Discussão

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Garu saiu dali rapidamente querendo ir para sua casa e, ainda lacrimejando e abatido, se esforçava para não começar a chorar ali mesmo. Seu peito doía fortemente enquanto palpitava cada vez mais rápido. Enquanto corria de cabeça baixa tudo em sua volta parecia desaparecer em um descolorido e escuro tom, ficou se sentindo um completo idiota. Todos esses anos ela sempre esteve ao seu lado, mas ele nunca ligou, a ignorava e tratava seu amor como lixo e, perdê-la assim, fez o garoto perceber que, apesar de fugir e demonstrar falta de interesse, sem ela seu mundo era monocromático e vazio, a amava muito e se sentia cada vez pior por não ter percebido isso antes.

De longe alguém observava toda a cena e, rindo para si, comemorava, era Tobe. Tobe pretendia atacá-lo, porém desistiu quando viu Pucca, ela sempre atrapalhou seus planos, mas o que ele não esperava ver era Pucca fugir dele com raiva e tristeza. O que estava acontecendo? Ele não sabia, mas ver Garu triste e Pucca longe o deixou muito contente e satisfeito. Saiu do local com seus capangas ninjas e voltou para seu esconderijo.

–Rapazes, vocês viram aquilo? – Tobe perguntou entusiasmado.

–Que não atacamos o Garu? – Respondeu um dos ninjas meio nervoso.

–Não! – Disse batendo na cabeça do mesmo. – O que aconteceu entre Garu e Pucca!

–M-mas o quê aconteceu exatamente? – Perguntou outro ninja, um pouco preocupado.

–Não sei o que ao certo, mas parece que eles brigaram, não vêem como isso é perfeito? Com aquela namoradinha idiota fora do caminho e ele mais fraco podemos enfim acabar com aquele ninjazinho medíocre de uma vez por todas!

–Se eles estão brigados, significa que Pucca não vai mais defender ele?

–Seu idiota, é claro que vai! Mas se ela continuar afastada dele, podemos derrotá-lo sem ninguém atrapalhar!

–Mas se ninguém ver, a humilhação será pequena.

Todos se entreolharam e concordaram rindo sarcasticamente, não era suficiente apenas atacá-lo diretamente como faziam sempre, precisavam de uma estratégia melhor, algo que funcionasse. Todos deram sugestões e depois de muita conversa e debate chegaram em um acordo, decidiram por fim o que iriam fazer, tinham um plano para fazê-lo sofrer.

Ching estava treinando em frente a sua casa com a espada, ela estava evoluindo bastante, assim como seus amigos. Ela fazia movimentos soltos, mas com ataques firmes, era muito boa em manusear a espada e fazia aquilo de forma bela. Tinha acabado de cortar ao meio, com um único golpe, um boneco acolchoado de madeira, quando vê Pucca se aproximando com a face abatida e aparência um pouco ansiosa.

–Oi Pucca!

–Oi. – Respondeu com a voz trêmula e um pouco tristonha.

–O que aconteceu?

Nesse momento Pucca desabou em lágrimas, deixando Ching preocupada, que foi logo abraçá-la enquanto tentava lhe acalmar.

–Pucca, calma, me conta o que aconteceu.

Pucca queria chegar tranquila, conversar com Ching, contar o que aconteceu… Mas não somos dominadores do próprio sentimento, estamos presos a sofrer ou festejar pela prisão das emoções. Nunca ficamos felizes só por nos obrigarmos a sorrir quando tristes, não ficamos irritados só por fingir que não estamos gostando do momento. Sorrir não é sinônimo felicidade, lágrimas não são apenas para a tristeza. Não importa o quanto forcemos, os sentimentos podem ser momentâneos ou para sempre, e não a nada que podemos fazer para mudar isso.

Ela realmente pretendia manter a calma e continuar tentando esquecer Garu, mas não conseguia, enquanto as lágrimas desciam e molhavam seu rosto, tudo parecia monótono. Quando finalmente conseguiu se acalmar um pouquinho, levantou o braço a fim de mostrar o ematoma que nele se encontrava, estava fortemente avermelhado com marcas de dedo, dava forte impressão de que havia sido agredida.

–P-Pucca! O que foi isso? Quem fez isso com você?! – Ching arregalou os olhos em desespero e lhe perguntou agitada, quase gritando.

–Foi…

–Quem? Quem fez isso?!

–O G-G-Garu… – Disse ainda chorando um pouco, com a voz falhada e soluçando.

–Garu?! – Desta vez gritara alto, tanto que pássaros voaram rapidamente das árvores que estavam próximas a sua casa.

–S-sim…

–Vamos entrar para você se acalmar, me conta melhor essa história.

Entraram, Ching preparou um chá de camomila com bastante açúcar e deu para Pucca, que secou as lágrimas com um lenço oferecido pela mesma. Uma galinha, um pouco velha, apareceu e pulou para o lado de Pucca.

–Oi Won, quanto tempo! – Disse se virando para a galinha.

–Está se sentindo melhor? – Perguntou Ching.

–Sim.

–Então me conta, com detalhes, porquê seu braço está vermelho e porquê você estava chorando.

Pucca contou todo o ocorrido um pouco preocupada e Ching ouviu atentamente sem falar nada durante a história da garota.

–Então ele finalmente percebeu… – Disse Ching, um pouco pensativa.

–O quê?

–Escuta Pucca, sei que o que ele fez foi horrível e te deixou uma marca, mas ele não fez por mal.

–Do que está falando? Eu sei que ele não gosta de mim, mas quando eu desisto ele vem me torturar dessa forma? Eu não estou ligando pro meu braço, não está dolorido, mas…

–Pucca, calma! Não percebe que ele está com saudades? Ter tentado romper o voto de silêncio, mesmo sem conseguir, prova isso!

–Ching, pare de brincadeiras, eu estou falando sério e você vem falar isso?!

–Eu estou falando sério, se ele fez isso…

–Chega! Achei que você me apoiava, mas fica aí defendendo a atitude dele?

–Escuta, eu não estou defendendo o que ele fez, foi muito babaca da parte dele te segurar assim, mas você tem que entender que…

–Entender o quê? Que ele está com saudades de fugir da garota trouxa que, mesmo transbordando amor, ele tratava como nada?

–Não é bem assim Pucca.

–Então como é?

Pucca já estava histérica e irritada.

–Ele gosta de você, só não percebia e…

–Ah, claro, como não percebi que ele fugia, fazia cara de nojo e me machucou a pouco porque gostava de mim, como sou lerda.

–Pucca!

–Ching! Olha o que você está falando! Eu realmente achei que você se importava comigo, mas acho que você só estava dentro desse joguinho também, né?

–Você tem que me ouvir!

–Eu não quero ouvir mais nada, achei que éramos amigas.

Pucca se retirou do local apressadamente, muito irritada. Ching seguiu até fora gritando, em vão, para ela esperar. Ching ficou um pouco triste, não pôde conversar direito e agora provavelmente não conseguiria ter uma outra conversa nem tão breve. Pegou o telefone e ligou:

–Alô?

–Abyo?

–Oi Ching, o que foi?

–Chame o Garu e me encontre no lugar de sempre, estarei lá daqui a meia hora, precisamos conversar. Beijos!

Ching desligou e Abyo ficou totalmente confuso, o que ela queria conversar? Quando Abyo saiu de casa a fim de chamar Garu pensou, desesperado, consigo mesmo: "Que lugar de sempre?!"

Amar é complicado(Pucca)Onde histórias criam vida. Descubra agora