O Garoto do Metrô

VIII

    Ok, eu tinha sérios problemas. Estava mexendo na lixeira do meu professor de matemática! O que deu em mim?
    Depois de ter revirado todos os papéis e embalagens de barrinhas de cereais, finalmente encontro o papel.
    Desdobro e vejo: "Queria saber mais sobre uma pessoa tão interessante como você."
    Minhas bochechas queimam.
    Poxa, nada demais né.
    Mesmo sabendo que Will estava a algumas salas de distância, ligo pra ele mesmo assim, que atende no primeiro toque.
    — Oi amor, sentiu saudades?
    Ouço a risada de Valerie no fundo.
    — Muito engraçado. Cadê vocês?
    — Estou onde você quer que eu esteja, amor. — Responde docemente, já estava me irritando.
    — Vocês dois não prestam, ok? Me encontrem na biblioteca. — E desligo.
    Quando os vejo entrando pelas portas da biblioteca, começo a rir descontroladamente.
    — Você parece um pepino ambulante. — Digo entre risos.
    — Isso é moda, invejosa.
    — É a mais nova linha de legumes e verduras. — Completa Will, rindo também.
    Pego o bilhete no meu bolso e o entrego.
    — Explique isto.
    — Hã? Minha filha, você não sabe ler não? Passou de ano como? — Will pergunta, balançando o papel na minha frente depois de ler.
    — Primeiramente, de quem é esse papel? Porque essa letra não é sua.
    Assinto pra Val e começo a contar a história toda. A partir do momento em que o vi no metrô até hoje.
    — "Queria saber mais sobre uma pessoa tão interessante como você." — Will repete, tentando entender.
    — Aí foda-se o Adam. Quero mesmo saber é do baile de volta às aulas.
    Reviro os olhos e cruzo os braços em volta do corpo.
    — É o mesmo baile sem graça de todos os anos. — Murmuro.
    — Pode ser que sim, mas também pode ser que não.
    — O Will está certo. — Concorda Valerie. — Depois da aula no shopping. Tá combinado.
                                            ~•~
    Fui arrastada até o shopping depois da aula contra minha vontade.
    — Só falta ir na nova loja que inaugurou esses dias.
    — A gente podia voltar outro dia.
    — Até parece.
    Will me puxa até aquela tal nova loja. Fancy's. Os vestidos e os ternos me pareciam ser bastante caros, na verdade tudo na loja tinha ar de ser caro.
    — Posso ajudá-los? — Pergunta uma atendente ruiva. Até o uniforme dela parecia ser mais caro do que meu guarda roupa inteiro.
    — Sim! Vocês têm um vestido do tipo...
    Enquanto Valerie diz as características do tal vestido "perfeito" pra atendente ver se tem algum parecido, Will e eu ficamos em um canto observando os mais variados vestidos de diversas cores.
    Olho as etiquetas com preços absurdos e a ideia de ir ao baile com um dos vestidos floridos que tenho no guarda-roupa passa pela minha cabeça.
    Até que por algum milagre encontro um com um preço razoável. O tecido rosa bebê era lindo e macio, era um vestido de um ombro só, charmoso, simples e delicado.
    — É a sua cara, Mia. — Admira Will, passando a mão pelo vestido.
    Assinto com um sorriso.
    — Acho que encontrei meu vestido perfeito.
    — E parece que a Val também. — Will fala momentos antes de Valerie sair do provador.
    Fico boquiaberta com o vestido que estava em seu corpo. Não tinha alças, era de um dourado que brilhava na luz, tinha uma abertura que dava pra ver sua coxa. O vestido lhe caia bem.
    — O que acharam? — Ela pergunta dando meia volta.
    — Ficou lindo.
    — Parece uma daquelas prostitutas que os ricos pagam caro só por uma noite, sabe? — O comentário de Will me fez dar uma risada.
    — Em outras palavras...?
    Ele pigarreia.
    — Perfeito.
    — Então vai ser esse! — Valerie dá um gritinho de alegria pra mim antes de mostrar o dedo do meio pro Will antes de voltar pro provador.
    Minutos depois estávamos no caixa, meu novo vestido já estava em minhas mãos junto com o de Val e o terno azul claro de Will.
    — Melhor dia de nossas vidas!
    — E lá se vai meu salário do trabalho. — Murmuro meio triste e meio feliz.
    — Veja pelo lado bom, Adam Benson está entrando na loja e está olhando pra cá.
    Me viro pra ver se era verdade e lá estava ele acompanhado de Tyler.
    — Vai pedir o número dele, putiane. — Sussurra Will, me empurrando.
    — Deixa que eu faço, ela é medrosa demais pra isso.
    — Não, espera...
    Mas ela foi mais rápida.
    Isso não pode tá acontecendo logo agora!
    Corro e me escondo atrás de um monte de vestidos. Vejo Valerie chegando perto dos dois e a conversa começa, não consigo ouvir nada porque estou bem longe mas vejo Adam olhando em volta da loja.
    Será que ele estava procurando por mim?
    Ele pergunta alguma coisa pra Valerie que responde apontando pra onde estou.
    Adam olha uma vez e diz alguma coisa que não entendo.
     Preciso aprender a fazer leitura labial.
    Ele pega o celular no bolso e Valerie sorri.
    Dou um grito em reprovação e saio da onde estou escondida mas piso em alguma coisa e escorrego, levando todos os vestidos comigo.