8 capítulo

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Eram dez da manhã. O hospital já estava um pouco movimentado àquela hora, com visitantes e pacientes a entrar e a sair pela porta principal. Os médicos e enfermeiros andavam de um lado para o outro a ver pacientes e a dar altas a alguns ou exames a outros. Na frente do hospital, ambulância paravam de vez em quando trazendo mais pacientes, uns em um estado mais grave que outros. Mesmo sendo fim de semana, ainda ocorriam crimes e lutas que acabavam por prejudicar alguns civis inocentes. No seu quarto de hospital, Maya acabava de se trocar para as roupas normais que tinha ali, a enfermeira já lhe tinha trazido o pequeno almoço e os seus pertences para ela puder finalmente sair e ir para casa. Suspirou ao ouvir a porta a ser aberta pensando serem os pais que a vinham buscar, porém ao olhar para quem entrava no quarto apenas abriu um pequeno sorriso ao ver os dois homens. Soundblaster devolveu o sorriso à adolescente enquanto que o director acenava com a cabeça pois devido há máscara se ele sorriso ela não perceberia. O professor informou-a que os pais estavam a acabar de assinar os papéis para ela puder ir embora e ela apenas assentiu tentando manter o sorriso no rosto. Segui os dois homens para fora do quarto em direção à recepção onde avistou os pais de imediato. O homem e a mulher de cabelos encaracolados e pretos como a noite não eram nada parecidos com a adolescente, ambos tinham uma postura seria e uma cara de poucos amigos. Braxten e Monet Sahel, porque eles tinham obrigado Maya a mudar o seu apelido quando a adotaram, tinham ambos 35 anos e trabalhavam pouco para aquilo que realmente ganhavam todos os messes. Maya caminhou timidamente em sua direção baixando a cabeça sobre os olhares de reprovação, que diziam tudo o que iria acontecer quando chegassem a casa. Soundblaster fez um resumo do que tinha acontecido com Maya e explicou que estava tudo bem recebendo agradecimentos dos pais da mesma que a levaram para casa no mesmo instante. Enquanto os pais de Maya a levavam para fora do hospital, o director seguiu atentamente o comportamento dos dois encarregado da criança confirmando um pouco das suas suspeitas. Os pais de Maya arrastaram-na para o carro e aceleraram dali para fora. O caminho, que seria de mais ou menos uma hora, foi feito em quinze minutos, em silêncio por parte de todos relação ao assunto do hospital, pois o pai de Maya reclamava com qualquer coisa de trânsito, a mínima coisa que fosse. Estacionaram o carro perto do prédio onde habitavam, eles viviam no segundo andar de um prédio não muito longe de Monsanto, era uma casa pequena mas perfeita para os três, dois quartos, duas casas de banho, uma sala e uma cozinha e um pequeno escritório. Saíram do carro e entraram no prédio, Maya continuo a com o olhar no chão com medo do que os pais lhe iriam fazer daquela vez. Ambos detestavam ser chamados para qualquer tipo de assunto, tudo o que era mais ou menos relacionado com a filha eles evitavam ao máximo, quer reuniões com os professores da escola, quer, neste caso, irem buscá-la ao hospital. Maya não tinha a certeza do porquê que eles a adotaram tendo em conta que mal falavam direito com ela e não queriam saber nada sobre o que a envolvesse. Abriram a porta da entrada e Maya correu para dentro mesmo com os gritos vindos dos pais a chamarem por ela. Passou pelo corredor, casa de banho e entrou no quarto fechando a porta a trás dela e trancando a mesma impedindo os pais de entrarem. Os dois adultos ficaram vermelhos de raiva e caminharam firmemente para o quarto da filha. O homem bateu a porta e gritou, ou melhor, berrou com ela.

- Maya! Saí da porra do quarto! Vais te arrepender!

- Deixa, ela que morra ali à fome. Ensinamos-lhe a lição quando sair. - disse a mulher num tom severo e o marido concordou seguindo atrás dela para a sala.

Maya saiu de perto da porta e atirou-se para cima da cama, lágrimas encheram-lhe olhos apenas ao pensar no que os "pais" lhe fariam quando precisasse de comer. Ela sabia que se o médico lhe tinha examinado o corpo talvez tivesse encontrado alguns hematomas já a desaparecer. Os pais já não a castigavam à quase duas semanas, um recorde pessoal quase, mas isso era apenas porque eram férias e os dois adultos andavam mais fora nos clubs do que em casa e quando ficavam em casa estavam sempre acompanhados de amigos e Maya saía só voltando na manhã seguinte ou ás vezes depois de dois dias. Pelo resto do dia, a adolescente ficou trancada no quarto, deitada na cama toda encolhida tentando não pensar na fome que estava a ter por não comer desde o pequeno almoço, ela conseguiu dormir um pouco durante a tarde para não pensar na fome e assim, depois de os pais se irem deitar, poderia escapulir-se até à cozinha e comer qualquer coisa. Eram duas da manhã quando ela finalmente destrancou a porta e a abriu tentando fazer o mínimo de barulho possível, olhou para a porta do quarto dos pais que estava encostada e suspirou começando a caminhar passo a passo, pé ante pé em direção às cozinha. O seu coração batia cada vez mais rápido à medida que andava no corredor, o enorme medo que ela estava a sentir apenas pela possibilidade de ser apanhada por algum dos pais. Na verdade ela já sabia o que esperava caso acontecesse, então caminhou cuidadosamente até à cozinha onde entrou e encostou a porta. Decidiu não acender as luzes ou utilizar algum dispositivo que fizesse barulho e assim aumentar as suas chances de sobreviver, para além disso ela conseguia ver perfeitamente no escuro então a luz não era uma coisa muito necessária para ela na escuridão da noite. Caminhou até ao meio da cozinha pronta para preparar alguma coisa para comer quando os seus olhos pararam numa figura, que ela sabia perfeitamente quem era, encostada ao parapeito da janela que agora possuía os estores todos para baixo. A adolescente estava pronta para voltar a correr para o quarto quando, de repente, as luzes se acenderam fazendo Maya saltar no lugar e virar-se para a porta vendo Braxten lá parado com os braços cruzados e uma cara de poucos amigos. Lágrimas foram-lhe aos olhos, num ato involuntário, o seu corpo começou a tremer recuando para trás, longe daquele homem, contudo não tinha muito por onde fugir. Sentiu as suas costas a colidirem com o corpo de alguém, virou-se para trás e encontrou Monet com a mesma posição e expressão facial que o marido. Ela soltou um soluço que não conseguiu mais aguentar, a sua garganta estava seca, lágrimas escorriam-lhe dos olhos e memorias dos piores castigos dados pelos pais vinham-lhe à memoria não ajudando na situação em que ela estava.

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