Eight

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Depois de diagnosticar minha rinite, como se eu não soubesse da existência dela, aquele garoto voltou para a pilha de livros que ele mesmo tinha feito em uma das mesas.

-Que engomadinho esquisito!-Taehyung observou, um tanto aborrecido.

Suspirando, ele prosseguiu.

-Desde quando os meninos precisam segurar nos braços das garotas para falar com elas? O que é isso? Ele te conhece?

O olhava, acompanhando suas mãos dançarem no ar, e eu acabava de presenciar seu primeiro momento de nervosismo desde que nos encontramos.

-É, você é a Fera sem tirar nem por!-falei.

Era o dia dos diagnósticos, e isso estava acontecendo a solta por aí. Dia das primeiras análises e primeiras impressões, algo que ia além de rinites ou príncipes amaldiçoados.

Falávamos de julgamentos e rótulos que consumiam a primeira vista entre veteranos e calouros e entre calouros e outros calouros.

Até agora, acho que não cultivei boas primeiras impressões por não ser tão discreta quanto eu gostaria e deveria ser, pois mesmo que estejamos em uma escola de artes, os franceses costumam ser mais discretos e sérios, gostam de transmitir superioridade e classe.

Assobios de parar o trânsito, risos que chamam atenção e mais um escândalo alérgico, com certeza, isso marcará meu primeiro dia oficial nesse lugar como a pessoa menos discreta daqui.

Depois desse acidente vergonhoso, apreciamos os livros com mais segurança, abrindo-os mais centímetros distantes do meu rosto.

Alguns eram enormes e pesados, eu e Taehyung carregamos juntos para a mesa mais próxima e surtamos quando víamos as fotografias e ilustrações inéditas de arquiteturas e esculturas antigas, que encontraríamos apenas naquela edição especial.

Desfrutamos de cada página, até conversamos sobre. Ele era tão desastrado, como era difícil me manter séria todas as vezes que ele derrubava alguma coisa ou tropeçava indo buscar outro livro. Com certeza, não haveria companhia melhor para minha estréia nessa nova aventura.

Ele estava sendo perfeito em todos os fatores.

E parte disso se refere a uma das únicas características que eu adoro nos homens parisienses. Na terra da reflexão cartesiana, eles gostam de discutir sobre tudo. Talvez não sejam bons em explicações ou em atendimento ao público, mas eles apreciam uma boa conversa ou debate sobre assuntos relacionados a prazeres ou arte.

Me disponho apenas a falar sobre arte.

Vejo que Taehyung carrega isso em suas expressões, quando falo mínimas coisas ele move aquelas sobrancelhas bonitas e ergue o canto da boca, às vezes franze a testa e outras vezes comprime os lábios, diria que seu rosto se assemelha a uma melodia clássica, onde se encontram notas agudas e notas graves, é estonteante.

Seu rosto é uma perfeita análise, um espelho de opinião sobre seus desabafos ou atos malucos, como todos os que cometi desde o ponto de partida.

É como um riacho com água cristalina, sua transparência é notável e agradável aos olhos.

Esse era meu diagnóstico para ele, até o momento. Uma perfeita Fera atrapalhada e encantadora, transparente quanto as suas sensações, um disco antigo e valioso.

-Por que está me olhando desse jeito? Está ficando zarolha!-ele falou, tocando minha testa com seu dedo indicador.

Desviei meu olhar na mesma hora, ainda que fosse quase impossível deixar de olhar para ele enquanto o mesmo explicava o ângulo e a iluminação natural das fotografias.

I STILL WONDER | taennieOnde histórias criam vida. Descubra agora