Não-me-esqueças

Tord ⅴ

Depois de conseguir roubar um bom pedaço de pão da cesta de uma mulher, Tord, infelizmente, foi notado antes que pudesse escapar e correu para se esconder naquele lugar escuro, onde pode aproveitar a comida que tinha acabado de conseguir. Na metade do pão escuro, enquanto olhava a movimentação baixa de pessoas, pronto para correr de novo se fosse necessário, viu aquele garoto especialmente alto que conhecia muito bem passando, parecendo desatento.

Tord foi rápido em agarrar o braço dele e puxá-lo para perto, Edd olhou na sua direção assustado apenas por um instante, afinal, ninguém gosta de ir para becos escuros contra a vontade, até que viu que não era nenhum desconhecido.

Qualquer dúvida que ele tivesse em mente foi respondida quando viu o pão pela metade:

— Tu ainda não parou de roubar?

— A mulher tinha roupas boas, ela vai ficar bem. — Edd revirou os olhos por causa das suas palavras cheias daquele julgamento preconceituoso, mas não necessariamente errado em todos os níveis. Tord não gostou disso, estreitou os olhos para ele e continuou. — O que foi?

— Nada! — Imediatamente levantou as duas mãos em sinal de rendição. — Eu só to preocupado com você.

— Preocupado?

— Sim. — Baixou as mãos. — Eles já estão te procurando desde que aquilo aconteceu, Tord, se tu se enfiar em outra merda de novo vai ficar mais difícil depois.

Analisou as palavras e a postura de Edd por alguns segundos, mas apenas comeu mais uma parte do pão antes de cruzar os braços, debochadamente:

— Você sabe que tá preocupado atoa, não sabe? — Se referia ao roubo, especificamente. — Se eu lembro bem, fiz a mesma coisa com você.

— Você sabe que eu não tô falando de roubar nada. — A seriedade com que ele disse isso não lhe pegou de surpresa e haviam alguns motivos para isso. Apenas um, para ser honesto, e Tord não gostava de ficar pensando sobre.

Ofereceu a sua refeição silenciosamente e Edd negou levemente com a cabeça, infelizmente aquilo não lhe deu tempo o suficiente para pensar em uma resposta. Esse assunto era uma merda, Tord não queria falar sobre isso e nem lembrar.

Mas também nunca se arrependeu de ter matado aquele homem, ele teve o que mereceu... Tinha quase certeza que ninguém o havia visto matando ninguém, achava que estava seguro, então a existência de supostas testemunhas foi uma surpresa. Ou talvez houvesse alguém olhando, não conseguia lembrar muito bem e isso não estava na sua lista de prioridades.

— O que eu to tentando falar, é que ainda tem gente te procurando. — Ele falou baixo e isso atraiu a sua atenção de novo, por mais que a insistência estivesse lhe aborrecendo um pouco. — Claro que você fez aquilo porque precisava, mas ninguém vai entender-

— Eu sei, tá bom?

Tratou de comer o restante do pão roubado, apesar de não estar mais com tanta fome assim, queria um motivo para não falar mais nada. Porém, Edd não saiu dali, teimosamente esperando que Tord continuasse mesmo que não soubesse bem o que dizer agora. Ainda tinha algo a ser dito?

— Ninguém me viu matando o cara, você só tá paranoico.

— Você tem certeza?

Abriu a boca para falar que sim, tinha toda a certeza do mundo, mas hesitou enquanto pensava melhor. O guarda real estava à procura de alguém com uma descrição física muito parecida com a sua, de altura, cor do cabelo e outras especificidades. Ultimamente, Tord precisava tomar mais cuidado ao sair, se via obrigado a cobrir o rosto e andar de cabeça baixa.

Passou uma mão no rosto, esfregou a ponta dos dedos no couro cabeludo e só abaixou o braço quando ele estava atrás da cabeça. Edd estava certo, não é?

— Quase certeza.

O garoto mais alto respirou fundo e lhe encarou sem parecer convencido com a resposta, mas suspirou resignado e tirou a capa de algodão longa com capuz dos ombros, em seguida colocando sobre os seus ombros com a maior naturalidade do mundo.

Precisou de um segundo e meio para processar aquela ação e sentiu-se nervosamente ansioso com Edd perto desse jeito, mas não conseguiu apontar um motivo exato.

— O que você tá-!?

Ele puxou o capuz para cobrir subitamente o seu rosto.

— Tem uns soldados rondando essa parte da cidade hoje. — Falou ao mesmo tempo que Tord arrumava o capuz de um jeito que pudesse ver para onde andava, mas não tinha como ajustar o jeito que a capa arrastava no chão. — Me agradeça por te salvar de uma execução depois.