Paul Ⅶ

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O dia amanheceu chuvoso no acampamento militar, mas bastante calmo. Quando Paul acordou na cama de palha, se viu sozinho e perguntou-se por um momento onde Patryk estaria. Ele era quem sempre acordava mais cedo dos dois, algumas vezes até antes do Sol aparecer no horizonte.

Levantou-se e vestiu algumas roupas, meio preguiçoso demais para pensar em colocar a sua armadura completa, mesmo assim pegou a espada e colocou a bainha no cinto de couro. Quando saiu da barraca imediatamente sentiu o leve chuvisco sobre sua cabeça e olhou ao redor, onde tudo estava bastante organizado, mas quieto. Quieto demais.

Havia alguma coisa esquisita em toda essa calmaria, apesar de ironicamente estar chovendo, lembrava bastante aqueles momentos calmos antes de uma tempestade violenta cair sobre a terra, destruindo tudo. Mas esse era um pensamento paranoico e ilógico, uma impressão e um frio no estômago certamente não queriam dizer nada em particular.

Lembrava bastante do que sentiu no dia em que pensou que fosse perder Patryk para um incêndio, antes de tudo dar errado, mas provavelmente era apenas uma coincidência.

Ainda chegou a caminhar um pouco pelo acampamento, sentindo as gotas de chuva no topo da cabeça, se dirigiu ao local improvisado onde Tord havia mandado que amarrassem o conde Eduardo. Uma tenda grande com uma estaca grossa de madeira no meio, onde Paul pessoalmente amarrou as mãos do nobre atrás das costas e cordas ao redor dos tornozelos.

Quando puxou o pano para entrar e ver como o prisioneiro estava, definitivamente a última coisa que esperava era ver Yanov caído com uma poça de sangue ao redor da cabeça e nenhum homem amarrado. No mesmo instante correu e se ajoelhou perto do homem, rezando para que ele estivesse apenas desacordado, mas não conseguiu vê-lo respirar. O sangue ainda estava quente e o corpo também, então seja lá quem tivesse feito isso, não poderia ter ido muito longe-

Yanov, o que você-

Olhou para trás e viu Yuu estático, com os olhos arregalados. O homem loiro se aproximou e lhe empurrou para longe, então segurou o corpo e balançou pelos ombros, repetindo o nome de Yanov várias e várias vezes de um jeito que deixou Paul desconfortável de formas que não sabia que poderia ficar.

Nem mesmo parecia real, Yanov estava mesmo morto?

— O que é isso? — A voz do loiro saiu baixa e pausadamente, ele não tirou os olhos do corpo nem por um instante.

— Eu cheguei e ele já tava' assim...

Yuu não respondeu, ainda com toda a atenção posta no amigo morto, mas Paul finalmente percebeu que precisava gritar por ajuda rápido. Levantou-se e foi para fora da tenda, então gritou por ajuda e logo chegaram alguns rostos familiares, entre todos eles Patryk foi quem chegou perto mais rápido e mais preocupado.

— O que aconteceu!?

— O prisioneiro escapou. — Ele falou algum palavrão que não conseguiu entender e quase se afastou, dizendo sobre como eles deveriam informar a situação a Tord agora mesmo, mas antes disso segurou o pulso dele e ganhou um olhar interrogativo. Paul apenas deu uma olhada para trás na barraca e Pat olhou sobre o seu ombro, então cobriu a boca com uma mão, absolutamente chocado. — Alguém matou o Yanov.

— A gente precisa achar o Líder Vermelho agora.

Então ele surgiu como se tivesse sido invocado, imponente como sempre e tomou a frente dos dois homens. A expressão de Tord ficou gradativamente mais sombria enquanto observava a cena e Paul podia jurar que escutou os dentes dele rangendo de raiva, sem conseguir disfarçar muito bem enquanto apertava o tecido grosso da barraca. Patryk estava prestes a falar alguma coisa, mas não foi rápido o suficiente:

— Vão procurar por Edd. — Tord estava mais sério que o normal e as palavras dele soaram como ordens. — Agora.

Então procuraram o braço direito do Líder Vermelho por todo o acampamento, mas não acharam ele em lugar nenhum. Era o único dos homens que tinha sumido e aos poucos as suspeitas de Paul pareciam cada vez serem mais verdadeiras, só não conseguia pensar em um porquê para tudo.

Tord havia se enfurnado nos próprios aposentos desde que deu aquela ordem que ninguém conseguiu cumprir, pois Edd não estava nas redondezas e não haviam nem mesmos rastros que pudessem seguir, mesmo que a chuva já tivesse parado e agora o céu estivesse apenas cinzento.

Patryk estava ao seu lado quando, hesitantemente, foi entrar na barraca do Líder Vermelho e lá dentro estava uma completa bagunça.

— Com licença, senhor?

Haviam coisas quebradas e uma espada atravessando a mesa de madeira, com Tord sentado pelo dela em uma cadeira, de cabeça baixa e as mãos cobrindo o rosto e os cotovelos apoiados na madeira quebrada. Ele obviamente não estava bem e nem lhe respondeu, então Paul encarou aquilo como se pudesse continuar:

— Ninguém conseguiu achar Edd, não parece que ele está próximo do acampamento.

Pela segunda vez não ganhou resposta nenhuma e por isso começou a ficar preocupado. Tord tirou as mãos do rosto e olhou na direção dos dois homens, a expressão dele era apenas miserável de um jeito que não lembrava nunca de ter visto antes. Era uma mistura de ódio, raiva, decepção e muitos mais coisas para que conseguisse identificar em tão pouco tempo, sem falar que as mãos dele tremiam muito levemente, só percebeu isso pois estava prestando atenção.

Ele não fez menção de se levantar da cadeira e deu um longo olhar para os dois dos seus soldados mais confiáveis, porém Paul definitivamente não tinha visto aquilo chegando:

— Nós vamos atacar a cidade.

Senhor?

Ele se levantou e arrancou facilmente a espada da mesa, que antes estava fincada também em um mapa de papiro bem, na área entre dois vales, perto de um rio. Era o Reino do Sul. Tinham discutido a estratégia que usariam para conquistá-lo dias atrás e nela não envolvia atacar aquela cidade nos próximos trinta dias.

— Mandem os homens desmontarem o acampamento. — Tord falou sério, mas sem olhar para os outros presentes no ambiente, enquanto parecia ter encontrado algo de muito interessante no mapa arruinado. — Amanhã, antes do Sol nascer, nós vamos marchar mais para o Sul.

Paul e Patryk se entreolharam, temerosos.

Mas senhor-

— É uma ordem, soldados. — Ele cortou e olhou severamente para os dois homens, com um olhar e de um jeito que não parecia muito são. Quando falou novamente, foi em um tom cheio de acusação que nenhum deles viu chegando. — O que vocês ainda estão fazendo aqui? Pretendem me trair também!?

Patryk rapidamente tomou a palavra com um "não senhor" bastante firme e foi para fora do local, enquanto também puxava lhe pelo braço. Eles se afastaram vários metros da barraca e Paul viu nos olhos do homem que amava algo que lembrava medo.

Ambos se olharam sem precisar de nenhuma palavra sequer dita em voz alta, então rapidamente foram obedecer às novas ordens do Líder Vermelho.

Não-me-esqueçasOnde histórias criam vida. Descubra agora