Não consigo dormir. Estou bem alimentada, embaixo de cobertores macios e quentes, deitada em um lugar que nem se compara às pocilgas que já fui obrigada a dormir. Ainda assim, estou revivendo as duas semanas horríveis que vivi como uma prisioneira de Tom.
Seu nome é Alexander, na verdade. E ele está no jornal como um maníaco, preso por me manter em cárcere privado. Mas não é o medo dele que me mantém em alerta. É o medo do que estou sentindo por Carson e a vida que ele está me oferecendo.
A porta da frente faz um barulho e dou um salto. Quando a imagem de Seth surge à penumbra, relaxo e caio nas almofadas de novo.
― Desculpa. ― Ele sussurra. ― Não queria acordar você. Achei que Carson estaria dormindo aí.
― Eu o convenci a trocar. ― Uno as mãos por cima da minha barriga, para fora do edredom. ― Como foi com a bailarina?
― Ruim. ― Seth revira os cabelos castanhos. ― Ela fingiu que não me conhecia. Acredita? Passamos uma manhã toda conversando. Por que vocês fazem isso?
― Eu não faço isso. Só as bailarinas fazem isso. As cantoras realmente não se lembram de quem conhecem. Há muitas letras e acordes em suas mentes. Elas não ligam para rostos. Bailarinas sim. Elas decoram a sua feição e fingem que não. Para que você corra atrás delas desesperadamente.
― É uma boa teoria. ― Seth abre a geladeira. ― Você está bem aí? Quer alguma coisa?
― Na verdade, eu quero.
Ele deita a cabeça para trás, iluminado pela luz quente da geladeira. Apesar de todas as diferenças entre ele e Carson, como a cor dos olhos de Seth serem castanhos e não azuis, eles têm o mesmo jeito, gestos parecidos e um sorriso quase idêntico.
― Eu queria que você me dissesse a verdade sobre mim e Carson.
― Eu? ― Ela fecha a geladeira com uma garrafa de água na mão. ― Não deveria ser você a me dizer?
― Você o conhece a mais tempo.
― Desde que ele nasceu.
Seth para, com o copo no ar. Ele se lembrou da mentira que combinaram, o que me faz rir.
― Tudo bem. Eu sei que você é o irmão mais velho. Ele confessou. E confessou também que gosta de mim.
― Então ― Seth toma um gole exagerado de sua água ― é verdade. Sabe, Felicity, não tem sido fácil para nós desde que perdemos a nossa mãe. Nós nos divertimos por aí com garotas, mas nunca é nada sério. Se ele a deixou entrar em nossas vidas tão intimamente é porque Carson não está brincando com seus sentimentos. Não brinque com os dele, por favor. Você precisa se decidir se gosta do meu irmão do jeito que ele gosta de você ou se você só quer a nossa amizade. Nós ainda teremos isso, certo? Podemos ajudá-la. E ele não vai ficar magoado com isso.
Balanço a cabeça afirmativamente, desviando o rosto de Seth e encarando o teto.
― Obrigada por ser honesto. Eu serei honesta com Carson também.
― Obrigado. ― Ele diz. ― Estou indo dormir. Se precisar de alguma coisa, não fique com medo de chamar, ok?
― Ok. Boa noite.
― Durma bem.
Seth some pelo corredor. Eu fico em silêncio, encarando a janela e ouvindo-o andar entre o banheiro e o quarto. Quando finalmente não há mais nenhum ruído, empurro os cobertores para trás e rastejo pelo escuro na direção dos quartos.
Meus pulmões estão ardendo quando seguro a porta entreaberta de Carson e me esgueiro para dentro. Ele está deitado de bruços, seu edredom cobrindo suas costas e deixando suas pernas descobertas à mostra. Eu acho que ele está de cuecas, mas não me importo. Subo para o seu colchão e deito de lado, abraçando-o.
Eu esperava que seu sono não fosse tão leve a ponto de Carson virar o rosto na minha direção e me olhar de um jeito assustado. Me encolho, erguendo as sobrancelhas.
― O que houve? ― Ele sussurra de um jeito sonolento e engraçado. ― Você precisa de alguma coisa?
― Sim. ― Engulo. ― Eu preciso de você.
Carson se vira devagar. Acho que ele está considerando se eu sou real. Ele deita de lado e toca o meu rosto. Sorrio, ganhando um sorriso de volta. Seu braço escorrega para minhas costas e ele me puxa contra seu corpo quente. E, pela primeira vez em muito tempo, me sinto segura.
Seu queixo encaixa no alto da minha cabeça e as minhas pernas se enroscam na dele. Abraço-o um pouco mais forte, me aconchegando em seus braços. A respiração de Carson fica pesada à medida que o seu corpo torna-se menos tenso. O fato de que ele volta a dormir, sem querer transar comigo ou se aproveitar da situação, faz com que eu sorria tão forte que meus olhos se apertam.
Relaxo, deixando meus sentimentos cobrirem o meu coração e o meu cérebro como uma membrana iridescente. Não estou ali porque os Rowan podem me dar conforto. Estou ali porque estou apaixonada por Carson. Porque ele faz com que eu me sinta única no mundo.
― Que quer dizer "cativar"? ― Sussurro a minha parte favorita de O Pequeno Príncipe, como se estivesse contando uma história para dormir. ― É algo quase sempre esquecido, diz a raposa. Significa "criar laços"... Criar laços? Exatamente. Tu não és nada para mim senão um garoto inteiramente igual a cem mil outros garotos. E Não tenho necessidade de ti. E tu também não tens necessidade de mim. Não passo a teus olhos de uma raposa igual a cem mil outras raposas. Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás para mim único no mundo. Eu serei para ti única no mundo...
Fecho os olhos, deixando meus músculos relaxarem. A respiração de Carson me embala. Eu durmo com um sorriso gigante estampado no rosto. Ele me cativou. E eu tenho necessidade dele para sempre, agora.
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GORGEOUS | Spin-off ✓
Teen Fiction© 2020 por pricilla caixeta | todos os direitos reservados. Olhos azuis oceânicos, olhando nos meus. Sinto como se pudesse afundar //E me afogar e morrer// 1.Você é tão maravilhoso ¨ SPIN-OFF WILDER SERIES. 2020. LIVRO 01. © 2020 by pricilla caixeta...