Capítulo 19

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Capítulo 19

    Com algumas horas, Lillian e Thomas retornaram à Londres. Lilly deu ao marido um pouco de dinheiro para poder comer ao longo do dia, ele a deixou algumas quadras distante de casa, pois não podia ser visto. Lillian deixou seu cavalo no estábulo, onde encontrou Olivia e Catherine dormindo sentadas no feno.
   Sentiu pena.
   Elas provavelmente estavam esperando-a voltar ainda a noite, mas só voltou pela manhã.
    Lilly cutucou o braço de Kate.
   - Kate- sussurrou- eu voltei, acorde.
Catherine se contorceu, empurrando-a para longe.
   - Só mais cinco minutinhos...- bocejou.
   - Kate, é a Lillian- falou um pouco mais alto.
Nesse momento, Catherine acordou em um pulo, arregalando os olhos. Levantou-se tão rapidamente que derrubou Olivia, que ao ver Lillian também se levantou em um pulo.
  - Lillian Benningfield por onde esteve?! Não o encontrou?!- perguntou Olivia com um ar de preocupação.
   Catherine começou a gargalhar. Ambas olharam para a mais nova.
  - Desculpe- disse voltando a rir.
  - Qual é a graça, Catherine?- Olivia se virou para ela- John pode aparecer a qualquer momento e você está rindo?!- disse indignada.
   Lillian olhava as duas sem entender nada.
  - Desculpe- falou respirando fundo para parar de rir- sinto muito, Olivia, tenho certeza que Lilly achou Thomas. A questão não era onde eles estavam, mas sim o que estavam fazendo- ela voltou a gargalhar.
  Quando terminou de ouvir tal coisa, Olivia também começou a rir, mas pouco. Já Lillian ficou com as bochechas coradas com um rosto surpreso. Deveria mesmo discutir esse fator da sua vida com elas?
  Lillian limpou a garganta para chamar a atenção das duas.
- Desculpe- disse Olivia- venha, vamos entrar pelos fundos- dito isso as três começaram a andar em direção da porta- lembre-se, abrirei seu quarto para que entre, em seguida irei trancar para que John não desconfie de nada.
  - Ele está vindo para cá?- perguntou Lillian ao entrar em casa.
  - Ouvi-o comentando com Alexandra que pretendia passar a tarde com você- respondeu Catherine
  Claro que ele viria, acreditava mesmo que conseguiria fazer Lillian se apaixonar por ele em apenas um dia antes do "casamento", aquele que não haveria, pois fugiria antes mesmo do galo cantar. Ah, essa fuga. Enquanto subia as escadas silenciosamente Lillian pensava como seria sua vida após aquela noite. Tinha sabedoria de uma propriedade em Kent, que Thomas havia pedido que fosse feita apenas para a lua de mel dos dois, então John nem o resto da família sabiam de lá, seria bom para um recomeço, onde ninguém procuraria por eles, poderiam ter seus filhos, criar uma plantação, uma estufa...
   Havia milhares de possibilidades.
   Olivia abriu a porta do quarto, como prometido, ao trancá-la Lillian foi rapidamente trocar o vestido que havia colado antes de sair na madrugada, que agora estava imundo, pela primeira camisola que encontrou em seu quarto de vestir e se deitou.
   Não queria dormir, mas havia acordado cedo e teve longas horas de estrada, precisava descansar.
    Lillian acordou com o som da porta sendo destrancada.
  - Lilly?- era uma voz masculina, mas não a de John, então só podia ser...
  - James?
  - Soube o que houve ontem a noite, você está bem?
  - Na medida do possível, sim- disse se ajeitando na cama- não quer entrar?
James entrou e encostou a porta do quarto, em seguida se sentou ao lado de Lillian.
  - Só quero que saiba, sua irmã a ama muito, ela não fez isso por mal- ele passou a mão pelos cabelos- Só que... quando ela voltou para Rutland , ela não parava de falar como estava cansada de te ver triste, e achou uma boa ideia te noivar com John. Mas depois do que houve ontem, eu preciso discordar.
  - Ela sabia que John me trancou aqui?
  - Primeiramente não, ela tinha vindo falar com você ontem a noite, mas o quarto estava trancado. Saiba que ela sente muito pelo o que fez.
