Desacreditados

2.4K 235 75
                                    

Todos estavam muito surpresos e até um pouco assustados com o que haviam acabado de ver, ou melhor, ouvir. Garu pensaria em um turbilhão de coisas se seu espanto não tivesse sido tão grande, ficou praticamente imóvel enquanto todos permaneciam boquiabertos.

–Pucca! V-você está falando! – Disse tio Dumpling muito surpreso.

Pucca ainda estava nervosa e um pouco envergonhada por tudo que estava acontecendo, não sabia se aquilo era certo depois de tantos anos e, um pouco preocupada com a reação de todos, olhou para Ching, que correspondeu levantando lentamente a cabeça e acenando em confirmação, para que a menina continuasse.

–S-sim, tem algum problema?

–Eu não acredito! – Abyo disse se levantando de onde estava e olhando para Ching, que permanecia quieta.

Garu continuava sem reação alguma, ela estava falando, falando mesmo! Depois de todos aqueles anos sem dizer sequer uma palavra ela havia rompido o voto de silêncio que compartilhava com ele. Por que assim tão de repente?  Se convenceram finalmente de que não era brincadeira ou mentira, os dois que falaram com a menina perceberam seus queixos caídos ainda pela surpresa e, revirando seus olhos e focando eles em Garu, viram que ele permanecia sem reagir. Abyo percebeu o clima que estava sendo formado e tentou puxar assunto com Garu e Pucca:

–Puxa Garu, quem diria! A Pucca tá falando mesmo hehehehe… – Riu de forma forçada e sem graça enquanto coçava a cabeça.

–Eu achei que nunca mais ouviria sua voz por causa desse voto idiota. – Tio Dumpling disse, se esquecendo do Garu, que o olhou de forma bem irritada o deixando sem graça. – Quer dizer, sabe…

–Tudo bem! Já estava na hora desse voto ser rompido, não é Pucca? – Ching finalmente se pronunciou.

–Claro… – Pucca disse olhando para o chão, ainda um pouco envergonhada.

Depois de poucos minutos mais ali, Pucca foi à cozinha ajudar com as encomendas e os outros se acalmaram. Aquilo era muito repentino, não sabiam o que dizer, mas Abyo continuou o assunto mesmo assim.

–Garu, o que você acha disso?

Garu levantou os ombros, demonstrando que não ligava. Ching virou o rosto indignada e Abyo, respirando fundo, prosseguiu:

–Você realmente não se importa?

–"Ela só quebrou o silêncio, não é como se ela fosse mudar totalmente por causa disso."

–Ok então.

Ching deu um leve sorriso e se retirou do local.

–Então eu vou indo Garu…

Garu continuou pensativo enquando Abyo fora atrás de Ching. "Ela sequer tinha motivos para fazer o voto de silêncio junto comigo…". Pagou a comida e saiu do restaurante ainda pensativo.

Narradora [Off] / Garu [On]

  A voz dela era muito linda, não parecia mais uma criança…Espera, no que eu estou pensando? A Pucca continua sendo a Pucca! Mas com certeza deve ter sido muito difícil para ela voltar a falar assim, de uma hora para outra, é por isso ela estava estranha hoje cedo e eu achando que era por minha causa. Espera, por que seria por minha causa? Foram muitos acontecimentos para um dia só, tudo que eu precisava era ir para casa relaxar.

Segui para casa tentando esquecer tudo o que passara, mas a voz dela não saía de minha mente. Nunca achei que ela romperia o voto de silêncio, sei que ela nunca deveria tê-lo feito junto a mim já que não tinha nada a ver, mas mesmo assim, nunca pensei na possibilidade dela rompê-lo. Mas não importa, isso não vai me afetar de qualquer forma, só espero que ninguém fique me pressionando, eu não irei quebrar meu voto por nada! Cheguei em casa e fui direto para o banho, abri a boca de leve, mas nenhum som saiu, eu estava convicto de que não quebraria o voto de silêncio.

Eu conheço a Pucca a muitos anos e, desse tempo para cá, devo ter escutado sua voz umas 3 vezes no máximo. Moramos aqui na vila há muito tempo, Treino desde criança e, quando meu pai faleceu, jurei que me tornaria o melhor e mais forte ninja de toda a vila, então iniciei o voto de silêncio que jurei nunca quebrar, mas o que eu não esperava era que a garota beijoqueira que vivia me perseguindo o faria também. No início fiquei meio incomodado e aos poucos fiquei um pouco feliz, não me sentia sozinho. A verdade é que com o tempo parei de me importar, mas vê-la falar, ouvir sua voz depois de tanto tempo, me deixou um pouco incomodado, eu senti que ela estava me evitando. Mas quer saber? Foi muito melhor assim! Quem sabe ela pare de me perseguir também? Seria muito bom para ser realidade.

Garu [Off] / Narradora [On]

Depois de ter enchido a mente de pensamentos e lembranças enquanto tomava um banho quente, Garu foi para seu quarto e se jogou na cama, o dia havia sido exaustivo e, lembrando novamente da voz   de Pucca que grudara em sua mente, fechou os olhos devagar e rapidamente caiu no sono.

Enquanto isso, Pucca, também em seu quarto, suspirava com cara de preocupação. "Será que eu fiz a escolha certa?". De repente escuta uma batida na porta, era seu pai Lee Rong.

–Oi. – Disse cabisbaixa, evitando olhar em seus olhos.

–Então é  mesmo verdade, você está falando.

–Pois é.

–Hoje não fui ao restaurante para resolver uns negócios, não acreditei quando disseram que você quebrou o voto de silêncio.

–Sim, eles ficaram muito surpresos.

–E você está bem?

–Sim.

–Por que decidiu falar de uma hora para outra?

–Já estava na hora, não podia ficar muda para sempre, só isso.

–Certeza que é apenas isso?

–Sim.

–Ok então, boa noite querida. – Disse dando-lhe um beijo na nuca e saindo do quarto.

"Surpresa… Eu mesma me surpreendi por não ter surtado. Agora eu vou definitivamente me desapegar do Garu, não irei mais tentar fazê-lo me amar!"

Pucca deitou-se e adormeceu, Garu também já estava dormindo profundamente e, naquele momento, teve um sonho: Pucca ia para longe de sua direção e ele a chama, que é retribuído com uma cara de nojo e um movimento nos lábios que, sem som, dizia "Eu te odeio", fazendo-o lacrimejar e nesse momento Tobe, que estava próximo, dá um sorriso malicioso e, com um único golpe, o derruba e começa a rir.

Garu então acorda nervoso com o coração acelerado e, sentindo algo quente em seu rosto, passa a mão em sua face e percebe que estava molhada, ele estava chorando.

Amar é complicado(Pucca)Onde histórias criam vida. Descubra agora