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Eu entendo o que ela quis dizer com ser a festa do metrô assim que encontro o principal grupo de músicos em uma das plataformas menos movimentadas. As pessoas estão espalhadas e os guardas caminhando por ali consideram o grupo apenas como artista tentando ganhar alguns trocados. Quando a segurança finalmente some, subindo as escadas, há uma correria entre as pessoas ao redor e logo o grupo se torna a atração principal.
― Não brinca. ― Eu cruzo os braços, parando um pouco mais atrás.
Ela não está vestida como se estivesse vindo de um enterro de uma estrela de rock. Ela é a própria estrela. E canta. É surpreendente como a garota de chapéu faz com que eu fique imóvel por alguns minutos sem dizer nada. Só consigo pensar nela. Ignoro a possibilidade de beber clandestinamente, ou colecionar mais nomes na minha lista. Tudo o que eu quero é saber o que há na garrafa que ela está levando aos lábios entre um refrão e outro. E, principalmente: qual é o seu nome.
Quando a música para, o cara com o violão a empurra de lado e toma o microfone.
― Nós temos aqui o resultado da aposta de neves. Temos apostadores aqui, esse ano?
Algumas pessoas levantam os braços. Eu sou uma delas, o que faz com que a estrela do rock olhe para mim. Ela me ignora, tomando outro gole de sua garrafa e se virando.
― Vocês sabem, não somos a loteria. Nem temos prêmio em dinheiro. Mas, se vocês quiserem manter suas apostas nessa rede clandestina, temos alguns prêmios para quem chegar mais perto. A chance aumenta porque há neve em algum lugar da cidade. Temos um natal branco esse ano. Vocês só precisam adivinhar onde está caindo. E estamos de olho em vocês. Nada de usarem o celular. Se roubarem...
― Qual o prêmio? ― Uma garota grita.
― Para você... Eu.
Não tem graça, mas as pessoas dão risada. Estreito os olhos quando o cara do violão segura o braço da estrela do rock e a puxa de volta para o centro do palco.
― Para o campeão, um show particular de Lilly Avra.
Lilly Avra.
Repito em pensamentos enquanto me aproximo. Ela empurra o cara do violão e se encosta na parede, os braços cruzados na defensiva. As pessoas começam suas apostas, com dinheiro jorrando para todo lado. É algo bizarro, mas não estou muito a fim de deixar Lilly Avra para qualquer um daqueles imbecis no metrô. Então faço uma aposta grandiosa em três lugares principais de Londres.
Quando todo mundo já gastou dinheiro com o natal branco, o cara do violão saca o celular e anuncia que há neve no Hyde Park. Um homem surge do meio da multidão, comemorando sua vitória. Eu fiz uma aposta precisa na estátua do Peter Pan, próxima ao parque. Olho rapidamente para Lilly Avra e ela balança a cabeça em concordância para o homem que venceu. Ele sorri para o cara do violão enquanto cochicham. Então eu vejo o celular em seu bolso. Pendendo com ele, uma gaita.
