As paredes cinzas com os móveis brancos contrastavam com os quadros maravilhosos nas paredes. Ele tinha um videogame com vários jogos do lado. De repente meus pensamentos são cortados com mais uma queda de Lucas. Ele estava completamente fraco. Eu fico empurrando o garoto até ele dar sinal de vida. Mas o mesmo adormece.
Decido fazer uma coisa que posso me arrepender depois, pego o garoto e passo os braços dele pelo meu ombro, ando até o banheiro dele. Abro a porta do chuveiro e deixo ele sentado no chão. Ligo o chuveiro no gelado e percebo o susto que o garoto toma.
- Vou te deixar aí para você tomar seu banho, fica tranquilo que eu to no seu quarto te esperando sair. Tenta só não cair no chuveiro por favor- digo isso enquanto o garoto começa a chorar sentado. O sangue que havia em sua roupa começa a ser mesclado com a água que caia e o garoto fica de cabeça baixa. Decido deixar ele ali pois não queria ver o mesmo tomar banho.
- Theo, pode ficar aqui comigo?

Até quando?Onde histórias criam vida. Descubra agora