O motivo de você estar aqui

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Park Jimin28 de julho de 2035

   Eu estava intimidado até o último fio de cabelo. Já era aterrorizante ficar no meio de tantos cardinais que provavelmente são muito poderosos. Agora, ficar de frente para um que tem um olhar desses é de arrepiar.

   Eu fiquei paralisado e com as bochechas quentes. Olhei para meu reflexo no espelho, deplorável. Coloquei de volta meu boné para tentar esconder um pouco a cara de paspalho.

   O homem deu alguns passos na minha direção e eu continuei parado, sem conseguir mexer o dedão do pé para sair dali. Ele parecia ser da minha idade mas era completamente diferente de mim. Estava usando uma jaqueta de couro preta, uma blusa branca, calça de couro e um par de all-stars pretos cano longo. Só de ver esse cara e o Taehyung, parecia que as pessoas daqui tinham vidas diferentes dos outros cardinais do subúrbio, eles aparentavam ter muito capital.

   Engoli a seco e guardei minhas mãos atrás das minhas costas, tentei não fazer contato visual porém ele tinha um perfume delicioso e chamativo. Meus olhos se direcionaram para ele. Era como se estivesse esperando por isso. Não sabia quantos segundos aguentaria naquele ambiente.

— Sai da frente. — disse seco.

   Dei um passo para o lado, eu havia interditado o caminho para a saída de tantos passos para fugir de sua figura. Ele passou por mim sem me olhar e fechou a porta devagar. Deixei o ar contido nos meus pulmões saírem pela boca. Se isso acontecesse mais alguma vez, eu não tinha muita certeza se sobreviveria. Esses cardinais são tão cheios de si e parecem saber exatamente o tamanho de poder que tem. Já eu, sou uma piada.

Saí do banheiro. O encontro com o homem estranho não saiu da minha mente, depois que o medo passou, fiquei com raiva. Ele tinha sido bem rude, poderia pedir com educação.

Empanturrei-me de comida gostosa e fui me aproximando do aglomerado de pessoas que eu queria despistar antes. Vi Taehyung conversando com três garotas e dois rapazes. Eles pareciam ser muito próximos, preferi não interferir em sua conversa. Eu continuei deslocado, até que todas as atenções foram a um casal que havia chegado. Seus rostos estavam sérios, não felizes como as outras pessoas que comentavam sobre o milagre da explosão. O casal foi recebido com uma salva de palmas.

— Não merecemos salva de palmas. — a mulher, que pelo seu nome sendo falado constantemente após sua fala, identifiquei como Im Nayeon. — Quem merece é Jeon Jieun, que se sacrificou por todos nós, pela nossa liberdade. Não podemos ficar parados esperando o governo arranjar uma outra forma de nos parar. Temos que lutar por nosso direito de igualdade, agora que temos nossos poderes de volta.

   Mais uma salva de palmas, dessa vez, um pouco mais melancólica.

— Você deve ser o novato. — uma garota baixinha com um pirulito na boca apareceu a minha esquerda. — Eu sou Jeon Heejin, meu papel é gerenciar os novatos no C.A.R.D. e você parece que veio de um KFC.

Eu ainda estava com as roupas do meu antigo trabalho, mordi os lábios, envergonhado.

Nayeon continuou a explicar como funcionou o negócio da explosão, nunca pensei que uma moça tão jovem teve que se sacrificar por isso.

— Eu sou...

— Park Jimin, eu sei. Vi sua ficha mais cedo. — Ela sorriu abertamente. — Seja bem-vindo blá blá. — apontou o pirulito para mim. — É o seguinte, temos reuniões em lugares diferentes duas vezes ao mês. Cada reunião entra um novato, você foi o escolhido da vez.

— E que critério vocês levam para escolher? Eu mal sei meus poderes. Não sei se serei útil nisso. — fui o mais sincero possível. — Eu não quero participar de uma guerra civil, só sei fritar frango frito. Acho muito bonito o que você estão fazendo, mas pra mim não rola.

— Nenhum super herói nasceu sabendo ser super herói, todos enfrentaram problemas e tentaram melhorar em prol do bem estar social. Sinceramente, também não sei por que o Jungkook te escolheu, mas ele nunca erra em suas escolhas. — Heejin olhou na direção do homem rude do banheiro.

   Ele estava sentado em um canto, mexendo no celular.

— Aquele é Jeon Jungkook. Ele não tem amigos e ainda está abalado com a perda de nossa irmã... Sabe, ele nunca aceitou muito bem a ideia. — A feição de Heejin murchou lentamente ao falar do irmão. — Ele que escolhe os cardinais que são recrutados. Não sabemos que critérios ele usa, mas todos são pessoas boas e que tem poderes maravilhosos para nos ajudar. Quer dizer, acabamos de descobrir a individualidade da maioria hoje, né. — Ela riu descontraída.

   Nunca se passaria em minha cabeça que aquele cara que me escolheu. Por que me encarou como um completo estranho se deve conhecer até a cor da minha cueca?

   Eu me acalmei quando parei para pensar que ele talvez não fosse desse jeito, mas acabou descontando o que está sentindo em mim. Parei de ter raiva no mesmo minuto.

— Vocês são da mesma idade quase. — Heejin cutucou meu braço com seu cotovelo. — Poderia tentar ser amigo dele, o que acha? O Kookie é um pouco difícil de lidar, mas ele precisa de amigos, ainda mais agora.

— Eu não sei se essa é uma boa ideia, ele não foi com a minha cara quando nos topamos no banheiro. Talvez ele só queira ficar sozinho.

   Heejin começou a empurrar minhas costas na direção do Jeon mais velho. Tentei conter com meus pés, entretanto, os braços de Heejin eram mais fortes do que minhas pernas de franguinho.

— Já se conhecem? Que maravilha! — A menina expressou alegre. — Kookie! — chamou alto. — O Jimin tá meio indeciso se embarca nas aventuras heroicas do 31184 ou volta a vender frango frito para os humanos.

    Jungkook guardou o celular no bolso da jaqueta e posicionou seus cotovelos em seus joelhos, me analisando de cima a baixo.

— Heejin, convencer os novatos é o seu trabalho. Eu já fiz o meu. — sua voz saiu muito diferente de quando falou comigo, estava calmo.

— Mas... Eu quero sair com meu namorado hoje. — Heejin fez biquinho junto com um careta fofa.
Eu vi Jungkook sorrir pela primeira vez. Ele se levantou e acariciou a cabeça de sua irmã.

— O que eu não faço por você? — Beijou a testa dela. — Só não volte tarde e nem faça filhos.

   Ele com certeza parecia uma pessoa completamente diferente.

— Para de ser careta! — Heejin fechou a cara e tirou a mão de Jungkook de seu cabelo. — Tchau! Jimin, cuide dele, o Jungkook é mais novo que você. E Jungkook, o Jimin quer saber por que você escolheu ele pra entrar, por que não conta a ele?

   Heejin correu para a saída, deixando nós dois sozinhos. Sentei no sofá em frente ao dele e fiquei em silêncio, sem saber para onde direcionar o olhar.

— Eu não tenho um motivo certo para escolher cardinais. Eu simplesmente te achei bonito e investiguei sua vida. Vive uma vida de merda e é bondoso com os outros. As vezes até demais. Tem o perfil perfeito que se encaixa com o C.A.R.D. — Jungkook respondeu com aquele tom seco que usava exclusivamente comigo.
Eu não sabia se ficava feliz por ele me achar bonito ou se ficava puto pelo "vida de merda". Percebi que ele proferiu o nome da organização com contemptamento.

   Suspirei e me levantei. Continuava com o mesmo pensamento de que não daria retorno positivo a causa deles. Fui embora para minha casa, iria fingir que nunca tinha ido a aquele lugar.

Dystopia - jikookOnde histórias criam vida. Descubra agora