🍀Cap. 11 🍀

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Felicity já havia tomado um longo banho relaxante e escovando seus dentes. Deitada sob sua cama macia e confortável, pegou seu celular e pôs a tocar uma música suave em volume mínimo. 

Fazia isso, sempre que se sentia saudosista, como agora. Pensava em seu pai, que agora estava tão longe dela, estava com bastante saudades dele. Sabia que essa saudade iria perdurar por muito tempo ainda, pois segundo sua última conversa com ele pelo celular, não tinha data de retorno para casa. 
E isso a deixou ainda mais pra baixo ao saber que não veria ele por mais tempo.

Apesar de já estar acostumada com essas viagens duradouras dele, sentia sempre muita falta de tê-lo por perto todos os dias. Sua única pessoa com a qual não podia viver sem, por muito tempo. Mas alguém além dele, insistia em não sair de sua cabeça, desde sua última conversa com Tyler, na mesa do jantar. 
Sua mãe, alguém que não gostava de lembrar, pois sempre que ela vinha em sua mente, também aparecia as lembranças mais tristes de sua infância. Lembranças que queria muito esquecer, mas que de vez em quando, insistia em vir à tona e invadiam seus pensamentos, sem aviso prévio. 
Lembrava tristemente, de todas as vezes em que precisou dela e ela não estava ao seu lado, como deveria ser desde sempre. 

De vez em quando, imaginava por onde ela poderia estar. Se ainda lembrava dela, se tinha tido outros filhos. E que ela agora podia ter irmãos e não tinha como saber.

Não sabia, nem ao menos imaginava os motivos pelos quais ela foi embora e a abandonou ainda tão pequena e desprotegida, sem ao menos, um bilhete de despedida ou uma desculpa em forma de carta, explicando o por quê de ter fugido como uma criminosa no meio da noite.
Nada. 
Foi isso que ela deixou.
E era isso que ela queria sentir por ela, nada. Jamais a perdoaria pelo que fez seu pai e ela passar.

Estava deitada de barriga para cima, olhando para o teto, com os pensamentos em polvorosa, quando ouviu um barulho contido, vindo de algum lugar da casa. Mais especificamente, de um dos quartos. Sabia que o único que poderia ser, era Tyler, seu mais novo inquilino. 

Sentou-se rapidamente e desligou o celular, tentando assim, conseguir ouvir mais alguma coisa. 
Mas só veio o silêncio. 
Já não estava com sono, mas depois disso, não conseguiu permanecer deitada. Precisava verificar se o barulho se repetia mais uma vez. Talvez, pudesse ser apenas coisa da sua cabeça. 

Se levantou, calçou suas sandálias, que estava sempre à sua espera, do lado da cama e foi até a porta, a abrindo e espiando para fora. Quando mais uma vez, o barulho fora ouvido, desta vez, mais alto e mais longo, como um gemido de dor, vindo direto do quarto dele. 

Foi até sua porta e bateu levemente, a espera dele a abrir. Mas depois de bater duas ou três vezes, ninguém veio atendê-la. Mas o som agora havia se transformado em falas, ou melhor, soava mais como súplicas chorosas.

― Quem são vocês? O que querem comigo? ― ela ouvia de dentro do quarto dele. 

― Taylor. ― o chamou, mas nada de novo. Ele devia estar tendo um pesadelo, ela presumiu. Depois disso, não teve outra alternativa, a não ser abrir a porta e tentar acordá-lo. E foi o que ela fez. 

Assim que entrou no quarto, sua primeira visão do quarto mal iluminado, foi ver ele agitado, se mexendo para todos os lados. 

Ela acendeu a luminária em cima do criado mudo assim que chegou perto dele o bastante, para ter uma melhor visão do que estava acontecendo e viu ele completamente suado e com o rosto molhado de lágrimas, como se estivesse chorando. 

Sentou-se na beirada da cama e lhe tocou a pele, tentando acordá-lo da maneira mais suave possível, não queria o deixar mais assustado do que já estava.

― Taylor ― o chamou novamente. ― Acorda. ― chamava, mas nada dele acordar. 

Ele continuava a pronunciar palavras, agora, sem sentido. Balançando a cabeça para todos os lados possíveis. 
Vendo que o método suave não estava funcionando, decidiu tentar algo mais brusco desta vez. Elevou um pouco seu tom de voz e o chacoalhou algumas vezes, até ver que ele tinha acordado. 

Ele parecia bastante assustado e exausto, como se tivesse acabado de fazer um exercício físico. Completamente suado e respirando pesado.
Ele sentou-se na cama, cobrindo seu rosto com ambas as mãos. Parecia estar chorando. 

― Você está bem? ― perguntou massageando suas costas por cima da camisa branca de algodão que ele usava. Estava bastante aflita por ele. Nunca o tinha visto assim, e isso, a assustou um pouco.

― Eu vi tudo, Felicity. Tudo. ― falou com a voz embargada, ainda com as mãos sobre o rosto. 

― Tudo o quê, Taylor. Do que você está falando? ― perguntou confusa. Mas ainda assim, sentindo-se compadecida com o estado de angústia que ele se encontrava. 

― Eu estava sendo espancado, em algum lugar... ― tirou a mão do rosto e virou-se para ficar de frente pra ela ― Eu senti levando o tiro... Eu… ― sua voz falhou no final.

Ela não aguentou vê-lo daquele jeito. 
De certa forma, ela sofria junto com ele. Logo o puxou para um abraço apertado, O pegando totalmente de surpresa, tentava consolá-lo de alguma forma. Não sabia bem o que dizer a ele para diminuir um pouco a aflição e a dor que sentia naquele momento, então, o abraço foi tudo o que lhe restou fazer. E o que ele agradeceu imensamente por aquele gesto espontâneo e inesperado. De alguma forma, sentia-se seguro dentro daquele abraço. 

― Calma. Foi apenas um pesadelo ― falou com uma voz suave, tentando transmitir alguma segurança da parte dela. ― Não foi real. Você está seguro, nada vai te acontecer. 

Começou a acariciar seu cabelo um pouco longo, onde viu ele começar a relaxar e seu choro cessar aos poucos. Ele também a abraçava apertado, como se soltasse dela, pudesse voltar de alguma forma para dentro do pesadelo horrível, que estava tendo há alguns minutos atrás. 

― Por que não tenta dormir um pouco. Hum? ― sugeriu, depois que se desfez o abraço. E ele balançou a cabeça em afirmativa, mesmo não tendo certeza se conseguiria dormir de novo, depois do pesadelo assombroso que teve. 
Parecia tão real.

Era mais como uma lembrança do que provavelmente, teria lhe colocado em coma por tanto tempo. 
Ele deitou novamente, desta vez, virado para ela. 
Vendo que ele estava mais calmo, ela decidiu que deveria ir embora e deixá-lo dormir. Ou tentar. Então, se levantou da cama, quando sentiu um toque em sua mão, a impedindo de ir.

― Por favor, não vai. Fica aqui comigo. ― pediu com uma voz rouca, que ela ficou em dúvida se deveria ficar ou não.

Mesmo sabendo que não estaria fazendo o certo, pois eles não tinham nenhum vínculo que permitia esse tipo de atitude. E mais óbvio, por ele ser um rapaz solteiro e exercer sobre ela um poder imaginário. Mas não podia lhe negar ajuda. Ela não conseguiria de qualquer forma. 
Quando ela olhou para ele e deu um sorriso contido, sabendo que por mais que algo dentro dela lhe dizia para não deixar se envolver, seu coração dizia que naquele momento, ele precisava dela. E era o que ela iria fazer. 
Lhe dar todo o apoio possível.

― Tudo bem. Eu fico até você dormir. ― respondeu, sentando-se de volta na cama. Encostando-se na cabeceira, para ficar o mais confortável possível. 

Ele por sua vez, deitou-se próximo a ela e pegou em sua mão. Sabendo que ela estando por perto, estaria bem. Se sentia assim, perto dela. 

Ela o cobriu ainda mais com o cobertor, e com a mão livre, apagou a luminária, deixando o quarto na escuridão novamente, enquanto fechava os olhos e acariciava a mão dele, que estava entrelaçado à dela.
Fez igual seu pai fazia com ela, ainda criança, quando acordava no meio da noite, depois de ter um daqueles pesadelos frequentes que tinha, depois que sua mãe foi embora. E dessa forma, também adormeceu junto a ele e ambos, de mãos dadas.

My Angel - acaso do destino [EM HIATO]Onde histórias criam vida. Descubra agora