[II] Prefiro as palavras de Harper Lee

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Meu primeiro dia de aula em um novo colégio eu nunca esquecia.

Todos eram sempre bem desastrosos, para falar a verdade... Eu costumava ficar sozinho no ônibus escolar – quando a cultura daquele país pedia por eles — ou perdido em um ônibus público — já que nem minha mãe, nem meu pai, se voluntariavam para me levar de carro para o colégio. Depois das cenas catastróficas nos ônibus, se eu não fosse zoado ou sofresse de xenofobia, eu só ficava bem quietinho na minha. E quando chegava no colégio, rezava para que tudo desse certo e eu voltasse logo para casa — não que chegar em casa fosse um ponto positivo no meu dia.

Naquele primeiro dia de aula em específico, eu estava me sentindo bem melhor. Nada de poder sofrer xenofobia ou ser estranho para meus colegas. Eu saberia falar direitinho a língua do país e sabia toda a cultura dele de cor e salteado. Estava de volta à Coréia do Sul. Seul, para ser mais exato. E, também, bem animado — ainda que triste, já que eu poderia estar começando uma universidade se estivesse no ocidente — para terminar logo aquela fase escolar da minha vida.

— Já está com tudo aí, querido?

— Sim, mãe.

— Não esqueça de fazer amigos e estudar bastante.

— Não esqueça, principalmente, de fazer amigas. Já está na hora de arrumar uma namorada, Jeongguk — meu pai falou, por cima do jornal que lia.

Suspirei antes de assentir para suas instruções.

— Tudo bem, vou tentar. Até mais tarde.

Eu tinha que tentar. Não podia decepcionar meus pais. Eles disseram que tentariam ficar em Seul até eu terminar todos os meus estudos, então isso me daria tempo de criar amizades e me apaixonar e me casar com uma garota linda e inteligente.

Andei até o ponto do ônibus escolar, esperando ele ir me buscar.

Meus pais e eu nos mudamos para um bairro americanizado, em Seul. Eles estavam acostumados com aquele tipo de casa, então acharam melhor ir com calma na "desculturalização". Mas era legal. A casa não era pequena, tinha quintal e garagem, e uma rua bem calma e bonita. Uma cópia clássica das ruas dos filmes de hollywood.

Quando o ônibus parou na minha frente, com as portas abertas, engoli em seco e segurei mais firme nas alças da mochila, antes de entrar nele. Mordendo a ponta da língua, em puro nervoso, olhei para os rostos que também me olhavam. Encontrei um banco vazio — o que achei estranho, já que era o banco alto e quase todos os outros dividiam os bancos com outras pessoas — e me sentei nele.

Escutei algumas pessoas do fundão rirem, mas tentei ignorar, pegando um livro para ler durante o caminho.

— O novato vai morrer logo no primeiro dia... Tadinho — uma voz feminina sussurrou, não tão baixo, rindo com seus colegas.

— Vai ser engraçado quando o Oppa expulsar ele do banco...

Mais risadas, mas as palavras de Harper Lee eram mais interessantes que as fofocas do fundão.

Alunos continuavam subindo no ônibus e eu continuava mergulhado em meu livro. Até que, em alguma parada, algo me distraiu.

Ou melhor, alguém.

— Esse lugar é meu.

Eu conhecia aquela voz. Não tive muita certeza no momento, mas quando olhei para a pessoa... Sinceramente, o mundo é realmente muito pequeno.

I Still Want You |Jjk+Pjm|Onde histórias criam vida. Descubra agora