Capitulo 6

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Anos antes

Thomas nunca foi uma pessoa que gostava de comparecer em bailes, quase nunca os comparecia, mas quando faziam-se bailes em sua casa não tinha como fugir. Diferente de seu irmão que fugia para se encontrar com amantes e para beber, Thomas não era do estilo libertino, sempre acreditou que deveria se casar por amor e esperar a mulher certa, afinal, aconteceu isso com seus pais.
Estava perto da mesa com alguns doces, pensando no tempo que demorava para acabar o evento, não aguentava seus pais insistindo para que dançasse com damas diferentes. Mas ao ver seu pai se aproximando, mal ele sabia que uma dança o faria o homem mais feliz da noite.
- Finalmente encontrei você- disse o pai
- Estava me procurando?
- Isso é meio evidente
Thomas deu um sorrisinho, ele e seu pai sempre foram próximos, e se tratavam quase como irmãos.
- Gostaria de lhe apresentar alguém.
- Outra dama?
- Sim, e não. Você verá- George deu um tapinha no ombro do filho- venha.
Thomas seguiu o pai até os jardins da casa, estava escuro e algumas pessoas estavam do lado de fora. Eles chegaram perto de um homem alto, e seu pai o chamou.
- Thomas, gostaria de lhe apresentar George Benningfield, marquês de Essex, e meu braço direito.
- Um prazer, rapaz- o homem lhe estendeu a mão- acredito que não conhece minha filha, conhece?
Thomas negou.
- Não tive o prazer.
Thomas já esperava isso, seu pai queria vê-lo casado antes dos 30 anos, e não desistiria tão facilmente.
- Com licença, irei chamá-la- o marquês se virou e chamou a moça- Lillian, querida, poderia vir até aqui um momento?
E das sombras dos jardins, ela surgiu, a mulher mais linda que Thomas já havia visto. Tinha uma pele clara e pálida com algumas sardas claras na região da bochecha, seus olhos eram um pouco acinzentados e seus cabelos... eram a coisa mais bela nela, depois de seu sorriso cativante, eram ruivos claros e estavam presos em um penteado pouco elaborado. A sua vontade naquele momento era tirar cada um dos grampos e passar os dedos em seu cabelo, e ela usava um lindo vestido em tons de pêssego com luvas brancas. Para Thomas, ela era um anjo que descera do céu, e sabia que já estava apaixonado no mesmo momento em que a viu.
- Esta é minha filha, Lillian Benningfield, a segunda mais nova dentre minhas filhas.
- Srta.Benningfield- Thomas pegou sua mão e a beijou com leveza a região macia- devo admitir que nunca a vi nos salões de baile, é sua primeira temporada?
- Na verdade sim, Sr. Headstone- disse com um sorriso que fez Thomas se derreter- Estou achando esta festa muitíssimo agradável, na realidade este também é meu primeiro baile.
Algo nela o atraía, provavelmente era sua inocência, ou apenas seu sorriso.
- Bem, os deixaremos à sós para conversarem- disse o marquês- vamos, George?
-Claro, George.
Quando ambos saíram, Thomas e Lillian começaram a rir. Era muita coincidência seus pais terem o mesmo nome. E novamente a risada de Lillian deixou Thomas com um sentimento novo dentro de si.
Paixão?
Amor?
Desejo?
- Alguém já a chamou para dançar, Srta.Benningfield?
- Deveria interpretar isso como um convite, Sr.Headstone?
- Podemos dizer que sim- ele deu um sorriso malicioso e estendeu seu braço para ela- e por favor, me chame de Thomas.
- Claro, Thomas.- disse ela com um ar divertido.
Lillian pegou em seu braço e foram para a pista de dança. Onde Lillian valsou pela primeira vez, e onde Thomas gostou de valsar pela primeira vez na vida, como foi possível ela conceder a primeira valsa que dançaria na temporada com ele? Ela fazia algo com ele, ela o mudava, apenas com um sorriso ou um pequeno gesto, uma coisa ele sabia, não iria descansar até tê-la como esposa.
Mais tarde, estavam no jardim onde se conheceram, mas a diferença era que estavam totalmente sozinhos. Ficaram conversando sobre tudo, e a cada palavra de Lillian, Thomas já se sentia cada vez mais apaixonado por ela, queria que aquele momento durasse para sempre, somente os 2, um do lado do outro.
- Bem, eu devo ir- disse Lillian se levantando- meu pai deve estar me procurando, e prometi a minha irmã que a levaria a nossa modista pela manhã, espero que compreenda.
Thomas assentiu, mas ficou segurando a mão dela, sem soltar.
- Sr.Headstone, eu devo ir.
- Thomas.
- Thomas, eu devo ir- ela disse com uma risadinha.
- Eu sei.
- Então por que está me segurando?
- Eu não sei- disse se levantando e sussurrando perto do ouvido dela.
E então, ele a beijou. Foi suave e doce, como toda mulher sonha que seu primeiro beijo seja. Queria mais que um simples beijo doce, queria pegá-la nos braços e nunca mais soltá-la. Para Thomas, Lillian virou uma sereia que o encantou.
Thomas se afastou lentamente, se abaixou e pegou a única pequena flor de margarida que havia por perto, e a entregou. Mas ainda não satisfeito, a beijou novamente, ainda com suavidade.
- Espero vê-la novamente, Srta.Benningfield.
Lillian assentiu. Não conseguia falar, ainda estava em choque pelo beijo dado por Thomas.
- E também espero, poder lhe enviar cartas- disse beijando sua bochecha direita-, flores- beijando seu nariz- , lhe cortejar- beijando sua testa, e também...
-Também...?- insistiu ela, ansiosa pelo o que viria.
- Ter a honra de tê-la um dia como minha condessa- por fim beijou seus lábios, se afastou e andou de volta para o salão, deixando Lillian sozinha no jardim. Apenas com a pequena margarida em suas mãos.
- Eu também espero...- sussurrou .
~
Janeiro, 1816

