Capítulo 2: Obra do Espírito

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Gabriel andava de um lado para o outro naquele quarto, estava inquieto, sabia a dimensão da decisão que tinha para tomar. Ele tinha ciência de cada uma das consequências que teria caso escolhesse tanto agir, quanto deixar de agir. A pergunta que lhe pairava na mente, no entanto, era quem ele amava mais? Ele já sabia a resposta, mas esse fato não deixava a decisão mais fácil.

Tendo nascido num lar que se considerava cristão, Gabriel cresceu indo com os seus pais a igreja, na época ele não conseguia ver que aquilo era apenas um ato religioso dos mesmos, afinal ele era apenas uma criança. Apesar disto, Flávia e Fabio, incutiram os princípios do Senhor em Gabriel e suas irmãs mais novas, Ana Júlia e Priscilla.

Entretanto, no aniversário de cinco anos de Ana Júlia, a filha do meio, Flávia e Fabio se afastaram definitivamente da igreja. Gabriel, ainda com sete anos, não teve muita noção do real significado do que estava acontecendo com ele e sua família. Contudo, a palavra plantada em seu coração quando ainda era tão criança, veio a florescer quando chegou à juventude.

Aos dezesseis anos, Gabriel deu uma chance a seu primo Tiago de falar-lhe sobre o Deus que o mesmo chamava de Pai, foi ali que aquela semente plantada anos antes, começou a dar indícios de que iria nascer. Com toda paciência Tiago regou a semente que estava no coração de seu primo e muito se alegrou quando a mesma floresceu.

Dois anos após se batizar, Gabriel enfrentava uma luta dentro de si. O Espírito vinha confrontando-o a se posicionar perante seus pais. Os mesmo sabiam de sua fé e não tinham problema algum a esse respeito, pelo contrário apoiavam as mudanças nítidas na vida do filho, mas agora o medo tomava conta do rapaz.

Há alguns anos, a família de Gabriel havia declarado inimizade para com uma família vizinha, aquilo não tinha incomodado o jovem até que ele se deparou com o texto de Hebreus 12:14 "Procurem viver em paz com todos e busquem a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor".

Profundamente tocado por essas palavras, Gabriel perdeu sua paz, ele não poderia ser inimigo daquela família, até tentou dar o famoso jeitinho brasileiro, procurando um dos filhos e pedindo perdão ao mesmo, entretanto não era esse o desejo do Senhor, ele precisava fazer aquilo publicamente.

Ali naquele quarto ele tomou sua decisão, ele amava sua família, mas a mesma não poderia tomar o lugar de Deus em sua vida. O ódio que seu pai sentia por tais vizinhos era imenso, o rapaz corria risco de ser expulso de casa, mas não arriscaria a sua salvação. O sacrifício de Jesus era bem mais valioso do que qualquer prazer transitório da carne.

— pai – o rapaz chamou levemente.

— Oh, olá meu filho. – Fabio respondeu animado, tirando os olhos do papel que analisava em seu escritório.

— Podemos conversar? – perguntou o filho.

— Mas é claro! – Fabio colocou o papel sobre a escrivaninha e deu total atenção ao filho. – O que te incomoda?

Gabriel suspirou, o medo tomava conta de seu ser fazendo seu coração disparar, mas lembrou de que essa era a decisão certa.

— Pai esses dias eu estou sendo incomodado pelo Espírito Santo, Ele me disse que eu preciso tomar uma decisão e é isso que estou fazendo neste momento. – fez uma pausa, o pai o olhava curioso com o rumo da conversa, contudo não interrompeu. – Sei de nossa inimizade com nossos vizinhos, porém a palavra de Deus me diz que eu devo andar em paz com todos os homens. Pai, meu desejo aqui não é desrespeitar o senhor, entretanto não posso desobedecer a essa instrução clara da palavra.

— Gabriel – o pai começou após um incomodo silêncio – eu não consigo perdoar essas pessoas. – fez uma pausa acompanhada de um suspiro de pesar – Contudo, meu filho, se isso lhe trará paz, faça aquilo que o Senhor lhe manda. Eu e sua mãe nos afastamos dos caminhos d'Ele e não soubemos encontrá-lo novamente.

Quando Deus é o Autor - Pausado Onde histórias criam vida. Descubra agora