Pego minhas coisas e saio correndo pela escola, sem ligar para qualquer pessoa na minha frente. Só de pensar que minha mãe estaria machucada me dói tanto.
Vou até a rua em frente ao pátio e pego o primeiro táxi que vem a frente até o hospital. Nesse exato momento entro em uma crise de pânico onde eu esquecia como era respirar, minha pressão cai completamente.
Calma, Matheus, fique bem pela sua mãe, ela precisa de você agora.
De repente fecho meus olhos e umas memórias começam a aparecer na escuridão. Minha mãezinha, correndo comigo e brincando de pique-esconde no quintal dos meus avós. Eu devia ter uns 10 anos e eu consigo ainda sentir tudo que eu senti nesse dia, como se as memórias estivessem frescas. O jeito como corríamos um do outro e todas as gargalhadas que saiam da minha mãe eram como se eu estivesse voando em nuvens.
Minha cabeça cai e percebo que estava sonhando acordado, ou nem tão acordado assim.
Chego no hospital e saio correndo deixei uma quantia enorme de dinheiro com o taxista mas não queria nem saber.
-Verônica Bianco, alguém me diz onde está Verônica Bianco, por favor! É a minha mãe!- Saio falando num tom mais alto com a recepcionista do hospital.
- Calma, senhor. Verônica Bianco está na sala 42, só seguir...- nem a deixei terminar de falar e saí correndo em direção ao quarto, não sabia onde era. Péssima ideia não ter deixado ela terminar de falar, droga. Calma, Matheus. Sigo a direita em um corredor grande e subo as escadas até o quarto andar, avisto a sala 42 no final do corredor.
Tem uma janela no quarto, tento ver o que está acontecendo dentro da sala. A visão da minha mãe passando por uma cirurgia me fez cair em lágrimas na hora. Não conseguia imaginar minha vida sem a minha mãe, ela é tudo que eu tenho desde que meu pai sumiu do mundo e nunca mais voltou.
Fico parado sentado no chão ao lado da porta da sala de cirurgia e apoio meus cotovelos nas pernas, cobrindo meu rosto com os braços. Choro em prantos. As lágrimas caem tanto que meus olhos pesam e eu acabo entrando em um sono profundo, caí de cansaço. Até que alguém me cutuca e eu seco os olhos os arrastando em minha blusa.
-Matheus Bianco? - Atendo ao chamado e levanto a cabeça até avistar um homem alto e com seus cabelos negros e olhos verdes, suas características lembram muito a minha mãe.
-Eu te conheço?- digo com um tom meio arrogante.
Tenho certeza que já vi esse cara em algum lugar.
-Meu nome é Danilo, sou seu tio. Irmão da sua mãe. -Diz ele me pegando de surpresa, mamãe nunca disse nada sobre um irmão, mas mesmo com isso tudo, eu já o vi em algum lugar, deve ser por isso que ele parece tão familiar para mim.- Soube que sua mãe tinha sofrido um acidente e vim aqui para ver como estava, cheguei bem mais cedo, vi você correndo para cá e não quis incomodar. Infelizmente os médicos disseram que o quadro dela é pouco reversível. Me desculpa, Matheus.
Sinto meu rosto fervendo e logo as lágrimas descem, tudo isso tinha que ser um pesadelo, no meu primeiro dia de aula minha mãe, minha única família até o momento, está morrendo? No momento não consigo falar nada apenas chorar, sinto os braços de Danilo me abraçando.
-Calma, meu amigo vai ficar tudo bem, eu estou aqui. - Aquilo me confortou um pouco.
De repente um médico sai da sala de cirurgia e pergunta por parentes da minha mãe, logo nós dois levantamos e esperamos as atualizações do médico.
-Bom, não tenho boas notícias, o acidente foi muito grave e infelizmente ela não consegue acordar. Está muito fraca e perdeu muito sangue. Ela ficará aqui com a gente enquanto não acorda. Mas tenho que dizer que pelo quadro atual dela ela não irá acordar tão cedo.
Não tinha mais lágrimas para chorar, só conseguia escutar aquilo e olhar para o nada, pensando em tudo que minha mãe e eu passamos juntos.
- Ei, garoto, você tem quantos anos?- o médico pergunta
-Eu tenho 17, senhor.
-Só poderemos te deixar sair daqui com um responsável... - Antes de terminar a frase Danilo o interrompeu e disse que era meu tio, que iria me levá-lo com ele para a sua casa. O médico sai e eu fico confuso.- Desculpa por isso Matheus, mas até sua mãe acordar você terá que ficar comigo por ainda ser menor de idade. Eu tenho uma casa bem grande e dois filhos, uma menininha de 8 anos e um garoto de 18. Poderá ficar o quanto quiser com a gente em São Paulo.
