Tord Ⅳ

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Tord definitivamente deveria ter achado mais estranho como havia se acostumado ao cheiro de fogo e sangue de uma batalha tão rapidamente, como se tivesse nascido naquele mundo para lutar. A satisfação que sentiu naquela primeira invasão, quando assassinou e cortou a cabeça fora do governante do reino do Norte, a glória e o jeito como sentia que podia fazer qualquer coisa no mundo apenas aumentavam a cada vitória consecutiva.

Como um líder, tinha prazer em lutar ao lado dos seus guerreiros, independente de como estivesse a situação, mas aquela pequena fortaleza foi bastante decepcionante. Tord estava com vontade de lutar uma batalha e derramar algum sangue burguês, mas, ao invés disso, havia aquele nobre patético praticamente ajoelhado aos seus pés, implorando por misericórdia.

Não tinha fogo e sangue em lugar algum, contra todas as expectativas ele se rendeu, havia ordenado que baixassem os portões e agora todos estavam naquele salão mal iluminado, com janelas pequenas e as paredes de tijolos de pedra. O tipo de arquitetura claustrofóbica que havia, pelo menos, alguns séculos de existência e os construtores não faziam mais. Ou seja, era bastante velho.

O tal do nobre com aquelas roupas espalhafatosas ainda tentava argumentar. Ele se mostrou mais que disposto a resolver a situação pacificamente e Tord não sabia se isso era covardia ou medo.

Talvez um pouco dos dois.

— Senhor, nós podemos entrar em algum tipo de acordo — A voz daquele nobre tremeu levemente no meio da frase. Ele estava parado no meio do salão e haviam guardas dos dois lados, enquanto Tord ficou perto da grande cadeira de madeira, o símbolo de poder daquele lugar, mas sem realmente tomar o lugar para si. — eu abri os portões para o seu exército, eu prometo que irei embora pacificamente.

Olhou para o nobre por alguns segundos, para a expressão ansiosa e levemente desesperada, mas que também tentava manter alguma compostura, mas a sua atenção se voltou novamente para aquele trono. Tinha uma almofada para torná-lo mais confortável, a madeira era escura, maciça e entalhada com diversas linhas e formas no encosto e nos braços. Realmente muito bonita.

— Eu permito que todos os seus servos saiam deste lugar para ter a liberdade que foram-lhe negados durante a vida inteira. — E vira o olhar para o nobre, que estava prestes a falar algo, mas Tord não permitiu. — Mas não você, meu caro.

Chamou alguns dos seus soldados com gesto e viu o nobre ficar pálido de medo, pronto para implorar por alguma coisa, mas contrariando várias possíveis expectativas dele, o Líder Vermelho não deu exatamente uma ordem:

— Podem pegar essa cadeira, a madeira dela é perfeita para fazer as fogueiras de hoje a noite.

Assim que se afastou alguns passos do trono, um soldado, especialmente maior que os outros, tirou o machado dele do chão, se aproximando da cadeira e, segurando o cabo com as duas mãos, ergueu a parte afiada e mortal. A força do homem e o peso absurdo da arma foram o suficiente para partir o encosto e um pedaço grande caiu para o lado, com um barulho alto demais. As armas que Paul fazia até não podiam ser muito bonitas, mas Tord nunca exigiu beleza em nada.

Destruir símbolos de poder era uma coisa bem importante para tirar o sentido e o significado que as pessoas ricas e poderosas tinham para quem, teoricamente, estava abaixo delas na sociedade.

O nobre se assustou com o golpe, encolhendo os ombros e arregalando os olhos para o trono destruído por alguns instantes, mas logo ele lhe encarou de novo.

— Se o senhor — Aquele pronome de tratamento respeitoso que ele continuava usando era para lhe convencer, Tord sabia disso. — tiver um pouco de misericórdia, eu juro, dou a minha palavra, que jamais voltarei. Pode levar todos os tesouros do cofre-

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