  Lillian não sabia o que dizer, era difícil perdoar a irmã depois de tudo. Mas James estava certo, Alexandra era sua irmã e ela nunca faria algo para machucá-la, tudo que fez foi por que se importava, mesmo que tenha feito uma tremenda besteira.
- Ela lhe contou?- perguntou
- Contou o quê?
- Ela está grávida, James- deu um sorriso trêmulo.
  James por sua vez fez uma cara de espanto, em seguida começou a sorrir.
- Pela sua cara, ela não contou- Lillian riu- por favor, finja que não falei nada, ou ela me matará.
- Sobre o que estão falando?- ambos levantaram o olhar para a porta, onde Alexandra os observava com um sorriso trêmulo.
   James se levantou andando para a saída, mas não antes de beijá-la e beijar sua barriga, Alexandra se surpreendeu com tal ato.
  - Como você sab...
  - Tenham uma boa conversa, meninas- ele saiu.
   Alexandra apenas sorriu para si mesma e observou Lillian, ela se sentia culpada, muito culpada.
  - Escute, Lillian, e-eu...
  - Eu sei, Alex- Lillian sorriu, esticando a mão para que a irmã viesse para perto.
   Alexandra não perdeu tempo e saiu correndo para abraçar a irmã, enquanto lágrimas escorriam pelo seu rosto sem parar.
  - Você não sabe o quanto eu me sinto culpada. Eu queria apenas lhe fazer feliz, mas nem isso eu consigo. Desde que papai e mamãe morreram, eu tento ser forte por nós, tento assumir as rédeas sozinha, mas eu não consigo. Por favor, Lillian, me perdoe.
  Lillian a abraçava apertado.
  - Ah, Alex, eu lhe perdoo, não se preocupe... - ela sorriu.
  - Se você quiser mandarei um mensageiro para a casa de John, cancelando a cerimônia de amanhã.
   Isso era tudo o que Lillian queria...
   Mas não, não podia aceitar.
   Tinha certeza que John ficaria furioso e viria atrás dela, arruinando completamente seu plano de fugir quando a noite caísse. Deveria fingir. Deveria fazer todos acreditarem que agora entendeu a situação e que se casaria contra sua vontade.
  - Não faça isso, Alex. Você me fez abrir os olhos- mentiu- agora sei que devo fazer isso, ou irei cair na miséria.
   Alexandra a olhou com curiosidade.
  - E quanto a Michael?
  - Não houve nada entre nós, então tudo fica mais fácil assim.
  - Eu entendo...- ela se levantou- venha, vamos tomar café da manhã, as crianças estão loucas para brincar com você.
  Lillian sorriu e logo se levantou da cama, seguindo a irmã.
  - Por acaso você contou a ele sobre o bebê?
   - Não sei do que você está falando- disse rindo descendo rapidamente as escadas.
   Alexandra a seguiu em seguida.

                                                     ~
   Já que o noivado entre Lilliane John foi às pressas, não haveria muito convidados ou preparativos elaborados. Ou seja, teria o resto do dia para se preparar para a fuga e se despedir sem que ninguém desconfie.
  Passou o resto da manhã conversando com as irmãs, principalmente com Georgiana, que tinha certeza que assim que tudo estivesse resolvido, voltaria para Harvey, marido, filhos e obrigações, e desapareceria da Inglaterra por mais um ano.
   A hora do almoço chegou em um piscar de olhos, e com ela, John apareceu em sua casa, segurando um buquê das flores favoritas de Lillian, rosas. O desgraçado a conhecia muito bem.
   Quando chegou, Lillian estava em seu escritório, pensando no que escrever em seu bilhete para a família, do motivo de ter desaparecido. Mas não sabia ao menos como terminá-lo.
   John bateu na porta do escritório e em seguida entrou, com seu sorriso libertino.
   - Boa tarde, Sr.Headstone- disse Lillian, surpresa, pegando o bilhete meio-escrito, o guardando rapidamente.
   John se intrigou com sua atitude, mas não perguntou nada.
  - Boa tarde, querida Lillian- disse entregando o buquê- espero que goste, lembrei de nossa conversa alguns anos atrás, onde disse que esta era sua flor favorita.
  - Mas... elas estão fora de época, estamos praticamente no outono.
  - Faço de tudo para que fique feliz, querida, já que iremos nos casar pela manhã.
   Ah, é mesmo. O casamento.
- Se o senhor veio até minha casa para entregar-me estas flores, já pode se retirar- ela devolveu as flores para ele.
  - Na verdade- ele deu novamente as flores- eu tenho sim coisas para tratar com você.
   Lillian arregalou os olhos, surpresa, e indicou uma cadeira para que ele se sentasse.
  - Diga.
  - Primeiramente, gostaria de me desculpar pelo meu comportamento ontem, realmente fui muito rude com você, e...- ele se endireitou- nem pense em revirar os olhos.
  - E-eu não estava...
  - Estava sim, sabe que estava.
   Ela realmente havia revirado os olhos, e se não bastava, ela revirou novamente.
  - Bem-continuou- outro assunto que gostaria de tratar é em respeito da... como posso dizer...
  - Sua vida dormindo com todas as mulheres solteiras e casadas da Inglaterra e Escócia?
- Como sabe da Escócia?
  - Lembro-me que o senhor havia me mandado uma carta falando sobre as mulheres de lá, e acredito que não ficou apenas as observando.
  Ela o conhecia bem, e se defende com garras e dentes.
- Sim, é sobre isso-falou ignorando seu último comentário- a partir de hoje eu não me encontrarei com nenhuma mulher, principalmente com Cecilly Murray, pois eu a amo muito, Lillian e serei leal a você em todos os sentidos.
- O senhor dormiu com Cecilly?  Por Deus, John, ela é casada com um duque, ele poderia tê-lo matado!
  Ele apenas riu de sua preocupação.
- Mais do que pode ser contado nos dedos- ele riu.
- Meu Deus-murmurou.
- Mas tanto ela quanto as outras mulheres estão no passado, agora só terei olhos e ouvidos para você.
   A vontade dela era se levantar e pedir para que ele diga isso para a mulher que ele realmente irá se casar e amar com toda sua alma, para Lillian, John sentia apenas amor carnal por ela, ou talvez rivalidade com o irmão e queria se vingar. Talvez ela nunca soubesse.
   Talvez a vida deles deveria ser assim.
- Agradeço por suas sábias palavras, milorde. Mas insisto que continue com as amantes, se assim o agrada. Afinal, minha função é apenas lhe dar um herdeiro, e nada mais.
  De uma coisa era certa. Lillian cresceu em um lar amoroso e carinhoso, onde uma de suas regras principais era sempre ter honestidade, nunca mentir. Elizabeth sempre dizia isso as filhas. "Se for um duque bonito e rico, poderá mentir para agradá-lo em certos assuntos, mas essa é a única exceção de vocês quatro". 
- Acredito que a senhora não entendeu. Eu quero parar de ser um libertino, e dedicar todas as horas do meu dia para lhe fazer feliz, e amá-la até a morte.
   Nesse momento, Lillian percebeu.
   Ele tinha um coração puro, um coração nobre. Ele merecia um amor. Tudo o que ele fazia e fez até certo ponto, era porque queria ser amado, se sentir querido, se sentir desejado.
  A parte triste era que não era Lillian que o faria se sentir assim.
  Pouco tempo depois, John se foi, dando um leve beijo na mão da "noiva" prometendo que tudo na manhã seguinte seria perfeito. Bem, para ele talvez não, mas para ela...
  Lillian voltou para o escritório pouco tempo depois para terminar de escrever seu bilhete. Mas dessa vez, escreveria para John, e apenas para John. Pois vejam bem, a família já tinha uma irmã que era praticamente um fantasma, eles não morreriam se tivesse outro, mas também ela poderia enviar cartas para as irmãs, e explicar o ocorrido.
    Ao acabar de escrever, Lillian foi até a sala de jantar, para aproveitar seus últimos momentos ao lado da família e do luxo antes de sua grande fuga.
   Quando o jantar se deu um fim, Lillian correu para o seu quarto e o trancou, já preparando suas malas, para a viagem de volta para Kent.
   Lillian esperou e esperou até o dia começar a nascer.
   Mas Thomas não apareceu para buscá-la.
 

Memórias de um amor perdido (irmãs Benningfield, livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora