2: Caixinha com respostas.

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TESSA PETERSON.

ENCAREI A LOJA COM CUIDADO. Eu e Becca criamos uma tradição de ir em alguma loja de discos de vinil todo domingo. Comprar uma porção de batata frita e ficar escutando músicas boas.

Com o coração descontrolado, estiquei minhas pernas, pegando uma punhado de batata e lavando á boca. Observei as paredes vermelhas, deixando a melodia de Bohemian Rhapsody encher meus ouvidos.

- Então, o que você acha? - Indagou com seus olhos negros sobre mim. Ela parecia esperançosa, seu sorriso grande denunciava isso. Desviei o olhar, não evitando de soltar um suspiro nervoso.

- Sua família é tóxica, Becca. - Comentei sem me aguentar. - Eu odeio eles. - Revelei não conseguindo sustentar seu olhar intenso.

O silêncio pesado caiu sobre nós. Tensão pesando em meus ombros.

Minha atenção foi parar na menina baixinha que tinha os cabelos ruivos curtos. Ela estava no balcão, parecendo se divertir ao observar nossa conversa. Um olhar torto já foi o suficiente para fazê-la desviar o olhar.

- Você pode ser tão grosseira quando quer. - Becca falou, deixando o sofá velho sem falar mais nada, e logo, batendo a porta de vidro daquela loja ao ir embora.

Observei a garota de cabelos azuis sumir entre as ruas dessa cidade. Molhei os lábios secos, passando a mão pelo rosto e sentindo meu coração se apertar. Sim, talvez eu esteja sendo idiota. Mas não vou aguentar outro jantar com aquela família. Eles simplesmente xingaram a filha ao descobrirem que ela é lésbica, chegaram a perguntar se ela tinha certeza daquilo. E eu estava lá, precensiei tudo aquilo. E no final, passei duas semanas sem poder sequer mandar uma mensagem para minha namorada. Por culpa da família dela.

Ao fechar os olhos, pude me sentir naquela casa novamente, onde fui apresentada para a família de Becca, e eles descobriram que a filha é lésbica. Foi horrível, os olhares críticos, as piadinhas, os cochichos julgadores. Como ela quer que eu vá lá novamente? Só de pensar naquele lugar e naquela família, já me sinto sufocada e franca. Eu odeio esse sentimento, odeio me sentir assim.

Bufei irritada. Não me arrependo de ter amassando a lataria do carro do irmão dela. Uma única pedra fez aquele estrago, gostaria de ter feito mais. Peguei meu celular do bolso e liguei para ela, não atendeu. Engoli em seco, já estava começando a me sentir culpada, a garganta fechando, o pulso acelerado. Quase joguei meu celular contra a parede. Foi minha primeira experiência com gente julgadora, nunca imaginei pessoas tão cruéis e desumanas. Eu me senti doente por gostar de uma garota perante o olhar deles.

Mas, definitivamente, não deixarei eles continuarem julgando Becca, fazendo ela se sentir errada por ser quem é. Que família tóxica.

Me levantei do sofá, seguindo até a menina ruiva que tinha os olhos verdes sobre mim. Ela pareceu assutada quando parei em sua frente. Provavelmente não estou com uma das minhas melhores caras.

- Você tem um mapa dessa cidade? - Indaguei tentando esconder a armagura em meu tom de voz.

A ruiva assentiu. Observei ela se abaixar para pegar o mapa no balcão. Ela usa roupas bonitas, um casaco vermelho e retrô que combina com ela. Agradeci em um murmuro quando ela me deu o mapa.

- Vocês são novas aqui? - Indagou de repente, me deixando surpresa.

Juntei as sobrancelhas, me perguntando se deveria responder isso para uma estranha. Cheguei á conclusão que ela não era uma psicopata que iria me matar. Parecia uma menina legal.

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