Tord Ⅱ

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O frio que fazia no meio da floresta era especialmente perigoso, Tord já havia vivido ele na pele por tempo demais, sobrevivido apenas pela mais pura sorte e a maioria das pessoas jamais conseguiriam sobreviver aos dias de inverno nas montanhas que ele passou, desabrigado, ainda quando era apenas uma criança.

Não sabia tinha coragem de desafiar a morte assim mais uma vez e faria de tudo para não precisar.

Exatamente por isso que, mesmo morando no meio da floresta por falta de opções, Tord sempre mantinha e vigiava o fogo queimando na lareira durante o tempo que passava naquela casa, se escondendo dos soldados do rei. Grande parte desses momentos eram bastante solitários e até entediantes, claro que diferente de quando chegou naquele reino agora tinha uma casa, mas, mesmo assim, às vezes sentia falta dos dias, há anos atrás, em que andava por aquelas ruas geladas para conseguir roubar um pouco de comida ou só ver o Sol se pondo de cima de algum telhado antes que fosse expulso a vassouradas.

Estava gelado demais para treinar do lado de fora e a neve caía incessantemente, provavelmente esse era outro dia que ficaria sozinho naquele cômodo quadrado, não fazendo nada além de olhar o fogo. Mas as batidas na porta quebraram todas as suas expectativas do melhor jeito possível.

Quando Edd entrou, parecia doente de frio apesar de a pesada e longa capa de lã que cobria todo o corpo, fechando rapidamente a porta para friagem não entrar no ambiente infinitamente mais agradável que o lado de fora. Ele tirou uma cesta de baixo da capa e Tord sorriu um pouco, olhando na direção dele, mas sem ter vontade de sair de perto da fonte de calor:

— Olha só quem deu as caras.

— Vim ver se você não morreu congelado. — Retrucou enquanto andava para perto da lareira, também não se incomodando em sentar no chão logo do seu lado. — Trouxe algumas coisas.

Pegou a cesta das mãos dele e viu alguns pães escuros, um saco de grãos e algumas frutinhas vermelhas, azuis escuras e roxas, praticamente o único tipo de fruta que crescia nos arbustos naquelas terras geladas. Pegou um pequeno punhado delas e colocou na boca, eram todas doces.

Só teve alguns segundos para mastigar e engolir antes de Edd falar novamente:

— Amanhã eu vou procurar pelas pessoas que o Yuu e o Yanov falaram. — Ele pegou um dos pães e partiu ao meio antes de dar uma mordida, não demorando muito para comer. — Tu tem certeza que a gente pode confiar neles?

— Eu tenho um bom pressentimento sobre os dois.

Tord tinha a tendência a ter uma intuição muito boa, por mais que não seguisse muito ela. Mas Yuu e Yanov pareceram muito dispostos a ajudar Tord com o que, com um pouco de sorte, se tornaria algo muito maior.

O outro lhe encarou por alguns instantes, com aquele olhar interessado que já tinha visto tantas vezes antes, mas encolheu os ombros discretamente:

— Se você diz.

Os próximos momentos de silêncio foram bastante chatos, se fosse ser bem honesto. Tinha apenas o som do fogo crepitando e Edd esfregando uma mão na outra antes de colocar as duas perto da fonte de calor. Tord estava bem em ficar assim, sem fazer nada, mas naquele momento, olhando para o mais alto apenas de perfil, decidiu que queria colocar as mãos nele.

Por isso chegou perto e encostou-se no moreno, ficando feliz quando ele não pensou duas vezes e colocou um braço por cima dos seus ombros. Tord também puxou a capa dele para que cobrisse ambos e nesse momento Edd virou um pouco e lhe ofereceu um sorriso.

Com a cabeça deitada no ombro, descansou a mão oposta no peito dele e lentamente ela desceu cada vez mais para o sul, até finalmente parar nas calças de algodão.

Não-me-esqueçasOnde histórias criam vida. Descubra agora