Edd ⅱ

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Aquela era uma cidade fria em vários aspectos, tanto no clima quanto as pessoas que lá viviam. Edd sabia disso pois havia nascido, crescido e passado a maior parte da sua vida nela.

Tinha perdido sua mãe e seu pai muito cedo, assim como um dia não teve mais notícias da irmã, então precisou aprender a se virar muito cedo. Começou a morar sozinho quando era um garoto entrando na pré adolescência e como, desde sempre, Edd era particularmente mais alto e grande que a maioria, mais forte também, mesmo não sendo um adulto não foi tão difícil assim arrumar alguns serviços de trabalho pesado em troca em algumas moedas de bronze.

Recebia muito menos do que realmente merecia para um trabalho que, no final do dia, lhe deixava com o corpo inteiro doendo, mas estava bem com isso. Era melhor ter como comprar o que comer do que passar fome.

A neve estava caindo naquele dia, bem como já era acostumado, e nas ruas pessoas se protegiam do frio com roupas de algodão, lã e tipos diferentes de pele, sempre com mais de uma camada de roupas sobre o corpo. A baixa temperatura era cortante.

Haviam pessoas vendendo tecidos pesados, milho e até certos tipos de frutas na rua central, a maior pois era o caminho para o castelo, e Edd no momento tinha acabado de comprar um daqueles pães de centeio duas vezes o tamanho da palma da sua mão que, se mantivesse em um pote perto de algum lugar frio, duraria pelo menos uma semana.

Mas enquanto estava se afastando, aquele garoto magricela e baixinho chamou bastante sua atenção. Roupas leves e esfarrapadas demais para o frio, botas de couro para andar na neve, só que velhas e surradas, e uma aparência de quem era realmente pobre. Mas ele se movia por entre as pessoas como se não sentisse frio e sem ser notado, com olhos afiados que por um segundo encontraram os seus, enquanto tinha acabado de tirar algo da cesta de palha de uma mulher e fugir.

Sabia que deveria ter falado algo naquele momento, avisado a mulher, mas... Alguma coisa fez Edd ficar quieto a apenas observar como ninguém viu o garoto chegando, como a mulher sequer pareceu sentir que foi furtada.

Quando tentou procurar pelo garoto mais uma vez ele já havia sumido do seu campo de visão e nesse momento Edd voltou ao seu caminho, apenas um pouco mais atento do que estava antes e feliz por não ter sido ele a ser roubado. Não teria como comprar outro pão se perdesse aquele.

Se a próxima coisa que aconteceu foi uma coincidência ou não, Edd jamais teria como saber. Talvez um castigo por não ter avisado a mulher de antes? Karma ou a força do pensamento?

Isso permaneceria para sempre no mistério.

Edd quase não sentiu quando aquele garoto estranho se aproximou e enfiou a mão no cesto que apoiava no braço, para roubar o pão de centeio que havia acabado de comprar. Mesmo prestando atenção, ele era realmente discreto e no último instante viu e fechou a mão ao redor daquele pulso magro, ossudo e isso pareceu assustá-lo.

Olhou para o rosto dele por um instante, que se retorceu em uma careta enquanto tentava se soltar e, apesar de a diferença quase assustadora de altura, se tivesse que adivinhar os dois provavelmente tinham idades bem próximas.

Se gritasse ladrão, aquele garoto estaria acabado. O rei havia decretado que todo ladrão teria a mão decepada se fosse flagrado e houvessem algumas testemunhas para confirmar. Ninguém duvidaria da palavra de Edd, não quando o ladrão tinha aquela aparência tão miserável e clichê.

Mesmo assim ele não soltou o pão, que já estava ficando feio e amassado. Sorte dele que ninguém estava prestando atenção na cena. Com a outra mão, agarrou o outro lado do pão escuro, partiu ele praticamente pela metade e logo depois soltou o pulso do garoto.

Ele olhou para a mão e depois lhe encarou por apenas um segundo, sem pensar duas vezes virou as costas e fugiu para onde a sua vista não alcançava.

Não-me-esqueçasOnde histórias criam vida. Descubra agora