Alec James Quint
Docas Allen, Buffalo Bayou
Porto de Houston, Texas, US
Nós três nos encontramos no alto da colina, perto do porto, de onde partiríamos para a América do Sul...
Cada qual se conduziu de maneira desconfiada, temerosa, disparando os olhos pelo terreno, avaliando as possibilidades de armadilhas, ou as rotas de fuga mais fáceis. Não éramos amigos, nem inimigos... Mas poderíamos matar quando mergulhados na espiral de loucura que consumia a nossa razão, a cada lua cheia.
E mesmo sem lua... Tudo dependia do quanto nos atiçavam, ou encurralavam. Mas, principalmente, o quanto tolerávamos a pressão. Um bom motivo para evitar aquele encontro.
Por outro lado, era a mesma razão pela qual nos tornamos um alvo fácil para os aesires. Porque somos lobos fenrises; somos leais aos nossos. Cuidamos das alcatéias. É o que fazemos... Destruímos, dominamos, mas também protegemos e alimentamos... Amamos. Com intensidade. E apenas uma única vez na vida. Nós escolhemos e delimitamos o território, protegemos e lutamos ferozmente contra quem tente ameaçá-lo...
Só que não havia mais alcateias para proteger. Elas foram dizimadas; os lobos, localizados e impiedosamente caçados. Todos eles, alphas, bhetas, e as fêmeas dheltas.
Logo os fenrises iriam sucumbir por completo, a menos que os últimos alphas sobreviventes fizessem o improvável: formassem uma alcateia de alphas.
Dos três que compareceram àquele encontro, eu era o único que rejeitava veementemente o lado feral. Os ciganos, nossos aliados, pensavam que eu devia ser o mais controlado e poderoso. Particularmente, eu dispensaria o título de salvador da espécie, mas não tínhamos escolha. Ou nos uníamos, ou iríamos todos morrer.
Para fazer o que é preciso, teríamos que superar nossos piores medos, ímpetos e agonias...
Quando comecei a me transformar, temi matar as pessoas ao meu redor. Descobri da pior maneira que meu pai era um fenris e vivia uma vida dupla. Ele desapareceu, foi dado como morto, e a suspeita sobre a maldição dos Quint recaiu nos meus ombros.
Em meio à tragédia e o preconceito, cuidei de minha mãe; de nossa propriedade; tornei-me um oficial da lei, caçador de fugitivos, temente a Deus... Estive tão certo de que estava trilhando o caminho do bem e que seria recompensado por isso! Na verdade, eu não fazia ideia de que um fenômeno assim, tão visceral, sequer existisse. Que iria me dominar e destruir todas as chances de alcançar a vida que sempre almejei.
Mas na fase adulta, a transformação aconteceu. Perdi a mim mesmo, num caos assustador de dor e desespero. Acordei nu e banhado em sangue. Os corpos espalhados ao meu redor, destroçados.
Não tomou mais do que alguns segundos para a percepção do que fiz me atingir como um raio. Eu fiz aquilo tudo. Destruí a vida de famílias inteiras ao tirar a vida de homens bons, com os quais convivi durante os anos em que atuei nos Texas Rangers.
Foi assim que descobri o que meu pai me deixou de herança e comecei a teorizar a respeito da verdade por trás do seu desaparecimento. Por causa da minha herança, eu me tornei uma pessoa disciplinada além do limite - beirando à tortura autoimposta. Deixei minha mãe, o rancho, o distintivo... Deixei minha terra natal, o Texas, para vagar em busca de respostas.
Eu não ouvi falar dos aesires até acessar o conhecimento milenar. Não tinha noção do que estava acontecendo. Nem mesmo quando eles me caçaram - a minha primeira transformação, aliás, foi provocada pela tentativa de me matarem. Isso não me eximia da culpa pelas mortes que deixei para trás.
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A Herança de Fenris 1 | AMAZON COMPLETO
FantastikDEGUSTAÇÃO Acordei de um sono confuso, repleto de imagens borradas. Pessoas usando roupas de época; cheiros e cores vívidas... O toque sedoso de pelos em minhas mãos. Um tipo de pelo macio, quente e espesso. A risadinha musical e maligna de mulher...