Capítulo 1

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Às vezes sinto que ele está aqui, é quase como se pudesse sentir seu cheiro ou até mesmo os cabelos caindo em meu rosto quando desejava me beijar, mas ele não estava, não estava pelo que hoje completaria exatamente trinta anos.

A lembrança de vê-lo dando seu último suspiro me assombra e na maioria dos dias tento não pensar na sua ausência ou até mesmo me convenço que James não morrera, ele precisava lutar e jamais me deixaria, pelo menos eu jamais o deixaria. Sigo pistas sobre os sequestradores, tento a todo custo rastrear a HYDRA, desvendar os mistérios que estavam por trás de uma organização que estranhamente está adormecida há anos.

Acordei com Steve segurando um dos meus braços, o cabelo estava cobrindo meu rosto, e minha roupa estava totalmente molhada, eu tenho quase certeza que estava tendo terror noturno, uma das razões pela qual eu sempre evitava dormir.

- Hey! O condado todo ouviu seus gritos. – seus cabelos estavam bagunçados, mas seus olhos brilhavam com a doce preocupação. – Está tudo bem?

- Por favor me diga que dia é hoje? – questionei rapidamente ao perceber que já não estava tendo mais noção de tempo e espaço.

- 24 de março. – respondeu mesmo estranhando a pergunta

- Ah... Não se preocupe, estou perfeitamente bem. – tentei sorrir.

- Romanoff sei que não somos melhores amigos...

- Não começa Steve, sei que vocês não confiam em mim. – reviro os olhos. – Você só precisa que eu banque a Vingadora boazinha.

- Não é isso.

- Horas você não desconfia do Banner, nem do Thor, muito menos do Clint, e claro do Tony, mas esse é porque você tem uma queda. – pauso – Não precisa fingir que é meu amigo, sei meu lugar, que no caso é nenhum.

- Você está mais estressada do que o normal. – observa – E não tenho nada com o Tony. – acrescenta indignado.

- Sabe Rogers, cansei de fingir e eu sinceramente não preciso da sua confiança, se eu fosse você não confiaria em mim também. – me levanto da cama olhando para espelho – Pareço uma merda, por que não me avisou?

- Começou com sermão, não deu tempo.

- De qualquer forma, não precisa se incomodar de tentar se aproximar de mim, não estou pedindo. – dei de ombros. – Você é superestimado e essa carinha de cachorro abandonado carrega um peso de moral que no fundo você acha que é melhor do que eu. – o homem fez uma expressão irritada. – A nossa diferença Steve é que fiz coisas para sobreviver porque não tive opção, já você pode escolher seu lado.

- Tem razão Romanoff, não confio em você, mas isso não significa que não me importo com seu bem-estar. – se levanta – Esse é seu problema, não quer deixar ninguém entrar. Ninguém quer saber do seu passado, quero apenas saber quem é agora.

- Agora eu sou alguém que necessita que saia do meu quarto. – finalmente digo como se tivesse tirando um peso do meu corpo.

- Vocês dois não tem trégua nunca? – Tony aparece na porta com os olhos semiabertos de sono.

- Fala para seu namoradinho que tive apenas um pesadelo e quero ser deixada em paz. – prendo meus cabelos com uma piranha.

- Rogers a deixe. – quando Steve estava passando pela porta Tony sussurrou algo sobre conversar comigo mas ignorei.

Tranquei a porta porque aparentemente estava sendo vigiada pelo paranoico da América e não era algo que o dia de hoje pedia, hoje não era sobre o maior herói da história não gostar de mim, e sim sobre lembrar tudo que James fizera, ou até mesmo passar o dia treinando para distrair. Depois do banho, sequei meu cabelo como de costume e fiz uma pequena trança embutida na frente. Abrindo o armário escolhi algo confortável e perto das minhas joias o encontrei: o colar de arco e flecha que Barnes havia me presenteado. Sorri naturalmente relembrando o momento antes de colocá-lo. Havia ainda sua jaqueta preta, ele ficava impecável toda vez que a vestia, a vesti na esperança de sentir seu abraço novamente.

Depois de um tempo pensei que fosse esquecer a sensação dos seus braços envolvendo meu corpo. Pensei que esqueceria dos seus beijos ou de todas às vezes que ele dizia "Se cuida" toda vez que eu partia de casa em direção a uma missão. Apesar de lembrar das sensações de ser amada por ele, não conseguia lembrar do nosso último beijo ou do seu último abraço, aquilo me entorpecia de tal forma, que em alguns momentos parecia que a dor não teria fim.

Desci as escadas e todos, estavam reunidos, provavelmente iriam se despedir. Clint não podia deixar Bobbi por muito tempo, Banner tinha que fazer seu retiro espiritual para controlar o Hulk, Thor deveria voltar para Asgard e vigiar aquele irmão terrível que ele tinha e Tony não parava em lugar nenhum nunca. Só sobraria a única pessoa que nutria total antipatia por mim.

- Nat! Se junte a nós. – Clint me puxou das escadas para sentar na mesa farta de café da manhã.

- Achei que nunca fosse me obrigar. – brinquei.

Todos conversavam, mas lá estava eu passando o garfo várias vezes no mesmo pedaço de panqueca, sendo bombardeada por memórias e pensamentos que eu desejava não ter.

- O que foi Nat, já está sentindo minha falta? – Tony tentava me incluir.

- Oh Stark sentirei terrivelmente... – respondi no mesmo tom.

- E essa jaqueta Romanoff? Não sabia que curtia esse tipo de coisa. – Thor observou – Jane me deu uma dessa... Antes de me chutar. – refletiu nostálgico.

- Gostou? É do meu marido que morreu por minha causa! – repentinamente todos largaram o que tinham nas mãos e olharam exaltados em minha direção, talvez tivesse revelado demais, tudo que eu menos queria.

- Não sabia que era casada. – Banner limpou a garganta.

- O casamento jovem... Sinto muito. – Clint segurou minha mão.

- Nós dois sabemos que não sou tão jovem, assim como não era quando me casei. – lancei um sorriso irônico.

- Muita coisa que não sabemos sobre você. – Steve finalmente aproveitou do momento.

- Muita coisa que talvez não seja da sua conta.

- Gente calma, nada de estresse, vamos evitar brigas pelo menos por uma manhã? – Bruce disse com a calmaria de um monge.

- Boa viagem para vocês, não esqueçam a mala. – sorri vitoriosa para o Steve. – Se me dão licença, Nick me ligou e tenho uma missão.

Há coisas que não conseguimos abandonar e muito provavelmente eu não queira que minhas lembranças com James desaparecessem por ser uma das únicas razões das quais faziam eu desejar me tornar uma pessoa melhor. Seu livre arbítrio foi retirado, assim como durante anos roubaram o meu, mas agora era hora de fazer o que fosse preciso para tentar recompensar tudo que havia feito durante décadas. Não sei se os Vingadores são minha chance, não tenho nada a provar para Steve isso ou para ninguém, isso é algo que preciso provar para mim.

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