Realidade

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Taehyung ouvia barulhos e farfalhares, porém não sabia dizer se eram de sua cabeça ou algo acontecendo enquanto dormia. Parecia preso a um pesadelo o qual não se lembrava. Ao tentar abrir os olhos, tinha uma visão completamente turva. Sua cabeça latejava de forma descomunal em uma dor pulsante que achava nunca ter de sentir na vida, quase sendo capaz de fazê-lo chorar. Não podia sentir suas mãos ou braços. Estava confuso demais para posicionar suas conclusões sobre tudo que havia visto, mas a palavra "psicopata" continuava percorrendo sua cabeça.

Por favor, que seja um pesadelo.

– Acordou, Tae? – A doce voz familiar era abafada. Sentiu leves tapas em seu rosto e todas as dores pareceram se multiplicar, mas logo foram substituídos por carícias em seus fios.

Sua visão aos poucos clareou, e pôde perceber quem estava falando consigo. Seokjin. Ou ao menos, parecia ser. Um sorriso que nunca tinha visto dominava seus lábios, o olhar não era mais o mesmo. Era sem vida, sem piedade. Como encontrar um desconhecido.

– Jin... O que está acontecendo? – A voz do jovem saiu fraca e piedosa.

– Por que todos insistem em me chamar assim? Eu tenho cara de ser um maldito cachorro? – O mais alto bufou, se afastando de seu médico.

Com sua visão mais clara e sua consciência voltando à ordem, confirmou a si mesmo que não sabia onde estava. Um lugar grande, iluminado por duas lâmpadas amareladas, sujo com entulhos e poeira formando uma fina camada no chão. Parecia ser um porão. Mas não era o do hospital.

– Onde eu estou? Por... – Antes de continuar sua frase, teve também a certeza do por que não sentia suas mãos. Estava acorrentado a uma velha cadeira de madeira, com tamanha força que sentia seus pulsos e calcanhares sendo esmagados. – Por que estou preso? O que está acontecendo, Seokjin? Por que não estamos no hospital?

A tentativa de soltar os pulsos o fez notar o quanto eles estavam finos, perdera muito peso nos meses trabalhando.

– Não é possível que você apodreceu tanto apenas nas horas que permaneceu pendurado aqui. Você se tornou esse cadáver só pra tentar me curar? – Sua risada de deboche era a pior tortura. – Espero que esteja aproveitando seu sucesso como psicólogo, então.

Aquele tom de voz do rapaz – que ainda trajava o uniforme de paciente do hospital, com a exceção de estar manchado de sangue – trouxe arrepios. Nunca achou que sentiria medo de Seokjin como naquele momento. Para Seokjin, era uma cena hilária. Taehyung estava com metade do rosto encharcado com o próprio sangue, olhos vermelhos, e tudo isso destacava o quão magro e cadavérico seu rosto havia se tornado. As correntes em seu pulso eram dolorosas apenas de ver, pois todos os seus dedos ficavam roxos como se pudessem explodir a qualquer momento. Não havia economizado força naquelas correntes. Os braços finos do jovem tremiam pela falta de força, além de toda a dor que a posição trazia.

Estava orgulhoso de não ter esquecido o que fazia melhor, mesmo com o tempo que havia passado ausente.

– E eu não sou seu paciente. Ele morreu há algumas horas. Já esqueceu? Foi você quem o matou. Quatro meses de esforço para matar o jovem garotinho assustado que vocês tanto gostam de chamar de "Jin". – Seokjin parecia enojado apenas de mencionar esse apelido.

E com essas palavras, tudo voltou a sua mente. O que fazia naquele quarto, e principalmente: quem era Seokjin na verdade.

– Você... Você é um assassino. – Afirmou mais pra si mesmo que para o outro, sentindo um misto entre a tristeza e o terror.

Seokjin riu.

– É, eu sou. Satisfeito? – O maior estava recostado em uma coluna velha de madeira bem em frente à Taehyung, com os braços cruzados, o olhando com desprezo.

– O único motivo de você estar aqui é a sua curiosidade irritante, e o costume de meter o nariz onde não deveria. – Dessa vez não foi Seokjin a falar. Da parte mal iluminada do local, Namjoon caminhou.

– Você... É um cúmplice... Estava escondendo tudo o que ele fez durante todo esse tempo? – Havia ódio na voz de Taehyung.

– E tudo seguia bem, até você aparecer e tentar se tornar o herói-

– Tudo não estava bem. – Seokjin interrompeu a Namjoon, com um olhar de canto que o fez recuar. – E ele foi o herói, no final. Está sendo até agora, não é? – Se inclinou em frente à cadeira onde Taehyung permanecia preso, com um sorriso e olhar amedrontadores. – Você me trouxe de volta, Taehyung! É meu herói.

O coração do jovem acelerou.

– Mas, infelizmente, essa não é uma história para heróis.

– Você... Inventou tudo aquilo? Os abusos, o incêndio, os sintomas...? – Taehyung ainda estava incrédulo, tentando absorver tudo.

– Não, quem dera! – Seokjin saltou, sorrindo animado. Caminhou até o moreno, o abraçando de lado. – Essa coisa cinematográfica se deve ao Joonie. Ele é o protagonista aqui, na verdade. Deve agradecimentos a ele por te presentear com uma criancinha necessitada de amor e carinho.

– Você matou todas aquelas pessoas? – O coração de Taehyung não parava quieto em seu peito, respirando ofegante. A dor agora além de todo seu corpo, era em sua consciência, por não ter tido nem palpites sobre isso. Aqueles nomes, as fotos, tudo voltara a sua mente. – Min Yoongi... Jeon Jungkook... Jung Hoseok... Park Jimin... Você os matou?

Seokjin esboçou um sorriso cínico no rosto.

– É uma história interessante, quer ouvir? – Seokjin sorriu como uma criança, puxando uma caixa de madeira para frente de Taehyung e se sentou sobre ela. – E você fique aí mesmo.

Namjoon parou no lugar onde estava – na escada do porão, pronto para se retirar dali – . Seokjin se virou para ele, com o mesmo sorriso.

– Você é uma parte crucial da história, não poderia deixar que fosse embora.

Como sempre, Namjoon não tinha a opção de negar. Voltou, se encostando sobre a coluna atrás de onde Seokjin se assentava.

Por onde devo começar...

Continua...

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