Nessa hora minha pele fica pálida e eu gelo. Ele disse São Paulo? Eu não posso simplesmente abandonar tudo aqui e ir morar com ele em São Paulo.- Eu sou dono de uma escola particular incrível lá e você poderá entrar de graça. Só precisamos passar na sua casa antes para pegar suas co...
-Eu não posso ir para São Paulo! Eu morei minha vida inteira aqui no Rio, todos os meus amigos são daqui e eu... eu não sei o que fazer, eu não quero.- Meus olhos se enchem de lágrimas enquanto eu tento argumentar com Danilo sobre não ir morar em São Paulo.
-Matheus, entendo, sei que não quer ir morar comigo mas vai ser necessário. Não tem ninguém aqui para cuidar de você, me desculpe Matheus mas vai ter que ir comigo. Vem, eu te levo até sua casa.
No caminho até em casa mando mensagem para minhas amigas me encontrarem lá, terei que contar a elas pessoalmente.
Depois de um tempo sentado no carro chorando vejo a minha casa á distância, digo onde é para Danilo e ele estaciona no portão de casa.
As meninas já estão na porta esperando e todas me recebem com um abraço. Nem acredito que terei que me despedir delas.
Olho para elas e as mesmas estavam lá paradas: a Isa, Alice, Paula. Explico toda a situação a elas e simplesmente caio em prantos, choro demais enquanto as abraço. Elas, preocupadas atendem ao meu abraço e simplesmente me acolhem como sempre fizeram.
- Na primeira oportunidade eu venho visitar vocês ok? Eu amo muito vocês. - Me despeço delas enquanto subo até o meu quarto para arrumar minhas coisas, pego todas as minhas roupas e memórias que tenho da minha mãe, seu colar que ficava na sua mesa do lado da sua cama, boto o mesmo.
-A senhora sempre estará comigo, mãe. - desço as escadas e vou ate o carro de Danilo, tranco a casa e a olho uma última vez, rezando para que eu volte logo.
Pegamos a estrada para São Paulo e até lá fomos conversando sobre a vida e sobre o que tinha acontecido com a mamãe que nunca tinha me contado dele. Ele sempre mudava de assunto, então, decidi que não ia mais tentar. Talvez fosse um problema apenas deles.
Acabo dormindo no caminho e sonho com mamãe, um pesadelo horrível, acordo aos prantos e percebo que estamos parados.
- Você vem ou não? - pergunta Danilo enquanto entra com todas as minhas coisas na mansão, era tão enorme que eu não ousaria contar quantos metros tinha aquele lugar.
Assim que eu entro na casa já escuto uma voz alta e fina.
-Papai, papai- grita a criança enquanto corre em direção aos braços do Danilo- filha, quero que conheça seu primo, Matheus.
A criança desce do colo dele e vem até mim quase que me escalando, eu a pego no colo e brinco com ela, a mesma me dá uma gargalhada gostosa de escutar e aperta minhas bochechas. Rio um pouco tentando esquecer os problemas.
A garotinha se chama Sophia e ela é um amor de menina. Adorei conhecê-la.
-Venha vou te mostrar a casa e o seu quarto- diz Danilo enquanto segue em direção a cozinha. Depois de uns 30 minutos mostrando a casa toda, finalmente mostrou onde eu ficarei, um quarto grande, com banheiro e um armário de roupas enorme.
-Eu botei algumas roupas antigas do Lucas no seu armário por que achei que elas caberiam em você, mas você é bem mais magrinho e baixo que ele então, experimente o que der e o que não der você deixa em cima do armário certo? - Lucas é o nome do outro filho dele que estava dormindo no quarto, afinal chegamos cedo em São Paulo. Eu agradeço a Danilo e começo a desarrumar as minhas malas.
Depois de um tempo tentando organizar tudo decido tomar um banho para limpar todo esse peso de cima de mim. Logo quando acabo o banho percebo que deixei as toalhas dentro da minha mala, vou correndo até a mala pegar quando dou de cara com um garoto alto na frente da minha porta.
- Então você que é o Matheus?
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Até quando?
RomanceMatheus se acostumou com sua rotina, seus amigos e sua casa. Porém, o que o mesmo não sabe é que de repente, tudo vira do avesso e o medo do amanhã passa a ser recorrente. O garoto, de apenas 17 anos terá que entender como é viver em um mundo comple...