17.carson

664 126 75
                                    


Eu consegui convencer Lilly a fazer um pequeno passeio comigo

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Eu consegui convencer Lilly a fazer um pequeno passeio comigo. Ela está ansiosa e devastada. Seu álbum amador não vendeu o que ela esperava. Na verdade, ele está encalhado e não conseguimos fazer com que ele saia das caixas.

Tentamos montar uma equipe de vendas. Eu obriguei todo o time de hóquei a vendê-los, como rifas, em todos os lugares. Fui com Lilly ao metrô para que ela cantasse nos vagões e alguém se interessasse pelo seu som. Seth conseguiu com o dono da loja de vinis um espaço de vendas para ela.

E mesmo assim não conseguimos vender sequer trinta cópias. Há mais quatrocentos e setenta e uma estocadas em seu quarto, fazendo Lilly chorar todas as noites.

Por isso, acho que um passeio é o que ela precisa. Sair um pouco de Londres, dos Pubs cheios das bebidas que ela toma para apagar de madrugada. Esquecer um pouco que seus sonhos estão sendo massacrados.

Enquanto dirijo em direção à East Sussex, olho rapidamente para ela, no banco do carona. Seus dedos acariciam as orelhas de Milk, dormindo em seu colo, mas seus olhos estão vidrados na estrada vazia à sua frente. Não tenho nada para dizer a ela, porque não consigo compreender como Lilly não faz sucesso.

Ela é bonita de um jeito tímido e misterioso. Sua voz é rouca e triste, mas ela consegue dar sentimentos a qualquer canção vazia e genérica. Seu estilo transita entre o hippie e o rock. E ela é esforçada e gentil. Se eu pudesse compraria a fama para ela, mas não posso. Tudo o que tenho no momento é uma viagem até Beachy Head.

― Sabe, eu nem conheço o meu próprio lugar. ― Ela finalmente diz. ― Só estive em Londres por toda a minha vida, rastejando entre os becos da cidade. É a primeira vez que vou mais longe.

― Você vai gostar desse lugar. Eu pedi a ajuda de Seth e ele tem se tornado um especialista em geografia da Europa. Nunca estive aqui também, mas vi algumas fotos. É realmente espetacular e tem um farol.

Ele me sorri de um jeito gentil. Acaricio seu rosto e volto a me concentrar na estrada. Não é uma viagem muito longa. E eu devo agradecer ao frio por não termos muitos turistas.

Quando estacionamos, poucas pessoas estão transitando. Observo Lilly colocar a coleira em Milk como se ela fosse um cãozinho e saltamos. O vento beija nossas peles de um jeito congelado, mas a paisagem vale a pena. O penhasco marítimo de giz se eleva a 162 metros do nível do mar. O pico proporciona vistas para a costa sudeste de Dungeness, a leste, e a Sealsey Bill, a oeste.

― É lindo. ― Lilly suspira, fechando os olhos e respirando profundamente. ― O cheiro do mar, o barulho das ondas quebrando, as cores do farol no meio da imensidão, o canto das gaivotas. Se eu acreditasse em paraíso, diria que ele é aqui.

― Seth me pediu para dizer a você que as cinzas do cientista social e filósofo alemão Friedrich Engels, um dos pais do Comunismo, foram lançadas ao Canal da Mancha dos penhascos de Beachy Head, como ele havia solicitado.

― Quem é esse cara?

― Ué, eu achei que você soubesse.

Uma gargalhada explode da garganta de Lilly e me arrasta para rir junto. Milk caminha de um lado para o outro, onde a extensão de sua coleira permite. Eu seguro a mão de Lilly para que possamos andar próximos da beira. Dou uma rápida olhada lá embaixo e sinto um arrepio esquisito. A queda ali seria fatal.

― Uau. ― Ela sussurra. ― Há muitas pedras lá embaixo, não é? O mar engana porque parece calmo e convidativo.

Ela tem razão. O mar mal se mexe, mas imagino o quão gelado ele deva estar. E as pedras pontiagudas e alvas formam uma grande ameaça ao redor das águas.

― Agora entendi por que chamam de cabo de giz. ― Aponto para as rochas. ― Acho que é a coisa mais branca e infinita que eu já vi.

― Eu sei. É como o céu, só que não chão. O mar seria o azul acima das nossas cabeças e o paredão seria uma grande nuvem branca. Como eu disse... O reflexo do paraíso.

Nos sentamos em uma parte onde a grama está mais alta e mais fofa. Ficamos por muito tempo em silêncio, observando Milk explorando ao nosso redor e ouvindo o mar lá embaixo. Até Lilly suspirar e segurar a minha mão.

― Carson, eu não sei o que fazer agora. Eu esperava mais do EP. Pelo menos um contrato com alguma gravadora pequena. Mas continuo tocando em bares sujos. E até voltei para o metrô. Eu sinto que a minha vida não anda para frente. Só estou voltando, entende?

― Gostaria de poder fazer alguma coisa, mas não conheço ninguém desse ramo.

― Você e sua família tem feito muito por mim. Seu pai colocou o meu álbum para tocar no carro dele. ― Nós rimos porque a música de Lilly não é o estilo do meu pai. ― E as fotos que Seth tirou ficaram ótimas. Mas essa carreira é uma roda da fortuna. Eu estive pensando... Se nunca vou conseguir acertar na loteria. Eu deveria pedir ajuda para quem jogou e se deu bem. Estou falando da minha mãe.

Lilly nunca toca nesse assunto. Desde que seu pai morreu, ela rompeu laços com o irmão. Ele nunca mais a procurou e uma vez tivemos notícias de que ele havia sido preso traficando. Não sabemos se ele já está solto. E agora ela quer ir atrás da mãe que a deixou há oito anos.

― Você sabe onde ela está?

― Não é como se ela estivesse escondida. Ela é cantora lírica na Itália. Vou juntar uma grana por uns meses e vou até lá.

― Ei. ― Seguro seu pescoço delicadamente. ― Vou levar você. Estou te dando essa viagem de presente.

― Não, Carson.

― Não, Lilly. Não vamos discutir isso. Vou tirar uns dias e vamos para a Itália.

― Você tem aula!

― Dane-se! Eu tenho minhas economias. O meu pai ganha bem. Vamos ficar pouco tempo. Você não tem que trabalhar em bares horríveis por seis meses para juntar o suficiente para viajar. Vamos atrás da sua mãe e ela vai conseguir um lugar para você. Porque ela te deve isso.

Os olhos dela cintilam em lágrimas. Lilly se inclina para mim e me beija, me abraçando com força logo em seguida. Milk se aproxima e consegue se enfiar no meio de nós, nos arrancando algumas risadas.

Talvez ela tenha me mostrado o caminho agora. Podemos conseguir alguma coisa indo até a mãe dela. Eu só quero que Lilly esteja feliz. E a cada segundo sinto que sua vontade de sorrir está desaparecendo. Preciso recuperar isso e trazer a força dela de volta.

Eu farei qualquer coisa por Felicity Avra.  

Assistam ao vídeo no início do capítulo para conhecerem o lugar para onde #Carcity foi

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

Assistam ao vídeo no início do capítulo para conhecerem o lugar para onde #Carcity foi. 

GORGEOUS | Spin-off ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora