Capítulo dois - Dias de um passado esquecido

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Amara Brittani nunca tinha se considerado uma pessoa sentimental. Gentil sim, mas nunca mais do que isso.

A bruxa vira e fizera muitas coisas ao longo de sua vida para se deixar levar por qualquer problema. Entretanto, o ato de soltar um breve suspiro de pesar e comprimir seus lábios toda a vez que encarava a imponência do edifício moderno a sua frente se tornava cada vez mais frequente.

Porque ali naquele prédio que ostentava riqueza residiam quatro jovens de boas intenções que não tinham ideia do que ela tinha feito.

Do que ela tinha aceitado fazer, seis meses antes.

Exatos cento e setenta e oito dias tinham se passado desde que Ariella tinha batido a sua porta tarde da noite determinada a ir embora da cidade; determinada a fazer seus amigos esquecerem sua existência de uma vez por todas; determinada a convencer Amara a ajudá-la.

A bruxa estivera pronta para negar o pedido, pontuando a jovem cada consequência daquela decisão extremista. Mas ao encarar com atenção aqueles olhos dourados que um dia foram tão verdes e brilhantes, ela se deparou com aquilo que separava a jovem que a encarava da menina que ela um dia fora; não havia emoção em seu olhar e ela parecia exausta demais para tentar esconder o fato.

Então Amara soube que ela precisava daquilo. Precisava se afastar. Precisava descobrir o que fazer com o que tinha se tornado. Precisava se libertar daquelas sombras que a acompanhavam e recomeçar; longe de tudo, longe de todos e apenas na companhia de si mesma.

Assim, contra seus próprios princípios, ela cedera. Lançara um feitiço de esquecimento perfeitamente delimitado em cada letra cursiva daquela carta de adeus que a jovem trazia consigo.

Anos e anos de memórias envolvendo a adolescente seriam apagadas da mente de quatro jovens; lágrimas, sorrisos, risadas, abraços, perdas e ganhos deixariam de existir em suas memórias. Mas não os conhecimentos sobrenaturais. A bruxa não poderia forçar os olhos dos jovens a se fecharem uma vez que eles já tinham sido abertos. Era demais para uma mente humana, ela tinha dito a adolescente.

— Tudo bem, desde que isso não os impeça de serem felizes. — fora o que a jovem lhe respondera naquela noite.

Não vai. Eu vou garantir isso.

Com o encantamento feito com êxito, agora ela tinha que conviver com sua parcela de culpa naquela decisão. Uma decisão que incluía sua presença na vida dos jovens para auxilia-los desde então.

Felizmente, ela não era a única a lidar com aquela situação. Kaellyn Laxon também estava incluída nos planos de Ariella, mas não da forma como a jovem imaginava. A empresária sabia muito mais do que a adolescente tinha dado a entender e tal fato trazia certo conforto a bruxa.

Kaellyn sabia o que Ariella era. Sabia tudo aquilo que o fato implicava. E melhor, dispunha de recursos. Então não fora grande choque para bruxa ter conhecimento sobre a descendência mística da mulher de negócios e sua amizade secreta com Elisabeth.

A mesma Elisabeth que agora estava morta. Morta por um clã de nephilins vingativos que jurara extinguir os anjos caídos, era a versão que ela impunha aos quatro jovens.

E esse era um dos motivos pelos quais eles tinham decidido mergulhar nas tramoias do mundo sobrenatural, não deixando que a morte de Elisabeth fosse em vão. Dave, Naomi, Joe e Dakota estavam determinados a fazer o que fosse possível para evitar que qualquer sobrenatural prejudicasse a cidade e as pessoas inocentes que habitavam nela.

E observando seu reflexo no espelho do elevador ao chegar no andar apartamento dos jovens, ela repensava sua decisão sobre alerta-los sobre a mais nova possível ameaça.

Criaturas Celestiais - A Queda  [Pausada]Onde histórias criam vida. Descubra agora