O Assassinato

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Não conseguia dizer o que causava mais repulsa naquela coisa asquerosa em sua frente. A pele tinha uma cor tenebrosa, um tom de branco quase cinza; isso quando desconsiderada a quantidade bem pouco saudável de sangue escorrendo por toda parte. Nem mesmo tinha noção de qual dentre todos os ferimentos originavam a cortina vermelha que cobria o rosto do rapaz.

Àquela altura, pouco importava; Kim Taehyung já estava morto. Talvez ainda não por fora, mas por dentro era o mais putrefato dos cadáveres.

Namjoon observava com o natural nojo, porém ali também havia alívio. Se livrar dele seria uma tarefa árdua considerando que não era um zé-ninguém como as últimas vítimas. Nem sabia por onde iria começar. O tempo ausente do cargo de "limpa-bagunças" o havia enferrujado, teria de forçar bastante seu intelecto e criatividade até forjar uma boa justificativa para o maior prodígio daquela geração de psicólogos ter ido vivo e saudável para seu primeiro emprego e não mais retornado.

Mas, afinal, o que importava? Tudo tinha acabado. O que seria um pequeno esforço extra depois de todo o risco corrido até ali? Trabalharia com prazer. Seria sua mais graciosa obra.

– Sabe, eu estava ansioso por isso! – Namjoon saiu de seu lugar e passou a caminhar pelo porão empoeirado, passeando calmamente com as mãos nos bolsos de seu jeans. – Você durou muito! – Exclamou, finalizando com um sorriso enfático, e então coçou os olhos com o polegar e o indicador direito, enquanto posava com uma mão na cintura.

– Tomou muita atenção, muito tempo. Estou desgastado. E para ser sincero, não é nem de longe merecedor de tudo isso. Creio que só não é pior que o tal... Qual era o nome mesmo? Hose... Hoseulk? Ah, enfim. Você, ao menos, é inteligente... – Fez uma pausa e então gargalhou, desprezível – Ao menos era na teoria, não é?

Nem mesmo sabia se o garoto o ouvia ou não, considerando que não percebia seu peito mover-se em suspiros, ou qualquer outra parte de seu corpo. Mas, na verdade, não falava com ele. Aquele era seu monólogo final; o seu momento. A digna e esforçada cereja do bolo.

– Sabe de uma coisa, não entendo por que eu não fui condecorado com tudo o que jogaram em cima de você, sendo que sou explicitamente mais inteligente, criativo... genial, mesmo. Em todos os sentidos. – Gesticulava bastante com as mãos, como um ator de ópera orgulhoso faria. Enquanto isso, juntava produtos químicos de limpeza, um esfregão e então um saco de areia e terra misturadas para iniciar a limpeza. – Vejamos bem: se alguém é capaz de enganar um "gênio", não seria este alguém um gênio ainda maior? Mais especificamente: se as técnicas de um profissional podem manipular à outro profissional que era dito ser o melhor, não seria este manipulador uma espécie de divindade? Hein? Bom, pois eu acho que sim. É como eu me sinto agora.

Passou a espalhar os produtos químicos, que facilmente dissolveram a camada superior do chão gasto e velho do porão, onde as marcas de sangue e demais resíduos poderiam vir a ser provas de que ali ocorrera qualquer cena de crime. Após isso, espalhou a areia suja por toda a área, usando um esfregão. O sorriso não deixava seus lábios, exceto quando parava para assobiar uma canção alegre.

Arrastou sem muito cuidado ou delicadeza alguma a cadeira que abrigava o corpo semimorto, encostando-o em uma das colunas como se fosse apenas mais um móvel velho dali. Taehyung tossiu, subindo o olhar manchado de vermelho na direção de quem o arrastava, podendo encontrar naquele fraco par de olhos um ódio pouco antes sentido pelo jovem.

– Olha só! Está vivo! – Namjoon sorriu, inclinando-se em sua frente. – Ótimo, ótimo! Eu queria mesmo falar com você, e queria que estivesse ouvindo atentamente. Então se mantenha desperto.

Deu dois tapinhas no rosto ensanguentado e prosseguiu na limpeza.

– Sabe essa última história? É minha favorita. Claro que Jin nunca saberia... ou saberá de sua existência, mas é minha favorita. Consegue guardar esse segredo, não consegue?

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