PRÓLOGO

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Ruan Callegari

Um moleque franzino de cabelos ao vento e sorriso travesso.

Por mais que minha mãe tentasse, meus cabelos nunca ficavam quietos no lugar sempre rebelde.

Essa é a imagem que vejo.

Bermuda suja de barro e sem chinelos nos pés,  complementam o cenário de quem acabou de jogar uma partida de futebol.

Minha pele queimada do sol fazia meus dentes brancos serem quase reluzentes.

Meu sorriso morre ao me aproximar de casa e ouvir barulhos de  tapas e murros.

Idade? 
8 anos.

-----Para pai, por favor.

Ele batia na minha mãe como se fosse um saco  de pancadas .

----Sai daqui moleque.

Seus vermelhos Olhos de  pupilas dilatadas indicavam que o que ele queria era dinheiro para comprar mais drogas .

Eu nao tinha, nem trabalhava ainda,  mesmo ele ja tendo me apresentado ao dono do morro para ser aviãozinho e servir de pagamento para suas merdas .

Eu entro na frente da minha mãe e levo uns tapas e murros em seu lugar, Mas ela me joga longe apanhando em dobro por causa da minha tentativa de intervir.

No domingo,  como sempre uso minha melhor roupa, a camisa faltando dois botões, a calca jeans com alguns rasgados fingindo ser moda e o sapato semi novo, colado cinco vezes com superbonder e vamos a missa.

Mamae,  chorou durante a missa inteira.

Eu senti como se nao tivesse ela mais e na manha de segunda-feira quando entrei no banheiro para escovar os dentes para ir a escola,  vejo a cena que jamais esquecerei.

Dona Ana Francisca,  Chica para os íntimos,  tinha uma corda em seu pescoço.

Eu nao queria acreditar, eu subi no banquinho e cai tres vezes tentando tirá-la de la.

Na quinta tentativa eu consegui.

A sua língua, oh meu Deus a sua língua estava toda pra fora de um tamanho que nem sei dizer em metros.

-----Volta mamãe,  eu prometo nao sujar a roupa no futebol e tirar notas melhores ao inves de jogar Nintendo.

Eu esmurrava o peito de mamãe e de nada resolvia.

Eu chorava e gritava.

Ela não respirava e sua cor sumia cada vez mais de seu rosto e sua pele estava gelada.

Vou para o meio da rua gritando socorro e os vizinhos saíram todos de suas casas, para saberem das novidades, mas ao me ver aos prantos,  seus semblantes se tornaram triste e assim, o dono do morro foi chAmado e o acordo selado, quando eu fizesse 10 anos,  seria um deles e assim, mamãe teve um caixão e um local digno para ser enterrada.

Eu não queria, eu queria ser jogador de futebol e ganhar prêmios, ser o que mais fez gol na copa do mundo e dedicar para minha mãe.

Eu queria ter a minha morena para andar de carro comigo e ter tanto dinheiro que a favela não teria ninguém passando fome e sem roupas para vestir.

Eu queria ajudar todos os andarilhos e ser conhecido pelo craque da seleção brasileira.

E um dia todos os moleques carregariam nas sua camisas de time o meu nome e sentiriam orgulho.

Só que infelizmente a minha realidade foi alterada junto com a corda no pescoço da minha mãe.

Ela era alta então conseguiria ficar de pé sem que a corda apertasse, Mas tudo indica que ela forçou o aperto dobrando as pernas.

Era real.

Eu perdi a minha mãe.

A minha guerreira.

Por mais que todos tenhamos livre arbítrio eu creio que há sacrifícios que não podem ser mudados.

Agora ce tá ligado que nem todas as histórias iniciam com felizes para sempre?????

(Completo)Desafio-A História De Ruan CallegariOnde histórias criam vida. Descubra agora