Reminiscência

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r e m i n i s c ê n c i a

1. imagem lembrada do passado; o que se conserva na memória.

2. sinal ou fragmento que resta de algo extinto.


Namjoon encarava a tela de seu celular com desgosto. Seria capaz de ter um surto de raiva naquele restaurante sem nem pensar duas vezes – pagar o prejuízo seria o menor de seus problemas –, mas felizmente seu ponto forte era tornar latentes seus sentimentos. Precisava pensar. Usar o fato de saber o que está acontecendo de antemão a seu favor.

Taehyung ainda estava tendo sessões com Jin, como já desconfiava. O garoto estar diferente e principalmente perdendo suas fobias era um sinal claro. Sabia disso desde que o viu não mais assustado, porém quase em atração pelo fogo. Nunca achou que as câmeras escondidas pelo hospital – que podia acessar pelo seu celular – seriam tão úteis como naquele momento, pois foram sua confirmação final.

Outro fato era estar tendo a ajuda de Suho. Aquele bastardo. Para ser sincero, nem estava surpreso. Mesmo sendo um belo covarde quando se dizia confrontar as decisões de Namjoon, ainda sim nunca confiou naquela cara de bom samaritano do loiro, então não significou muita coisa.

O que poderia concluir era que já estava tarde demais para tentar impedir. Tudo sinalizava que Jin estaria a um passo de recuperar sua memória por completo. O pirralho já havia mexido em sua cabeça o suficiente para se tornar irreversível. Poderia se desesperar, mas já havia passado daquele ponto. Seu desespero nunca o trouxe nada de produtivo. Teria de usar sua inteligência.

Aqueles dois provavelmente já sabiam das raízes das fobias de Jin, ao menos da versão falsa que criou para a justificativa. E sendo assim, iriam querer chegar mais a fundo. Ainda mais acrescentando a curiosidade irritante e intrometida daquele pirralho. Suho provavelmente já sabia da sala de Namjoon àquela altura, e iria mandar o garoto para lá. Jin já irá ter acordado por completo, então precisará de um motivo para se livrar daquele moleque, ou existiria o risco dele amolecer o coração... Esse risco não poderia existir. Por via das dúvidas, ele saberá de toda a verdade e mantê-lo vivo seria um risco que Seokjin não iria querer correr.

Para ter certeza de que ele a encontraria, a porta do armário onde os documentos ficam foi deixada aberta por Namjoon. Além disso, emperrou o cofre para que fosse possível abri-lo sem precisar da senha. Era extremamente óbvio que erros dessa dimensão não seriam cometidos acidentalmente, mas a adrenalina do momento no garoto deixaria quase impossível de não acabar bisbilhotando do mesmo jeito. No momento que achar os documentos, sua inocência na história será perdida. Boom. Tirá-lo de vista será inevitável. Agora... A parte difícil. Encontrar com Jin.

Seokjin foi deixado sozinho em seu quarto. Aquela havia sido uma longa noite, a qual não sentiu sono algum. O silêncio. A iluminação quase inexistente. Tudo fazia parte de sua rotina, mas naquele momento, eram estranhos para a pessoa sentada de frente para a parede. Os olhos escuros haviam perdido o brilho tão rápido quanto um relâmpago. Cenas reviravam sua mente como um filme, e o olhar vazio era o oposto ao quão preenchida sua mente se encontrava.

Um piscar de olhos e seus pensamentos se silenciaram. Sentia-se despertando de um coma – o que não deixava de ser verdade –. Já sabia que algo estava mudando fazia alguns dias, porém na última noite a brecha para a verdade finalmente se tornou uma porta escancarada. Pouco a pouco, seu próprio subconsciente foi lhe devolvendo quem realmente era.

Com um breve sorriso, Kim Seokjin sentia-se feliz de estar de volta.

Logo a porta atrás de si era aberta e um feixe de luz branca invadia. Namjoon se pôs para dentro em passos receosos, permanecendo imóvel por alguns segundos antes do silêncio ser quebrado.

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