Lillian estava de volta no mesmo jardim onde ela conheceu seu marido, era bom para ela visitar aquele lugar, lhe trazia boas lembranças. Seu primeiro encontro, seu primeiro beijo, a declaração de Thomas, e a última vez que viu o marido aconteceram naquele jardim. Era um lugar importante para ela, tão importante que ela mandou colocar o túmulo de seu marido e filha em um lugar mais afastado do jardim, e sempre que podia, ia visitá-los.
- Oi, meu amor- falou ela enquanto se sentava na frente do túmulo do marido- eu só gostaria de falar que, sinto muito sua falta. Ainda não consigo acreditar que você se foi. Eu ainda acredito que você esteja vivo, mas...-começou a chorar, e depois soluçar- às vezes, está ficando difícil, sabe? Acreditar que você irá voltar para mim, e poderemos viver juntos novamente.
Ela se virou para o túmulo ao lado, onde repousava sua pequena Emma.
- Ai Emma, você, meu raio de luz, também me faz tanta falta. Posso não ter vivido tanto tempo com você, mas eu te amo mais que tudo, e sei que você está no céu, abraçada ao seu pai, e cuidando de mim.
Lillian voltou a chorar, sentia falta de sua família, sentia que perdera tudo, e que ficou sem nada. Estava chorando tanto, que nem percebeu quando Michael se aproximou e colocou a mão em seu ombro. Lillian levou um pequeno susto e se virou para ele.
- Sinto muito, Sra.Headstone, eu não queria assustá-la.
- Está tudo bem, Michael, não foi nada.
Michael viu seus olhos vermelho e o rosto inchado de tanto chorar, ele não sabia o motivo, mas odiou vê-la chorar em sua frente.
- Estava procurando a senhora, e Olivia disse que poderia estar aqui.
- Ah, sim- disse tentando tirar as lágrimas que escorriam de seu rosto- está tudo bem, Michael? Foi bem recebido?
- Sim, milady. Eu apenas gostaria de saber se a senhora precisava de alguma coisa.
- No momento não, Michael, obrigada.
Thomas fez uma reverência e seguiu em direção à casa.
- Michael, espera!
Ele se virou.
- Se não se importar, poderia ficar um pouco e me fazer companhia? É que não estou num bom momento.
- Claro, milady.
Milady? Ele falava de um jeito muito formal para um simples criado, quem era ele?
Michael se aproximou dela e se sentou ao seu lado, e olhou para as lápides em sua frente. Dois nomes, ambos pareciam familiares, e não era por conta do sobrenome. Parecia loucura, mas se viu falando o nome "Emma Headstone" à muito tempo atrás. Mas ignorou esse fato e se virou para Lillian.
- Perdoe-me a pergunta, mas- ele apontou para a lápide em sua direita- é seu marido?
- Infelizmente, sim.
- Sinto muito, Sra. Headstone.
- Tudo bem, e por favor, me chame de Lillian.
-Claro.
- E esta- disse apontando para a lápide na esquerda- é minha filha.
- Eu sinto muito, Lillian. Nem imagino na perda que você sofreu.
E novamente, Lillian voltou a chorar, mas Michael não ficou em silêncio. Ele se virou, e encontrou uma única margarida na grama, ele a pegou e deu para ela.
- Não chore, Lillian, por favor. Se você chora, tira seu sorriso lindo de seu rosto.- ele deu a margarida em suas mãos - Espero que essa pequena flor possa lhe alegrar.
E então, com aquela frase, Lillian foi teletransportada um ano antes.
~
1815

Lillian estava no jardim de sua casa, com Thomas em sua frente, abraçando-a e mexendo em seus cachos ruivos que estavam soltos. Era real, ele estava partindo para uma guerra, e não era certo se eles um dia voltariam a se ver.
Ela chorava em seus braços, chorava até soluçar, não queria ter que se afastar dele.
- Mandarei cartas sempre que possível- disse dando-a um beijo no topo da cabeça dela.
Lillian assentiu, pois ainda não conseguia falar.
- E você- ele se abaixou e deu um beijo no ventre da esposa- meu pequeno bebê, trate de não nascer até eu retornar para tê-lo nos braços.
Lillian deu uma risadinha, não pode evitar, mas em seguida voltou a chorar.
- Meu amor, não chore, por favor. Se você chora, tira esse seu sorriso lindo do rosto- ele deu um beijo longo e apaixonado na esposa, ambos sabiam que era um beijo de "adeus"- Eu te amo, e voltarei por você.
E então o bebê chutou, Thomas olhou para a barriga de Lilly, e disse:
- Acalme-se, voltarei por você também- falou fazendo uma carícia na região.
- Eu te amo- falou Lillian- volte logo.
- Voltarei, meu amor, voltarei- e ele deu um último beijo em sua testa.
E em seguida, ele se foi, e Lillian, nunca mais o viu.
~
-Obrigada, Michael- disse dando um sorriso.
-Temos um sorriso?- ele respondeu com outro sorriso- sou melhor nisso do que eu pensei.
Ela assentiu, agora dando um sorriso de verdade.
-Acredito que devo voltar, preciso arrumar algumas coisas na casa- ele se levantou, mas Lillian o segurou pelo braço.
-Se precisar de qualquer tipo de ajuda, para descobrir seu passado, pode me chamar.- ela deu um sorriso tímido.
-Obrigada, Lillian.
Ele voltou para casa, enquanto ela ficava por mais alguns instantes perto do túmulo do marido e de sua filha.

Memórias de um amor perdido (irmãs Benningfield, livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora