21.carson

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Felicity Avra Linconl foi embora no dia seguinte, levando com ela o meu coração. ­­

Era final de setembro e estávamos começando a receber as cores queimadas do outono quando ela se aproximou do penhasco de giz de Beachy Head e se atirou de lá. Lilly foi encontrada dois dias depois e só foi identificada uma semana à frente. Eu recebi a notícia de Sophia, sua ex-colega de quarto. E foi a pior dor que já senti em toda a minha vida.

Perder a mamãe foi estranho e vazio. Ela estava lá e depois não estava. Eu senti a sua morte de um jeito diferente. Eu culpei o meu pai por destruir a vida que eu tinha e que era boa. Senti raiva dele e me acostumei com a solidão de nos mudarmos para outro continente e não termos mais uma mãe.

Crianças cicatrizam muito mais rápido, no entanto. Eu encontrei jeitos de canalizar sua ausência. Me apoiei em Seth e absorvi o arrependimento do meu pai, perdoando-o por tudo.

Mas com Lilly, a dor é completamente distinta. Porque ela precisava de mim e eu falhei com ela. Meus olhos não enxergaram o seu desespero ou eu fingi que estava tudo bem ao invés de lutar contra os seus monstros. Lilly me elegeu como seu protetor e eu falhei com ela.

Eu a deixei morrer.

Se eu tivesse notado, se eu a tivesse salvado. Ela nunca teria pulado do penhasco de giz de Beachy Head. Se eu nunca a tivesse levado até lá, talvez ela não teria cogitado essa ideia. Se eu tivesse tratado suas crises com seriedade e não tivesse pensado que ela poderia sair dessa por sua própria força, ela ainda estaria ali. Se eu tivesse oferecido alternativas e não cuspido minhas expectativas nela, Lilly teria o que construir além de sua frustrada carreira. Se eu tivesse insistido para ela me contar sobre o passado, ela teria conseguido expulsar alguns monstros?

Há uma imensidão de "se" me cercando como fantasmas. E a pior parte de tudo é não saber a resposta.

Ela não me deixou nada além de um vídeo seu caseiro gravado e enviado para minha caixa de mensagens cantando um cover de uma música cuja letra reflete nossa história. E seu trecho favorito de O Pequeno Príncipe, em sua letra bonita e trêmula, em um pedaço de papel amassado em cima da minha cama.


―Tu procuras galinhas?

― Não. ― Disse o príncipe. ― Eu procuro amigos. Que quer dizer "cativar"?

― É algo quase sempre esquecido. ― Disse a raposa. ― Significa "criar laços".

― Criar laços?

― Exatamente. Tu não és nada para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E não tenho necessidade de ti. E tu também não tem necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. Eu serei para ti única no mundo...

GORGEOUS | Spin-off ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora