Tempestade

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As horas seguintes foram uma loucura. Mel se vestiu rapidamente e seguiu para o hospital, sabia que não podia fazer muita coisa lá, mas não aguentaria ficar em casa pensando demais. O hospital estava cercado de pessoas e por carros da polícia, aparentemente toda a cidade estava ali. Ela precisou mostrar o crachá de médica para conseguir entrar.
Lá dentro as coisas não estavam melhores, as enfermeiras contaram a ela, aos prantos, que dois homens estranhos chegaram apontando uma arma para elas e perguntando em que quarto o garoto estava, elas não queriam morrer, então falaram. Os policiais não estavam preparados, houve troca de tiros, e um dos assassinos entrou no quarto e atirou na cabeça dele, em seguida um dos policiais que tinha conseguido escapar dos tiros matou o bandido, o outro conseguiu fugir.
Mel não acreditava que aquilo realmente estava acontecendo, havia ido pra lá para buscar um pouco de paz, apesar do problema de criminalidade, nunca imaginou que algo daquele tipo aconteceria. Ela procurou Tom mas não o encontrou. Descobriu que não conseguiria ficar ali sem cair no choro. Então voltou pra casa.
Teve que tomar um remédio para dormir, sua cabeça parecia que ia estourar, só conseguiu pegar no sono quando o remédio finalmente fez efeito, algumas horas depois ela foi acordada por pancadas na porta, se assustou ao ouvir Tomas chamar o nome dela.
Correu para abrir a porta e encontrou um homem completamente transtornado.
- O que diabos você pensa que está fazendo?
- Eu tomei um remédio e acabei apagando.
- Eu quase arrombei sua porta, liguei pro teu celular várias vezes. Caralho.
Disse praticamente arrancando os cabelos.
- Eu sinto muito. O que aconteceu agora. Porque você está tão desesperado?
- Eles sabem que o Dioni contou pra gente o que ele viu lá.
- O que ...
Melissa sentiu sua vista escurecer. Ela sentou na cadeira mais próxima. As lágrimas voltando a surgir.
- Você precisa ir embora. Voltar pra Nova Iorque.
- O que? Como você sabe que eu sou de lá.
- Não importa. Você está correndo perigo. Eles vão querer eliminar qualquer um que possa ameaçar o que eles estão fazendo.
- Mas você também está nessa lista então.
- Eu sou policial. Eu tenho que lidar com isso. E eu não vou conseguir me preocupar com a investigação se tiver que te proteger.
- Eu sei me cuidar.
Tomas colocou a mão no bolso e tirou de lá um papel amassado. Abriu e mostrou a ela.
Melissa correu para a pia e vomitou.
- Eu não queria ter que fazer isso, mas se é só assim que você vai entender. É isso que eles fazem. Eles não tem dó e nem piedade. Essas fotos Melissa são do que restou do Dioni. Um corpo com um tiro na cabeça. Eu fui o responsável pela morte dele, não quero ser pela sua também. Então pega as suas coisas e volta pra sua família, esse maldito lugar não é pra você. Eu vou te esperar no carro. Vou te levar pra ter certeza de que vai chegar lá em segurança.
Mel sabia que ele tinha razão, queria dizer que ele não era o culpado, que os bandidos que mataram Dioni é que eram, mas naquele momento ela simplesmente não conseguia pensar em nada. Só queria sair dali o mais rápido possível. Pegou suas roupas e as poucas coisas que havia levado e a única coisa diferente que ia com ela, era o gato. Pelo menos uma lembrança boa daquele lugar.
Eles iniciaram a viagem e logo estavam fora da cidade.
- O que você pretende fazer?
- Sobre?
- Sobre esse caso, sobre a morte do Dioni ...
- Eu vou investigar. O FBI quer que eu seja o suporte deles aqui na cidade e eu pretendo fazer o impossível para fazer aqueles desgraçados pagarem pelo que eles fizeram.
- Eu acredito em você. E quando tudo isso passar eu pretendo voltar pra lá.
- Você é maluca. Depois de tudo isso você ainda quer morar naquele inferno?
- Eu nunca tinha me sentido tão útil na vida como eu me senti lá. É isso que eu quero fazer da minha vida. Foi pra isso que eu me formei, estar onde precisam de mim. Igual você.
- Não julgue que me conhece doutora. Você não sabe nada sobre meus motivos.
Depois disso a viagem foi silenciosa. Ela decidiu que não valia a pena puxar qualquer assunto. Já estava quase amanhecendo quando eles chegaram a agitada cidade que nunca dorme. Mel deu o endereço do seu apartamento para ele e em alguns minutos eles pararam na frente.
Ela ia tirar o cinto e descer
- Melissa. Espera. Eu preciso pedir desculpas.
- Pelo que exatamente?
- Por tudo. Por ter sido um idiota com você, mas principalmente por não ter controlado meus instintos ontem. Aquilo não deveria ter acontecido.
Melissa sabia que aquilo aconteceria.
- Você se arrependeu né.
Tom não respondeu. Nem precisava. Ela desceu do carro, pegou suas coisas, o porteiro veio ajudá-la e ele partiu.
Ela não sabia o motivo, mas aquilo pareceu tanto um adeus, sentiu seu coração de partindo em mil pedaços. Não queria parar para pensar no que estava sentindo. Mas, ao entrar em seu familiar apartamento, sentou no sofá e agarrada ao seu amigo de 4 patas chorou até soluçar e por fim adormecer. Sonhou com Dioni, ele sorria para ela e então um buraco se formava na testa dele, ela acordou gritando, fazendo com que o gato saísse correndo e se escondesse embaixo da mesa. Ela decidiu tomar mais um remédio e dormir o resto do dia. Não queria pensar em nada naquele momento. Muito menos nas culpas que carregava.

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