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Eu sentia meu corpo pesado, mas muito pesado mesmo. Também ouvia batidas de alguma música, mas não conseguia ouvir melodia ou voz alguma. Era só eu, aquelas batidas frequentes e uma fraqueza constante e essa sensação deve ter durado muito mais tempo na minha concepção do que te fato aconteceu, já que provavelmente minha mente ainda devia estar imersa na noite anterior, enquanto meu corpo já estava se confortando em lençóis macios e extremamente cheirosos. E não era um cheiro que me soava familiar, era um perfume masculino extremamente agradável, e por tentar puxar mais o ar para poder senti-lo ainda mais, comecei a voltar a realidade aos poucos, embora eu achasse que a fragrância ainda podia estar ponderando apenas na minha memória olfativa.

Estava difícil levantar minhas pálpebras, pois eu sentia meus olhos totalmente sensíveis à luz matinal. Tudo doía, minha cabeça e meu corpo, principalmente meus pés. A sensação que eu tinha era de que havia rolado por uma escada de trezentos degraus. Estava difícil até de me mexer, mesmo que fossem por poucos centímetros, porque uma ânsia e uma tontura desconhecida me batiam o tempo todo também.

Mesmo assim, me sentei na cama com toda dificuldade me cobrindo junto daquele lençol que cheirava a álcool e o maldito perfume masculino. Eu estava cheirando-o com vontade e sorrindo pela sensação boa que o aroma causou no meu olfato. Aparentemente, aquele cheiro devia ter causado alguma marca em mim e eu não conseguia nem me lembrar o porquê.

Até cair na realidade e abrir os olhos de vez, num susto repentino.

Minha primeira reação foi olhar ao redor e notar que tudo estava bagunçado. Não havia nada no lugar e minhas malas estavam todas abertas. Pude ver minhas calcinhas espalhadas pelo chão do quarto e o vestido azul que na noite anterior cobria o belo corpo de Roseanne, agora estava sobre meus pés na cama.

Soltei um grito, seguido de suspiros e olhos que se arregalavam cada vez mais.

-Nossa, cala a boca!-uma voz grave falou.

Me joguei na cama, fechando os olhos. Não imaginava quem estava ali no meu dormitório, mas tinha a certeza de que pela voz, era um garoto. Aquela foi a cereja do bolo do meu desespero. A massa era feita de mal estar, resultado de bebidas fortes. O recheio era aquele perfume que me estonteava de maneira proibida e a cobertura era a falta de memória. Essa combinação me fez chorar.

Não conseguia me recordar de nada, por isso que antes de conseguir acordar só ouvia as batidas e não era capaz de recriar nada em minha mente.

-O que você tem?- era a voz da Roseanne dançando com meus soluços pelo quarto.

Cobri meu rosto com o lençol tentando me esconder, mas aquele perfume me fazia sentir mais culpa ainda, então coube a mim chorar muito mais. O frio na barriga estava me consumindo, e um certo ponto de raiva também.

Afinal, isso é definitivamente o que o arrependimento traz: raiva e tristeza.

Poucos minutos depois, senti alguém tirar o lençol do meu rosto delicadamente e eu voltei a abrir os olhos, vendo duas pessoas me olhando.

Roseanne e Jimin.

-Por que está assim, maluca?-ela perguntou, descabelada. Um de seus cílios postiços estava grudado em sua maçã do rosto, enquanto seus olhos mal abriam para me ver.

-Está sentindo alguma coisa? Porque depois de ontem, é normal que você sinta uma dor , você sabe!-Jimin falou com naturalidade, me olhando. Ele também estava descabelado, acho que todos estão após o ritual de passagem que tivemos.

Olhei para baixo, em direção a minha vagina e depois voltei a olhar para os dois, muito mais assustada e atordoada enquanto eles apenas se entreolhavam e meu nervosismo aumentava. Estava difícil conter o meu coração. O que foi que aconteceu naquela festa? O que eu fiz enquanto me vesti de diaba coagida pela Roseanne e sua completa falta de noção?

Saltei da cama e me certifiquei de que estava vestida, e reparei que estava com minha camisa favorita e não mais com o vestido que estava na noite de ontem. O que piorou a situação, pois a troca de roupa só podia indicar uma coisa: sexo. Coube a mim, segurar em meus cabelos e soltar o grito mais horroroso e cômico possível, pois para completar, eu estava rouca.

As aulas nem começaram, se minha mãe souber de algo será meu fim. Droga, onde eu estava com a cabeça? O que deu em mim?

Eu me conheço, eu não faria nada que eu tivesse a certeza que me causaria arrependimento. Entretanto, toda vez que eu tentava vasculhar a minha mente atrás de algo daquela festa eu me frustrava muito e isso me deixava desesperada.

Eu estava com tanta falta de ar, cheguei a ficar com as mãos trêmulas e então, apaguei em cima da blusa estampada de Jimin. Quando estava retomando minha consciência, vi que Roseanne me abanava com um panfleto da universidade e Jimin massageava meus pés. Os dois dialogavam sem perceber que eu já estava consciente. 

-Pelo menos minha colega de quarto não é uma idiota cafona. Pelo que ela fez ontem, digo que ela guarda potencial, eu só preciso explorar ainda mais!

-Todos que vem pra essa universidade tem algum mistério, não adianta. Às vezes é o prazer, a luxúria. Tudo está ligado ao pecado, é motivador!

-Você tem um ar tão sexy, deve ser por isso que tanta gente tentou te beijar ontem, até a Jennie caiu nessas palavras!

Jimin riu, fazendo mais força com as mãos.

-Ela estava com um garoto ontem mais cedo! Você devia ter ouvido ele deixando ela excitada no meio da biblioteca, nem precisou falar coisas diretamente obscenas, com aquele tom de voz ele só descreveu uma escultura barroca e ela mal conseguiu abrir os olhos!

-Quero ser a próxima!-Roseanne exclamou curiosa, rindo com perversão.

-Pois entre na fila, eu vi primeiro!

-Você nem sabe se ele gosta de caras também!

-Isso eu descubro rapidinho, fiquei no mesmo bloco que ele!

-Você é um tarado!

-Por isso você me arrastou para o seu dormitório?

-Você só teve passe livre para o meu recinto porque a Jennie não estava conseguindo andar, eu não ia carregá-la sozinha!

-Pelo menos todos nós tivemos uma noite ótima!

-Eu diria que foi boa, pelo menos para um bom início de ano letivo.

-Boa? Foi só boa?

-Para finalizar, a Jennie tem que me dar o beijo triplo já que ela pegou o mesmo cara que eu na festa!

-Espera, ela não me beijou, só tentou!

-Eu não estou falando de você!

I STILL WONDER | taennieOnde histórias criam vida. Descubra agora