Chocolate

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— Merda... — o loiro xingou baixinho depois de se dar conta da situação

— Por que você não disse que tava machucado!? — gritei segurando seu pulso e trazendo seu braço mais pra perto com a intenção de olhar melhor o seu machucado

Agora entendo porque ele odeia cachorros, na verdade estou mais surpreso com o fato dele não ter morrido de alguma doença antes de se mudar pra cá aos 12!

— Por isso isso não é nada demais. — puxou seu braço de volta

Dio não confiava nem um pouco em mim e não me deixaria aproximar quando está machucado

Me diga, que tipo de animal selvagem é receptivo quando está machucado?

Mesmo se você só tiver a intenção de ajudar isso não faz diferença, ele está sentindo dor e medo.

Por isso as vezes você tem que ajudar as pessoas a força!

Agarrei o pulso de Dio mais uma vez e rapidamente o puxei descendo as escadas rapidamente, ele não teve tempo para reagir pois logo já tínhamos chegado na sala onde meu pai se encontrava sentado.

— Pai! — chamei sua atenção e levantei o braço do relutante Dio que tentava fugir daquela situação

Meu pai arregalou os olhos e se levantou

— Chame o Dr. para ele dar uma olhada nisso. — ele disse para uma empregada próxima e depois veio ante nós — Eu não esperava tamanha crueldade com o próprio sangue, mesmo vindo dele... —

Ele passou a mão pela mordida no braço do garoto que imediatamente se arrepiou instintivamente

— Sinto muito. Deveria ter notado que tipo de pessoa ele era mais cedo.. se tivesse isso não teria acontecido. — aquela frase dita numa voz gentil por algum motivo fez a expressão do loiro mudar rapidamente

E depois voltar ao normal, como se aquele momento não passasse da minha imaginação

O doutor não demorou muito, vinte minutos depois chegou em sua carruagem.

Ele e Dio se sentaram um pra frente do outro em banquinhos enquanto o médico verificava seus machucados e falava algumas coisas.

Como sempre, a boca de Dio permaneceu um túmulo.

Só pude olhar de longe uma vez que meu pai avisou para não atrapalhar, posso ser infantil, mas não sou uma criança de verdade e sei esperar.

No fim da consulta às duas mãos do loiro estavam cobertas por bandagens porque sua pele na palma estava em carne viva, o local da mordida também foi limpo e coberto por bandagens.

O doutor se levantou e andou até meu pai

— Ele disse algo? —

O doutor apenas balançou a cabeça decepcionado fazendo meu pai suspirar e depois olhar para mim.

— Escute Jojo, Dio não confia em mim ou qualquer outro adulto e por isso não fala com a gente. Mas ele fala com você, por isso você deve ser responsável e cuidar dele. —

Assenti com a cabeça para depois ir andando até o garoto que continuava sentado no banquinho

— Dio você tem que falar com as pessoas! — o loiro levantou uma das sobrancelhas de modo irônico sem me responder

Ok. Agora ele também não fala comigo.

Conhecendo o Dio ele deve estar suspeitando de tudo e todos nessa casa, não é surpreendente que se recuse a falar com as pessoas.

Suspirei

— Se você se machucar deve contar para alguém, pra dai poderem cuidar do seu machucado. — tentei continuar para convencê-lo de algo, mas...

Quanto eu mais falava mais sem paciência Dio ficava e menos ele escutava.

Waaaw isso não vai levar a lugar nenhum!

Dei por terra e desisti, talvez com o tempo ele se torne mais receptivo...

Quem estou querendo enganar? Estamos falando do Dio aqui.

— Eu vou te mostrar a casa... — disse depois de varias tentativas falhas de o persuadir

Não deveria ser tão difícil persuadir uma criança!

— Não precisa. — o garoto rapidamente respondeu seco e arisco

Mesmo diante um tom de voz hostil uma alegria surgiu no meu peito

Pelo menos ele respondeu!

E além disso, sua voz soava fofa quando ele tentava parecer mal e intimidador

— hmmmmnnnn... então vamos comer algo! — do jeito que ele estava puro osso ia precisar comer muito

Sem hesitar peguei na sua mão outra vez e comecei a o arrastar, ele franziu as sobrancelhas olhando para nossas mãos e depois para o meu rosto

— Não da pra você só me deixar..? — ele reclamou irritado

— Não! ~ — respondi usando um tom alegre e animado

Ele revirou os olhos, mas se deixou ser puxado pra lá e pra cá por mim.

Não consegui parar de sorrir.

Eu sabia que Dio normalmente daria um soco - ou castraria... - em alguém que ousasse pegar na sua mão e o arrastar por aí, então fiquei bem feliz.

Chegando na cozinha tinham algumas empregas espalhadas e também o chef, eu não lembrava que éramos tão ricos...

— Doque você gosta? — repentinamente me virei para ele, ficando rosto a rosto com o menino surpreso

( imagina se ele diz "sangue" Kk )

— ......................... chocolate. — ele disse enquanto desviava o olhar disfarçadamente

Meu sorriso precificou e eu fiquei congelado em choque por alguns segundos antes que o meu cérebro voltasse a funcionar outra vez

Logo em seguida dei um tapa na minha própria cara

— ................................. —

— Tinha um mosquito. — expliquei inocentemente ainda sorrindo para ele — Então, você gosta de chocolate? Deve ter algum na dispensa... —

Rapidamente voltei a arrastar ele até a dispensa, ele parecia já ter se acostumado com isso e apenas se deixou ser conduzido.

A dispensa não era muito grande, mas estava lotada de prateleiras cheias de comida

Precisei vasculhar um pouco até achar um pequeno doce embalado em vermelho, era uma gota de chocolate só que um pouco maior.

Não muito grande, mais ou menos do tamanho de uma tampinha de garrafa.

Chocolate era um pouco raro nessa época né... é de se esperar que não tenha muito já que nem eu e nem meu pai gostamos muito.

— Só tem isso de chocolate por enquanto, mas depois eu juro que a dispensa vai estar lotada deles! — disse sorrindo ao mesmo tempo que pegava a mão do garoto e abria para depois colocar o chocolate nela e fechar.

Ele me olhou letárgico por algum tempo antes de começar a abrir a embalagem vermelha

Depois de algum esforço ele finalmente pode desfrutar do sabor doce do chocolate em sua boca.

Enquanto comia seus cabelos caíram na frente dos seus olhos, talvez fosse proposital, mas ainda conseguia ver suas bochechas avermelhadas ao provar do chocolate.

Por algum motivo ver aquilo me deixou feliz.

TO BE CONTINUED

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