Romantic Murders

Gritos

j u n g k o o k

Uma das máquinas mais incríveis da natureza também conseguia ser uma das mais frágeis e patéticas.

O ser humano era frágil demais em diversos aspectos. Receber notícias fortes ou presenciar algo desagradável faz com que o corpo reaja de forma asquerosa, jogando pra fora tudo que consumiu. Uma máquina forte como, por exemplo, os lobos, só regurgitam quando comem algo errado. Seres mais racionais, como pinguins, despejam seus suprimentos pra alimentar as crias. Todos têm um motivo lógico. Apenas o homem é ridículo o suficiente pra vomitar por se sentir surpreso.

Taehyung estava com seu corpo inclinado para frente, ao máximo que as correntes o permitiam. O dia puxado exigiu uma alimentação pesada, que estava sendo jorrada por sua boca.

Por estar acostumado com situações fortes, dificilmente se enjoava. Não se sentiu mal quando assistiu uma cirurgia com apenas quinze anos. Não sentiu o estômago embrulhar quando flagrou a namorada transando com seu professor. Nada que aconteceu em sua curta vida chegou perto do terrível trauma de descobrir a verdade sobre seu doce anjo. Doce SeokJin.

Existia muitas coisas presas em sua garganta; perguntas sobre sua humanidade, sobre o porquê de estar acorrentado daquela forma, e principalmente se seria a próxima vítima. Gritos que cortariam suas cordas vocais, mas que continuaram escondidos pois Namjoon se levantou, indo até SeokJin.

– Estou tão feliz que esteja de volta! – Os dois se beijaram e Taehyung quase vomitou mais uma vez. – Mas preciso organizar muitas coisas. Mais tarde venho te buscar, tudo bem?

Não era uma desculpa. SeokJin não iria mais querer viver no hospital, e mesmo que fosse a pessoa mais importante do lugar, eram necessárias muitas documentações falsas pra conseguir tirá-lo de lá. Além de que era preciso esconder o corpo de Suho, fazer uma limpa nas câmeras de segurança, a parte chata. Tinha muito tempo que não fazia isso, por isso estava mais lento, precisava manter a forma agora que SeokJin estava de volta.

– Finalmente ele foi embora. – Disse assim que Namjoon fechou a porta. O psicólogo não conseguiu esconder sua surpresa e SeokJin notou isso. – Não me olhe assim, Tae. Não menti quando disse que Namjoon é o amor da minha vida, sempre volto pra ele. Mas no momento você é a pessoa que eu dedico meus grotescos "eu te amo", então não quero mentir pra você. A história seria incompleta se não falasse toda verdade sobre ele, e essa verdade não envolve apelidos carinhosos ou frequentes declarações de amor.

– Não diga "eu te amo" pra mim. Eu já estou me sentindo péssimo, porque no fundo eu sonhava em ouvir isso de verdade.

Desde que conheceu seu paciente especial, Taehyung sempre achou estranha a forma como seus sentimentos por ele defloraram tão rápido. No início, teve medo de parecer obcecado ou ser taxado de tarado pelo estranho carinho que mantinha. Mas se esqueceu de tudo. Ignorou o possível mal de sua relação quando beijou SeokJin pela primeira. Jamais pensou que se arrependeria daquele ato como se arrependia ali.

O nojo pareceu não se fazer presente em SeokJin, que não se importou com o vômito nas coxas de Taehyung quando se sentou nas mesmas. Segurou firme a cabeça do psicólogo, fazendo com que seus olhos marejados o encarassem.

– Eu te amo, Dr. Taehyung – As lágrimas voltaram a percorrer pelo rosto do moreno. Aquelas reações eram tão maravilhosas. SeokJin não conseguia sentir pena, observar aquilo o fazia perceber como amava tanto brincar com o medo humano. – Vamos continuar a história, ainda tem muita coisa pra acontecer.

No relatório que tinha lido sobre os crimes que SeokJin cometeu, tinha visto que foram quatro assassinatos. Ouvir sobre um deles já foi desesperador demais, Taehyung não queria ouvir mais. Começou a se debater na cadeira em uma falha tentava de se libertar. Só fez com que SeokJin caísse de cima de si. Já era óbvio que não ia conseguir se soltar, então precisava de outras formas pra poupar sua mente de um trauma daqueles. Taehyung começou a gritar, fechando os olhos, tentando esquecer tudo à sua volta que não fosse o som de seus gritos. Aquilo irritou SeokJin.