Porque você é o meu analgésico

192 19 27
                                    

"Eu não posso evitar como estou me sentindo. Com medo das minhas próprias motivações. Eu não quero desperdiçar seu tempo"

- Ruel, Say.

Vejo através da janela Ben estacionar seu carro,― que me parecer ser um Ford 1960, estilo galaxie preto. Ele hesita em sair, seus olhos presos no espelho retrovisor, os lábios mexendo sem parar e eu não sei se ele está falando ao telefone ou simplesmente tentando acalmar a si mesmo, passando a mão repetida vezes no cabelo que cai sobre o rosto até que desiste de lutar contra sua aparência e cede a um boné. Há algo nele que me instiga a ir mais fundo, a investigar a razão do porque quando ele me vê seus olhos castanhos brilham como se eu fosse a única coisa que importa no mundo. 

― Ele chegou? ― Ouço Rose atrás de mim, ela está jogada no puff perto da porta e Hux, seu namorado, está no chão entre suas pernas com os olhos quase fechando pra ler o livro no escuro. 

― Aham. 

Ele abre a porta do carro e sai, tem um cigarro brilhando acesso entre seus dedos e o boné cobre seu rosto ao criar uma sombra. Ben veste uma camisa branca longa, uma jaqueta de aviador e jeans comuns. Mas é engraçado que uma junção simples de roupa fique tão bem nele.

― Ele quem? ― Hux pergunta, tirando a cara do livro pela primeira vez desde que o desenterrou da mochila. Ele é todo quieto pelo o que pude notar. Garoto prodígio em robótica, sonha em ser advogado criminalista, media B pra cima... O resto é só essas observações superficiais que qualquer um é capaz de fazer sobre ele. Do rosto pálido e praticamente inexpressivo ao seu cabelo ruivo fogo. Eu não tenho nada contra o cara, pelo contrário, eu aprecio demais o jeito que ele faz Rose se sentir a mulher mais amada no mundo ao estarem juntos. Uma combinação... Surprendente. Ela toda alegre e radiante, falando pelos cotovelos e ele sempre calado, tão negativo e pessimista. Mas há algo nesse 8/80 que dá bastante certo.

― Ben. ― Digo, e ele revira os olhos desanimado.

― Solo?

― Quem mais seria? 

― Você ‘tá saindo com Benjamin Solo? ― Hux solta uma lufada de ar e ri, vejo Rose discretamente beliscar o braço dele como as mães fazem seus filhos malcriados. ― Aí! O que foi? O cara é uma porta. A cabeça dele deve fazer um vácuo surreal. Eu achei que Rey tivesse um gosto melhor para caras. ― outro beliscão. Outro grito. Hux vira para trás pra se defender iniciando uma crise de cócegas em Tico, que faz com que ela dispare gargalhadas altas e estridentes.

Resolvo ignorá-lo, não porque Hux me irrita, mas porque ele provavelmente está certo em uma questão: só posso estar louca em pensar que um cara desses vai mudar de jeito por minha causa. 

Holdo grita lá de baixo, e eu me pego se olhando no espelho. A imagem é desanimadora; calça legging preta, camisa do ducks (meu time de hóquei favorito) até a altura das coxas, rabo de cavalo e os óculos de armação fina e redonda. Não é como se fosse inadequado, eu não sei onde Ben pretende ir e também não quis ser o tipo de garota que se arruma somente pros olhares dele. Para ser honesta, quando estava revirando o armário hoje cedo à procura de qualquer coisa que não ficasse desconfortável no corpo, me ocorreu que, se eu não me parecesse com uma dessas barbies de plástico que tanto caem aos seus pés, talvez, apenas talvez, ele perdesse o interesse em mim e me deixasse em paz. Então poderíamos ser profissionais no campo ao invés de tentar alimentar essa ilusão de filme adolescente clássico de reprise no telecine fun.

Quando desço as escadas Amy está sentada no sofá com Leia (então era ela com quem ele falava o tempo todo ao invés de sozinho como pensei), tem um chá fumegando em suas mãos e elas parecem ter uma conversa amistosa ao contrario de Solo na poltrona, com seus dedos inquietos sob os lábios e postura caída pra frente, ele encara friamente o tapete no chão da sala e parece desatento ao ambiente exterior, como se seu verdadeiro eu não vagasse por ali.

Last Hope • Reylo! AUOnde histórias criam vida. Descubra agora