A gravidade, ela me puxa para baixo

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"Com todo o amor que o seu coração aguenta. Sonhe com maneiras de jogar tudo fora"

- John Mayer, Gravity

Me deito na cama, Ben está tomando um banho no banheiro do meu quarto e Rose e Hux estão deitados no chão jogando Magic ─ um RPG de cartas que eles carregam para lá e acolá como se fosse um  músculo indispensável do corpo. Minha casa vêm parecendo uma pensão de um mês pra cá desde que Finn e Rose adquiriram o costume de fazer uma espécie de festa do pijama todo final de semana, que mais serve para por a fofoca em dia que de fato 'festejar' alguma coisa, e não é que eu não goste, mas hoje em específico é um péssimo dia para ter dois hóspedes no meu quarto e um Ben Solo recém ganhador de uma disputa corpo a corpo, nu à poucos metros de distância. 

Eu não assisti a sua luta, para ser sincera, nem sei se poderia suportar ficar no porão da Seita por muito tempo. O cheiro de ferrugem das pilastras de metal, com o sangue e o suor do ringue me causaram náuseas. Isso sem comentar o barulho ensurdecedor dos caras gritando sem parar o nome de lutador de Ben, e o jeito que ele sorria ao saltar no ringue, com orgulho do veneno que manchava a marca "Kylo Ren" era de matar. Poe me ajudou a sair antes da coisa toda ficar intensa, deu tempo de ver apenas o adversário tentar segura-lo pelo pescoço e Ben acertar um gancho de esquerda muito bem centralizado no homem e depois disso, apenas ouvi os gritos dos apostadores e nada mais. Eu havia me sentado no estacionamento e levado um longo papo com Poe, ele me contou que eles faziam isso pelo investimento, que pela valorização do dólar poderiam converter para um dinheiro como o real e ficar mais ricos do que imaginavam antes mesmo de se formarem. Esse dinheiro ajudou a família de Dameron, que foi deportada ano passado pro México e que faria a diferença quando eles começassem a investir de verdade. 5 mil dólares para a dupla, se vencerem a corrida de carros e a luta, o que era quase certeiro, e 1,5 mil dólares quando apenas um dos dois vence a disputa. Ele também me confidencializa que Ben não tem usado o dinheiro, mas o juntado faz bastante tempo, e que se não fosse por ele, sua família provavelmente passaria fome agora.  

Depois de toda a conversa mórbida decidimos comer o restinho de comida que eu e Solo havíamos deixado, e comentar um pouco sobre futebol já que ambos agora fazíamos parte do time sênior. Ele é um cara legal ─ intenso. E embora sua beleza proceda a si, visto aos olhos da maioria, o que mais me marcou foi o seu aroma de jardim: rosas e terra molhada. E esse é o cheiro que eu imaginaria sentir de Van Gogh depois de um dia ao campo pintando um de seus quadros, portanto, a imagem que me vem a cabeça quando penso em Poe Dameron é isso. Uma beleza cercada por melancolia e incompreensão, capaz de induzir-te a loucura. 
   Foi bom conhecê-lo a fundo, compreender porque ele e Ben são como irmãos, quase nunca vistos longe um do outro. 

Foi bom também para entender que durante minha ausência houve alguém para preservar em Ben o garotinho que eu havia deixado para trás.

Quando a luta acabou tivemos que arrastar Solo carro a dentro. Seu nariz estava quebrado, um rastro do seu sangue descia em vermelho vivo até a boca, e havia um corte acima da sua sobrancelha, além do maxilar vermelho de alguns prováveis vários socos que deixariam a marca, e o mais estúpido de tudo foi que mesmo quando o mundo parecia ter cuspido em seu rosto Ben sorriu para mim com seus lábios pingando sangue e disse: "Eu ganhei a garota".

Depois de uma ida a emergência, pontos em quase o rosto todo, uma mão enfaixada e uma quase ida a delegacia, paramos em casa pouco antes do sol nascente atravessar a janela do meu quarto. Dei um beijo na bochecha dele, e ele se despediu temporariamente, louco por um banho. Holdo estava dormindo, e Hux e Rose estavam no mesmo lugar onde eu os havia deixado ─ tudo até então certo para dar errado. 

Last Hope • Reylo! AUOnde histórias criam vida. Descubra agora