1.carson

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Aos desavisados desembarcando em Londres à procura de neve, eu tenho uma péssima notícia: isso não acontece com frequência. Na verdade, todas essas pessoas enchendo as ruas e esbarrando em você de forma animada deveriam ser avisadas de que a Antártica é um destino mais viável em qualquer parte do ano. No entanto, meu irmão Seth me proibiu de continuar parando turista e dizendo a eles para irem embora, mesmo que eu estivesse fazendo isso de forma sutil.

― Então, mano. Você vai passar mais um natal sozinho, sentindo pena de si mesmo?

― Ah, qual é? ― Seth desvia de um grupo de meninas animadas em fazer fotos com uma árvore só porque a árvore nasceu no meio de Londres. ― Eu esperava passar o natal com você, pelo menos. Esquece essa bobagem de festa clandestina no metrô. Você sabe que vai dar errado, Carson. E vai ter que esperar até James Rowan retornar de sua viagem para soltá-lo caso for preso.

Seth Rowan, meu irmão mais velho, pode ser um saco muitas vezes ao longo do dia. Principalmente com todo o seu senso do que é correto. Mas o correto é, na maioria das vezes, algo tedioso que se faz em prol de uma satisfação social. Tenho quinze anos e uma festa de natal no metrô com gente interessante. Não vou ficar em casa dessa vez assistindo à reprises de jogos da Champions League.

― Você devia vir comigo, Seth.

― Eu aposto como vai nevar hoje, Carson. E eu não gosto de neve. Você apostou esse ano?

― Apostei que neva no Castelo de Edimburgo.

Nós temos um tipo de aposta chamada Natal Branco. Todos os anos, milhares de pessoas apostam se haverá neve no Reino Unido. É difícil que isso aconteça em Londres, especialmente no centro, onde é mais quente do que as regiões periféricas. O comportamento da neve é bastante errático na capital britânica. E quando acontece, dificilmente dura muito tempo.

― A neve cadente costuma apresentar consistência decepcionante na maioria das vezes. ― Seth para, olhando para o céu nublado. ― Os turistas não vão encontrar cenários de filmes ou contos de Charles Dickens.

― Cara. ― Eu puxo seu braço. ― Quem é Charles Dickens? Devia falar mais de Charlotte Dickens. Ou Charlenne Dickens.

Seth revira os olhos e me empurra enquanto gargalho. Nós temos uma ideia diferente de diversão. Eu gosto da ideia de ter um dicionário de nomes femininos na minha coleção de garotas desde que descobri que elas são uma das maravilhas do mundo. Seth gosta de garotas irreais e raras. E por ele estar sempre por aí procurando-as como se elas fossem um tesouro, ele está sempre sozinho. Enquanto ele espera encontrar pérolas dentro de ostras, eu aproveito todas as ostras do mundo e seu conteúdo delicioso. É uma soma simples: quanto mais experimentar, mais chances de encontrar algo raro.

Queria que meu irmão entendesse isso. Mas não me meto nos negócios dele e ele não se importa se eu o deixo na porta do nosso apartamento em Barkston Garden e continuo minha caminhada até o metrô de Earl's Court.

Há uma festa clandestina de Natal essa noite. Para pessoas que, assim como eu, não mantém a tradição do almoço do dia 25 com os familiares ao redor da TV esperando o pronunciamento da Rainha. Não comemoramos a véspera de natal como nos Estados Unidos e em várias partes do mundo. Então, Seth não ficará simbolicamente abandonado em um dia especial. E eu farei o possível para chegar a tempo para o almoço no dia seguinte. Porque sei que o meu pai não irá.

Ele realmente acha que, depois de todos esses anos, acreditamos que ele está trabalhando. Já estamos velhos o suficiente para saber que o meu pai está com alguma mulher. E, bem, estou indo fazer o mesmo. Não posso me dar a oportunidade de culpá-lo.

Pego o metrô em direção ao centro. Já está escurecendo e nossa festa clandestina começará às nove em ponto, espalhada em vários pontos da nossa rede subterrânea. Não queremos despertar a ira dos vigias noturnos, por isso a música fica por conta de cada um e seus fones de ouvido. Estou listando algumas canções para a minha playlist quando uma garota de chapéu preto e cabelos lisos amarelos despenca ao meu lado.

Ela cheira à lavanda, tangerina e groselha. Dou uma olhada rápida nela e meus olhos caem para seu celular. Ela também está montando uma playlist. Suas pernas estão para fora de uma saia de veludo preto bordada com luas e estrelas amarelas. É tudo que consigo ver para fora de seu casaco peludo e escuro. Ela parece alguém vindo do enterro de um astro de rock, o que me faz sorrir.

― Você também vai à festa do metrô? ― Pergunto.

Seus olhos azuis são cruéis quando param no meu rosto. Há tanto tédio em sua expressão que ela contorce os lábios antes de responder:

― Eu sou a festa no metrô.

Puxo um pouco de ar, mas ela se levanta sem me deixar falar. Eu a acompanho até a porta e ela salta na estação. Demoro um segundo para decidir segui-la e perco a parada. Quando chego na porta, ela se fecha, recebendo um soco meu. A garota de chapéu olha para trás antes de sumir e nossos olhos se encontram novamente. E, a julgar pela minha recente experiência, olhar para trás é demonstração explícita de interesse.

Se ela é a festa do metrô, então a festa do metrô é minha.


Ps

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Ps. O começo desse livro está narrado no contro de natal postado na plataforma, com cenas intercaladas narradas pela personagem Felicity. 

GORGEOUS | Spin-off ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora