As Flores e o Fogo

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Taehyung esqueceu-se como era se sentir à vontade naquele lugar. Havia mais enfermeiros o acompanhando, e não estava mais em suas mãos a opção de dispensá-los. Seokjin fora medicado à força diversas vezes, e o contato que teve com seus sonhos fora totalmente encerrado – quando influenciado pelos calmantes, Seokjin não falava mais durante o sono –. Quando acordado, o rapaz parecia tão assustado quanto nos primeiros dias. As poucas palavras que conseguia falar regrediram a quase nenhuma, novamente.

Mesmo que a afeição para com Taehyung não houvesse diminuído, a comunicação voltou a ser algo quase impossível. Via-o cada dia mais próximo do tal "zumbi" que Suho havia mencionado. Estava fraco, parecia incapaz de pensar e dormia bem mais que o normal. Taehyung mal continha todo o ódio que lhe corroía por dentro. Era culpa de Namjoon. Estava tão óbvio que o moreno escondia algo sobre o paciente, e mais do que nunca, queria manter aquilo escondido.

O jovem psicólogo se sentia derrotado. Além de falhar em resolver o caso, também perderia todas as chances de ver Seokjin saudável e conhecer quem realmente era.

Naquela madrugada, Taehyung não dormiu. Não por ler demais, por trabalhar demais, ou por influência de energéticos ou cafeína. Simplesmente estava deprimido. Chegou a vomitar puramente pelo estresse que estava pesando sobre si com toda aquela situação. Já passara a enxergar a si mesmo como um derrotado incorrigível.

Porém, antes que dormisse com todo aquele peso guardado em seu peito, decidiu que não. Além de sua carreira, queria salvar Seokjin e não desistiria de tudo tão facilmente, não seria mais um dos psicólogos infelizes que passaram pela vida do jovem sem tirar ou acrescentar nada. Fora colocado ali e iria até o final, mesmo tendo que passar por cima de Namjoon e toda sua aura intimidadora ou quaisquer que fossem suas intenções.

Na manhã seguinte, não precisou da influência de nenhuma bebida para estar disposto a começar o dia. Algo em sua determinação estava mais forte que toda a exaustão. Provavelmente a decisão que tomara após sua longa madrugada de pensamentos era a mais perigosa até ali, e isso incluía desafiar o misterioso dono do Hospital, que por algum motivo trazia total temor a todos ali. Não podia se importar menos. Ajudaria Seokjin da forma que pudesse e nada o faria dar passos para trás àquela altura.

Caminhou até o conhecido quarto calmamente, esforçando-se para manter ao seu redor uma aura agradável. Era acompanhado de dois outros enfermeiros, tendo em suas mãos o café da manhã de Seokjin em uma bandeja. Embora não pudesse mais fazê-lo se alimentar sozinho, insistiu para que ainda fosse responsável pela tarefa – por ter noção que os outros funcionários seriam impacientes e talvez agressivos com toda o comportamento do paciente –.

Ao chegar, encontrou-o exatamente como imaginava: desacordado. As marcas de injeção nos braços do rapaz pareciam recentes, mais uma vez haviam ignorado totalmente seu bem-estar e agido de forma indiferente com sua fobia. Se estivesse sozinho, sua raiva seria mais evidente; a presença dos outros enfermeiros o fez manter-se calmo e aparentemente acostumado com o novo sistema.

Despertou Seokjin calmamente, sabendo que seria um processo lento. Até pôde ouvir os murmúrios por trás de si sobre coisas como "eu não perderia todo esse tempo". Aquilo o fazia estremecer.

Levou por volta de 2 horas para fazer Seokjin terminar o prato. Taehyung estava naturalizado quanto a esse tipo de comportamento pelos primeiros meses de contato, mas naquele momento parecia um estado ainda pior. O que antes era mínimo, agora não existia mais. Se impressionaria se levasse menos de 4 meses para ouvi-lo falar novamente, apesar de esperar que acontecesse.

– Vou leva-lo ao jardim. – Taehyung se pôs diante dos dois "vigias" na porta do quarto, tendo Seokjin espiando por trás de seu ombro como uma criança tímida.

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