Prólogo

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Abril, 1815
       Como toda manhã ensolarada de quarta-feira, Lillian, a condessa de Shaftesbury,  caminhava pelos jardins de sua casa com a companhia de Thomas Headstone, seu  marido.
       Eles eram conhecidos como o casal mais apaixonante de toda a Inglaterra. Casaram-se jovens (Lillian tinha 19 anos e Thomas, 27) e por amor, algo que não era muito comum para o período. E agora, 2 anos depois de seu casamento, esperavam seu primeiro filho.
    - Se for menina, o que acha de Emma?- perguntou Lillian
    Faltava poucos meses para o nascimento do bebê e Lillian não conseguia pensar em outra coisa.
  - Acho que Emma ficaria perfeito- respondeu Thomas - Lady Emma Headstone, fica muito bonito, não acha?
  - E se for menino? Não me diga que irá querer nomeá-lo de Thomas- brincou a esposa
  - Infelizmente não, minha cara esposa. Sinto que vou querer chamá-lo de George, em homenagem à nossos pais, o que acha?
   Pelo incrível que pareça, ambos os pais se chamavam George, eram ótimos amigos, sem eles provavelmente Lillian e Thomas nunca teriam se conhecido e apaixonado. Mas infelizmente, ambos morreram no campo de batalha e antes mesmo de seus filhos se casarem.
   E ao lembrar disso os olhos de Lillian começaram a se encher de lágrimas.
  - Perfeito- respondeu ela dando um beijo no rosto do marido
   Porém Thomas retribuiu-a com um beijo apaixonado com um toque de urgência e desespero. Mal eles sabiam que esse poderia ser o último beijo que trocariam.
- Precisamos conversar- Thomas disse, puxando-a para dentro de casa

                                                             ~
- Serei direto com você, Lillian, por que eu não sei se existe outro jeito- Thomas não conseguia parar de andar de um lado para o outro na sala enquanto tentava falar com a esposa
- Thomas, você está me assustando, o que houve?
- Eu me alistei, Lillian
   "Eu me alistei", quando ouviu essas palavras, Lillian já havia perdido o chão e se desabou em lágrimas. Como ele podia fazer isso com ela? e principalmente agora com seu filho a caminho, o que ele tinha na cabeça? Claro, ele era um homem protetor e que tinha medo de algo ruim acontecer com sua família e seu país, mas isso era demais.
- Thomas, diga para mim que isso é uma brincadeira!
- Não brincaria com uma coisa dessas, Lillian, você sabe disso. Não havia outro modo de lhe contar, por favor, meu amor, me perdoe, fiz isso por nós- disse ele colocando a mão na barriga da esposa, e podia jurar que sentiu o bebê se mover com seu toque.
- Não diga isso, você não iria se alistar e se arriscar se fosse por nós!- Lillian saiu de perto do toque do marido e se sentou na poltrona, antes que ela desmaiasse
-Lillian, me escute, nosso país pode entrar em perigo a qualquer momento, e não ajudaria em nada se ficar aqui em casa
-Claro que iria ajudar! Você ficaria seguro, com sua esposa, ajudando e vendo seu filho crescer! Não é o bastante?- tarde demais, Lillian já estava chorando sem parar, e sentia que nada iria acalmá-la naquele momento.
   Era óbvio o motivo do desespero de Lillian, ela perdeu o pai em uma guerra terrível com apenas 18 anos. Alguns meses depois de seu casamento com Thomas, aos 19 anos, sua mãe também faleceu, deixando-a apenas com suas irmãs e a família de Thomas. A morte do pai de Thomas não foi muito diferente, foi encontrado morto em solos de guerra, faltando apenas alguns dias para o casamento do filho, fazendo Thomas herdar o título mais cedo do que esperava.
  E agora corria o risco de perder Thomas? Isso não poderia acontecer, mas também sabia que seu marido era um homem teimoso e iria mesmo se ela implorasse para ele.
  Thomas, ao ver as lágrimas caindo sem parar do rosto da esposa, foi em sua direção e a abraçou com força, e também ficou brincando com os cachos ruivos que caíram do coque de Lillian.
  -Não será para sempre, Lillian, prometo estar de volta em casa antes mesmo do bebê nascer. Nada de ruim vai me acontecer, eu te prometo.
-É uma guerra, Thomas, você não tem como me garantir
-Confie em mim, Lillian, eu sentirei sua falta todos os dias, e podemos nos escrever sempre, e você me contará tudo que desejar. Eu juro para você que eu vou voltar para você, e poderemos viver felizes sem uma guerra batendo à nossa porta- Thomas se abaixou e roçou a boca da esposa com os lábios.
- Tudo bem, eu vou te apoiar, Thomas, mas por favor volte o quanto antes
  Thomas tirou as lágrimas do rosto de Lillian e a beijou.
  Dois dias depois, Thomas havia partido, fazendo Lillian chorar quase o dia todo.
                                                    ~
Junho, 1815

O mês seguinte foi silencioso e os dias passavam cada vez mais devagar sem Thomas, mas Lillian fez o que prometeu ao marido, o escrevia todos os dias e em algumas vezes, mandava uma flor de seus jardins para ele, assim ele se sentiria mais perto de casa. Lillian sentia que assim, seu marido logo estaria em casa cuidando de sua família.
    Mas Lillian estava errada.
  Era uma manhã de quarta-feira, e como sempre Lillian passeava pelos jardins, tudo parecia tranquilo, até Olívia, sua criada (e melhor amiga), se aproximar com uma carta na mão.
     -Senhora?- disse Olivia- essa carta acaba de chegar, acredito que pode ser de seu marido.
     - Obrigada, Olivia- disse Lillian abrindo a carta e começando a lê-la
E então desmaiou.
Seu marido foi dado como desaparecido e provavelmente morto em batalha.
E agora, só tinha seu bebê. Ou pelo menos pensou que tivesse.
Por conta de sua queda do desmaio, Lillian deu a luz mais cedo do que previsto, mas seu bebê, sua linda menininha, sua pequena Emma, havia nascido fraca, e morreu uma semana depois de seu nascimento. E agora Lillian estava sozinha, ela havia perdido tudo.
    Lillian Headstone, aos 21 anos, virou a condessa viúva de Shaftesbury, perdeu seu marido e sua filha praticamente de uma vez.
   Perdeu tudo que dava valor, seu porto seguro, seu marido Thomas Headstone.

    Ou pelo menos pensou que o havia perdido.

Memórias de um amor perdido (irmãs Benningfield, livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora