Capítulo 1: Lágrimas do entardecer

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A tarde chegava ao fim, às estrelas já brilhavam no céu, contudo para Maya, o mundo inteiro estava embaçado por suas lágrimas, sentada ali no fundo daquele ônibus, com a cabeça apoiada na janela, ela deixava todo seu sofrimento escapar pelos seus olhos.

O motivo da lágrimas não era João, aquele termino já era coisa do passado, ela sabia que todo o sofrimento que ele havia lhe acarretado não era porque o amava, longe disso, o que sentia por ele não era amor e ela já sabia disso, aquele sofrimento era causado por frustação, sim ela estava frustrada, pois deixou-se envolver, permitiu-se criar expectativas sobre o futuro, havia traçado um plano, mas era tudo uma fantasia de sua cabeça... Hoje tudo que ela achava ter sentido por ele havia se substituído por uma raiva profunda, ele não merecia nenhuma das lágrimas que havia chorado e ela estava decidida a não derramar mais nenhuma.

Todo domingo era assim, quer dizer, a vida dela era a mesma coisa sempre, trabalhava a semana toda, havia conseguido um excelente emprego, mesmo tendo apenas dezessete anos, tinha uma ótima estabilidade financeira ao se comparar com tantas outras moças, tinha independência, tinha beleza, tinha tudo que achava necessário para se ter uma vida feliz, porém não era assim que se sentia.

Esse era o motivo de seu choro, o vazio que lhe sugava às forças, a monotonia da rotina, a falta de um sentido para a vida a matava ao poucos. Isto lhe dilacerava o coração, Maya não era cristã, muito menos tinha um relacionamento íntimo com Deus, ela simplesmente sabia que Ele existia, ela não sentia necessidade de se render a Ele, afinal ela era uma pessoa boa, não roubava, não matava... Claro, falava uma mentirinha aqui ou ali, mas o que era isso comparado com o que tanta gente fazia? Ela acreditava estar bem com Deus e isso bastava, contudo não era o que sua alma dizia... Inconscientemente ela clamava a Deus por socorro:

- Não, a vida não pode ser apenas isso, é ilógico! Fomos criados simplesmente para nascer, crescer, casar, ter filhos e morrer?! E olha que nem sempre acontece nessa ordem... Não! Não pode ser só isso... A vida tem que ser algo mais! Deus não nos fez para essa mesmice... – ela sussurrava de encontro ao vidro.

Todos ali estavam alheios ao seu sofrimento, ou melhor, muitos dos que a cercavam estavam alheios aos próprios conflitos, então não eram aptos para se atentar aos conflitos de seus semelhantes e ela não se importava, ela só queria uma resposta, uma misera resposta...

Foi quando o seu celular apitou indicando-lhe a chegada de mensagens, era Rúbia, sua amiga de infância, assim que se mudou de Belo Horizonte, com apenas cinco anos, Maya conheceu aquela menina de cabelos cor chocolate, a amizade foi inevitável, contudo Maya havia se afastado dela, principalmente por conta de João, Rúbia era cristã e tentou alerta-la sobre o que aquele relacionamento lhe traria, João se dizia cristão enquanto Maya claramente não era nada. Rúbia disse que o nome daquilo era jugo desigual, Maya não entendeu oque aquilo significava e não se importou em entender, ela estava cega e pagou o preço por isso.

Rúbia, ou apenas Rubi, era uma boa amiga, elas se davam bem, mas ela tinha a mania de falar do evangelho para Maya, e isso irritava a garota, ela não tinha necessidade daquilo, portanto sempre ignorava e estava prestes a fazê-lo mais uma vez, pois sabia que a amiga deveria estar preparando um sermão da montanha e aquela mensagem só deveria ser um prólogo, contudo resolveu ler o que ela dizia:

Rubi:

Oi amiga, sumida!

Ainda está no planeta

ou decidiu assumir

sua identidade secreta

e voltou para Marte?

Quando Deus é o Autor - Pausado Onde histórias criam vida. Descubra agora