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𝐊𝐧𝐨𝐰

Ela parecia tão nervosa, esse era só mais um dos fatores encantadores que ela portava em si mesma

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Ela parecia tão nervosa, esse era só mais um dos fatores encantadores que ela portava em si mesma.

Não sabia dizer se foi por causa do problema com o assento no trem, ou se carregava alguma preocupação maior do que aquela cena.

O motivo de isso estar claro, era sua total e incapacidade de se auto-controlar, fazendo essas quatro coisas repetidas vezes:

🔸Colocar e tirar a mesma mecha de cabelo atrás da orelha, sem ao menos perceber;

🔸Se mover sem parar, apoiando e retirando os braços de cima da mesa, várias e várias vezes;

🔸De vez em quando, arrumando o mesmo talher, desviando o olhar de todos os pratos que eu pedi na viagem;

🔸Falando mais do que sua respiração por minuto lhe permitia;

Possivelmente, ela só estava tentando distrair-se, numa tentativa falha de se acalmar.

-Tudo bem, tente adivinhar meu curso, se você acertar, pode me perguntar qualquer coisa, mas, se errar, eu tenho direito a uma pergunta também!-respondi, enchendo duas taças de vinho, uma para mim, e outra para ela.

-Eu não bebo!-ela falou, quando percebeu que eu iria lhe dar uma das taças.

-Tudo bem, desculpe!-falei, recuando.

Então, arrumando a postura, um pouco desconfortável, ela juntou as mãos sobre a toalha cor de areia da mesa e pensou.

-Você tem uma boa postura, é uma pessoa madura, pelo que vejo!-disse, apontando para a garrafa de vinho.

-Continue!-pedi, rindo.

-Acho que poderia ser professor, ou sei lá, um advogado. Já imagino você pensando nos casos na sua casa, bebendo isso aí, ou rindo das respostas dos alunos enquanto saboreia as notas vermelhas!

Passei a mão nos meus cabelos, e olhei para fora, sorrindo.

-Acertei, não é?-perguntou, esperançosa.

Inclinei a cabeça e entortei um pouco minha boca, em sinal de negação.

-Não posso imaginar algo que combine mais com você, pelo menos por seus trejeitos externos!

Aquela pequena frustração a deixou ainda mais espontânea, não pude conter o pequeno sorriso que se expandiu em meu rosto.

-Eu quero ser artista, Jennifer, e por isso, estou indo para a Universidade de Artes de Paris!

Ela, num espanto momentâneo, acabou batendo com a mão na taça, o que a fez virar-se diretamente para mim, mais precisamente, para minhas calças.

-Me desculpa, me desculpa!-repetiu.

-Tudo bem, está tudo bem!-falei, separando toalhas de guardanapo.

Para minha surpresa, ela as tirou das minhas mãos, se abaixando em minha frente, tentando limpar o tecido.

-Jennifer, levanta!-pedi, constrangido.

A cena era cômica e engraçada, mas, ao mesmo tempo, desesperadora. Quem visse de longe, poderia imaginar outra coisa bem pior, mas ela insistia em tentar se redimir.

Segurei seus pulsos, o que a fez parar no mesmo instante, se recusando a levantar seu olhar para mim.

-Eu disse para se levantar!-falei, sério.

Voltando a se sentar em silêncio, ela ainda olhava para baixo, envergonhada.

-Se minha vó estivesse aqui, ela te daria uns tapas por ficar assim por causa de um acidente pequeno como esse!

-Já conheci pessoas que queriam me matar por motivos mais vagos que esse, Taehyung!

-Mas eu não, nem fiz minhas malas, minha mãe quis fazer por mim, e deve ter colocado dezenas de mudas de roupa!-brinquei.

Ela sorriu, mais tranquila.

-Mas, por que se assustou quando disse que iria para a universidade de Paris?

-Bom, é que aparentemente, nossos destinos estão andando de mãos dadas!-sorriu.

A olhei por segundos, assimilando o que ela acabava de dizer.

-Você vai para a mesma universidade que eu?-perguntei.

Ela assentiu com a cabeça, apoiando seu rosto em suas mãos delicadas.

-Não brinca?

-Estou feliz por ter te encontrado no meio do caminho, nem sabe o tanto que estou nervosa!-falou, gesticulando.

-Já olhou para fora?-perguntei.

-O que?

-Olhe para fora, só um pouco!-pedi.

Devagarinho, ela desviou seus belos olhos para a janela, e acompanhou brandamente, as árvores com folhas cor verde oliva correrem para trás continuamente.

Essa foi uma das cenas mais belas que já vivenciei.

Eu podia ver, no reflexo do adorável conjunto de sua pupila dilatada, com sua íris empolgada, toda a paisagem que estavamos deixando para trás.

Então, o que já estava bom, acabava de melhorar, quando ela colocou sua mão sobre o vidro, como se pudesse tocar tudo o que estava lá fora.

Bebi o vinho olhando cada detalhe que construíam sua beleza incontestável.

Ela tinha um minúsculo sinal, abaixo da sobrancelha. Era algo tão sútil, como uma assinatura em uma obra de arte transportada para a França.

E se eu me tornasse seu Louvre, para que você fosse a principal tela da minha exposição? Eu adoraria tê-la pendurada em minha parede dourada.

-Está mais calma?-perguntei.

E quando deu um quinto sorriso, reparei em suas bochechas, em seus lábios e em seu rosto ao todo.

-Não sei dizer como estou me sentindo!-falou, com olhos preenchidos de sentimentos, ansiosos e conflituosos.

Não eram apenas borboletas, haviam diversas espécies voadoras, indo e vindo no meu estômago. Uma águia feroz, uma libélula atroz, um pássaro cantante, abelhas, gaivotas e tudo o que há de mais belo, dentro de mim, despertado por ela.

-É, acho que eu também não sei dizer!-falei.

I STILL WONDER | taennieOnde histórias criam vida. Descubra agora