Incógnito

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Já deveria ser a vigésima vez que Kim Taehyung repassava em sua cabeça todos os méritos e elogios que havia ganho como um universitário, na esperança que tudo aquilo o trouxesse alguma confiança própria e expulsasse o nervosismo. Não funcionou.

Aquele era o início de seu primeiro ano como profissional formado, sua felicidade era milimetricamente dividida dentro de si com o pânico total. Qual seria sua função? Como seria tratado? Qual o tipo de pacientes que trataria? E se a prática não fosse nada a ver com a teoria?

Fora desperto de seu mar de pensamentos ao ouvir a voz do loiro à sua frente. Estava na sala de Kim Suho, o diretor do hospital. Esperava ser bem mais velho, tinha a visão de encontrar alguém de idade aproximadamente igual à do presidente de sua universidade – por volta de 70 anos –. Mas ao invés disso, ele parecia ser pouco mais velho que si.

– Incrível, você é ainda mais jovem pessoalmente. Quase inacreditável! – O sorriso paternal era esboçado novamente sobre seu rosto. Tal sorriso já havia se tornado característico dele, mesmo com os poucos minutos que o havia conhecido.

– Obrigado, eu acho. – Taehyung sorriu desconcertado, arranhando os braços da poltrona em involuntário movimento nervoso. – Agora, gostaria de saber mais sobre o meu cargo. Na verdade, gostaria de saber tudo, incluindo os mais dispensáveis detalhes.

O outro gargalhou em grande ânimo, recostando-se em sua vasta poltrona de couro enquanto os pés eram postos sobre a mesa.

– Certo, certo. É verdade, perdoe-me por todos os rodeios, sou conhecido por devagar demais durante uma conversa, você vai ouvir bastante isso por... Ok, eu fiz de novo. – Agora o loiro sentava-se organizadamente, puxando o ar em frustração enquanto os cotovelos eram apoiados na mesa. – No seu primeiro semestre, terá uma função mais específica. Cuidará apenas de um paciente.

Taehyung enrijeceu o cenho, incrédulo.

– Um paciente? Isso é um estágio ou o quê? – Seu tom fora mimado como nunca imaginou usar com um superior em sua primeira conversa. Mas era tarde demais para engolir as palavras.

– Calma, garoto. – Respondeu tranquilamente com um sorriso. – Vou corrigir. Você vai cuidar do paciente. Este paciente é provavelmente o mais famoso dentre todos os internados aqui, e continuará sendo por um bom tempo. Nunca pensei contratar alguém sem experiência para tal posto, mas era de tremenda urgência. Além de tudo, todo seu histórico deixa mais do que claro que é confiável.

O garoto, agora mais tranquilo, confortou-se como se dissesse "conte-me mais".

– Seu nome é Seokjin. Kim Seokjin. Isso é, basicamente, toda a informação prévia que temos sobre ele, com exceção do que descobrimos quando já estava internado aqui. Tudo sobre ele é uma grande incógnita. Lidar com ele é, para profissionais como nós, extremamente interessante, mas desafiador, acima de tudo. Poderia falar mais sobre, mas prefiro que tire suas próprias conclusões. – Empurrou pela mesa uma pasta de arquivo na direção de Taehyung enquanto falava. – Todos obtiveram resultados diferentes. Estou ansioso pelos seus. Só peço que, por favor, não vá muito fundo. Precisamos de você, Taehyung.

Finalizou com um sorriso que Taehyung não soube decifrar, mas o causara algum nervosismo. Deixou a sala do diretor com um incômodo no peito. "Não vá muito fundo", o que diabos aquilo significava?

Percorreu o corredor do hospital até o jardim, encontrando um vasto espaço verde. Olhou ao redor, averiguando se não estava no lugar errado. Sentou-se em um dos bancos, pondo o arquivo sobre seu colo com certo receio infantil de abrir. Não fazia ideia do que as palavras do diretor haviam lhe causado exatamente, mas não se sentia tão confiante quanto antes.

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